Título: Torço para o êxito dele, diz Ciro
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2010, Política, p. A4

Sem fumar há quase um ano e com oito quilos a mais, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) é hoje o administrador de uma grande "indústria", que tem mais de 2 mil funcionários contratados (temporariamente), uma sede em Fortaleza que ocupa duas casas alugadas, coladas entre si, e 68 filiais pelo Ceará. Essa empresa, ou melhor, esse comitê eleitoral, é responsável pelas campanhas de Dilma Rousseff (PT) a presidente, do governador Cid Gomes (PSB) à reeleição e dos deputados Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT) para as duas vagas de senador.

Ciro, que trocou o cigarro pelo narguilê, cachimbo de água comum no norte da África, no Oriente Médio e no sul da Ásia, está à vontade no comando da estrutura, que ele mesmo diz funcionar como uma indústria. "Pela primeira vez temos um comitê unificado, dos candidatos a presidente, a governador e às duas vagas de senador. Todas as tarefas são unificadas e tudo é decidido aqui, em conjunto", afirma.

A foto de Dilma estampada no material que lota o almoxarifado comprova que Ciro está, ao menos formalmente, empenhado na campanha dela a presidente. Ontem, eram 8 milhões de santinhos, oito tipo de cartazes (150 mil de cada tipo), 60 mil adesivos, botons e bandeiras. Tem Dilma sozinha, Dilma com Cid e Dilma com os candidatos a senador. Para não haver ciúme, há fotos dos candidatos a senador tanto no lado esquerdo quanto no direito de Dilma. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também aparece em parte do material, assim como o próprio Ciro. Em alguns modelos, estão todos juntos, os seis.

Ciro também pede voto para Dilma nos comerciais do programa horário eleitoral gratuito, que já gravou e vão ao ar a partir de hoje. Pede voto sem destacar suas qualidades, como faz com o irmão Cid. "Estou engajado na campanha da Dilma no Ceará. Sou muito amigo dela e acho importantísssmo que ganhe. Apenas perdi a magia com a questão do PT, da aliança com PMDB", diz o deputado, referindo ao fato de o PSB tê-lo feito desistir da candidatura a presidente.

"Fiquei machucado, me senti feito bobo. Não por Lula, mas pelo meu partido, que cometeu um erro. Não esqueço jamais. Mas não sou de toldar [misturar] a água para beber. Você deixa decantar e toma a de cima, que está limpa. Deixa a parte suja embaixo em baixo a parte pior."

Com orgulho, Ciro mostra a estrutura na qual funciona o comitê central da campanha majoritária em Fortaleza. De lá, saem as orientações e o material para todos os 68 comitês espalhados pelo Estado. Os 2.145 funcionários (militantes profissionais) são contratados por 80 dias. Somente na capital, são 300 militantes. A maioria ganhando salário mínimo. Menos 30% deles, segundo Ciro. Ele não assina nada. Não é o coordenador formal da campanha. Mas é quem define estratégias da campanha e se reúne com aliados.

Diariamente, é realizada uma reunião geral às 8h30 para tratar de mobilização, estratégia e distribuição de material. "É quando cada um diz o que está fazendo. O objetivo é que ela dure cada vez menos", diz Ciro. A campanha declarou que irá gastar R$ 39 milhões. No comitê, há salas para os comitês feminino, da juventude, empreendedores e movimento comunitário.

Há gerador de energia próprio e dois servidores de internet, funcionando de forma sincronizada, de tal forma a nunca deixar o sistema fora do ar. Em Fortaleza, a "indústria" conta com 70 carros nas ruas. Estão acomodados na sede a assessoria jurídica, a coordenação política, a imprensa, a tesouraria, a contabilidade, a equipe que cuida dos eventos, a que cuida das viagens e o grupo encarregado da campanha nas redes sociais.

Ciro Gomes chama a atenção para duas salas, cada uma reservada para um dos candidatos ao Senado, Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT).

O material em conjunto, as salas no comitê e os pedidos de voto feitos por Ciro não escondem o que todo cearense diz: haverá vaga para apenas um deles, já que a reeleição do senador Tasso Jereissati (PSDB) é considerada certa.

Amigo de Tasso há mais de 24 anos, período em que foram aliados políticos - a ponto de o senador tucano apoiá-lo para presidente em 2002 e não ao então candidato do PSDB, José Serra -, Ciro reconhece o afastamento político, que atribui apenas às circunstâncias nacionais. Mas não esconde: "Não sou só amigo do Tasso. Torço para o êxito dele. Torço pelo sucesso dele. Mas a campanha que estou ajudando a fazer é para Dilma, Cid e para os dois senadores da chapa". (RU)