Título: Rentabilidade das reservas é a segunda pior em oito anos
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Fonte: Valor Econômico, 13/08/2010, Finanças, p. C9

A rentabilidade das reservas cambiais brasileiras foi de apenas 0,83% em 2009, valor bem inferior ao resultado médio (5,61% ao ano) obtido nos últimos oito anos e o segundo pior desempenho nesse período. O percentual é bem menor também que o custo implícito da dívida pública federal no ano passado - em torno de 14,5%.

A queda da rentabilidade foi provocada pela decisão do Banco Central (BC) de reduzir o grau de exposição das reservas a risco cambial e pela diminuição das taxas de juros dos papéis comprados pelo país lá fora.

As taxas de títulos do Tesouro americano, por exemplo, caíram aos níveis mais baixos em 30 anos. Em 2008, o retorno das reservas foi de 9,33% e, no ano anterior, de 9,35%.

Em 2009, o volume de reservas aumentou 15,6%, atingindo US$ 239,05 bilhões em 31 de dezembro. De lá para cá, já cresceu mais US$ 20 bilhões, contabilizando no dia 11 US$ 259,6 bilhões. Ontem, ao divulgar o Relatório de Gestão das Reservas Internacionais, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Luiz Mendes, informou que a instituição continuará comprando reservas.

"O BC entra no mercado buscando retirar a liquidez excedente, que pode ser maléfica na formação de preços. Muitas vezes, o mercado atua olhando não o fato, mas em cima da expectativa futura", explicou Mendes, referindo-se à antecipação quanto ao fluxo futuro de entrada de capitais. "O BC, da mesma forma, tem que fazer a antecipação. É o que está acontecendo agora."

O diretor disse que pode voltar a realizar leilões de contratos de "swap cambial reverso", mas assegurou que, neste momento, não vê "necessidade" de fazer isso. Esses contratos funcionam, na prática, como uma compra de dólares no mercado futuro. O leilão ajuda a valorizar a moeda americana. Preocupado com a apreciação da taxa de câmbio, o Ministério da Fazenda tem defendido a realização desses leilões. "A condição [para fazer swap cambial] hoje não existe. Se existisse, estaríamos fazendo", disse Mendes.

Na gestão das reservas, o BC procura casar ativos com o passivo externo público e privado do país. De 2008 para 2009, reduziu de 89,1% para 81,9% os investimentos em dólar e de 9,4% para 7% as aplicações feitas em euro, graças ao encolhimento da dívida do país nessas moedas. Em compensação, elevou, de 1,5% para 11,1%, o portfólio em libra esterlina, dólar canadense e dólar australiano.

Nesse caso, as aplicações foram feitas com os recursos que excedem aos compromissos do país com o exterior.

"Canadá e Austrália têm uma situação fiscal estável e economias com um desempenho melhor que o dos EUA e a Europa. No caso da libra, aumentamos a exposição como alternativa ao euro", observou.

Adotando uma postura mais conservadora na gestão dos ativos, o BC aumentou, entre 2008 e 2009, os investimentos das reservas em títulos soberanos de 78,5% para 89,8% e diminuiu, de 13% para 4%, no caso dos papéis emitidos por entidades supranacionais. O prazo médio dos investimentos, por sua vez, caiu de 3,04 anos para 1,63 no mesmo período.

O risco de mercado, medido pelo Valor em Risco (VaR) e que avalia o potencial de perda máxima num cenário negativo, diminuiu de 8,42% em 2008 para 4,12% no ano passado. Embora tenha reduzido o grau de exposição a risco de crédito bancário nos últimos anos, em 2009, o BC o elevou ao aplicar US$ 3,073 bilhões em bancos internacionais com classificação de risco "AAA" e US$ 5,6 bilhões em instituições supranacionais, face a US$ 1,045 bilhão e a US$ 990 milhões, respectivamente, em 2008.

Com a decisão do banco central americano (Federal Reserve) de voltar a comprar títulos do Tesouro dos EUA, mantendo seus passivos na casa de US$ 2 trilhões, o custo de carregamento das reservas brasileiras crescerá. Esse custo é justamente a diferença entre os juros dos papéis do governo americano nos quais o BC investe as reservas e a taxa básica de juros (Selic), além da variação cambial. (Colaborou Cristiane Perini Lucchesi)