Título: Alta de 0,5 ponto da Selic entra no radar do mercado
Autor: Pinto , Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2010, Finanças, p. C3

Se economistas mantêm, de forma unânime, a previsão de que a Selic voltará a subir em 0,75 ponto na semana que vem, o mesmo não acontece no mercado de juros. Investidores começaram, esta semana, a colocar fichas na aposta de que o aperto monetário pode ser mais brando, já a partir do próximo encontro. O movimento ficou mais nítido na terça-feira, dia em que o giro de negócios foi inflado e os juros projetados ingressaram em uma trajetória declinante. Assim, a curva de juros, que precificava até a semana passada duas altas de 0,75 ponto percentual e uma de 0,50 ponto este ano, tinha ontem taxas compatíveis com uma alta de aproximadamente um ponto percentual, no total.

Segundo relato de profissionais, o mercado começou a mudar de posição na terça-feira, sob o impacto de uma série de indicadores econômicos mais fracos. Entre eles, as vendas no varejo de maio, vendas de papelão ondulado de junho e desempenho da indústria automobilística de junho. Esses números sugeriram que a produção industrial de junho pode vir negativa e que o PIB no segundo trimestre tende a mostrar uma expansão mais branda.

Entre economistas, entretanto, há dúvidas se esses indicadores são pontuais ou se revelam, de fato, uma trajetória de desaceleração consistente da economia. Isso justifica a manutenção das projeções oficiais das instituições. Mas, no mercado, onde as previsões representam ganhos ou perdas financeiras, a ordem foi ajustar posições.

O DI com vencimento em janeiro de 2011, que concentra as apostas para o rumo da Selic até o final deste ano, teve seu giro elevado na terça-feira para mais de 600 mil contratos e a taxa reduzida para menos de 11,30% - importante nível de suporte do mercado. Ontem, o movimento foi de 438 mil contratos e a taxa encerrou o dia em 11,15%

O volume de contratos em aberto, na terça-feira, cresceu em 39 mil contratos, confirmando que o movimento refletiu um aumento nas apostas do mercado, de que os juros podem subir menos do que o previsto. "O mercado está se protegendo da possibilidade de o Copom reduzir o passo na reunião da semana que vem ou de deixar algum sinal de que o ciclo está perto do fim, seja por meio do comunicado, seja por um placar dividido", afirma um operador.

Ainda na terça-feira, não passou despercebido forte aumento na demanda por Letras do Tesouro Nacional (LTN) no mercado secundário. Cresceram consideravelmente as ordens de compra de LTN com vencimento em janeiro de 2011, usadas como hedge para posições de DI com vencimento semelhante. Operadores também identificaram maior interesse por LTN com vencimento em julho de 2011 e janeiro de 2012. Esses vencimentos garantiam, no dia, retorno de 11,25% a 11,85% ao ano --taxas consideradas expressivas caso o ciclo de aperto monetário seja mais brando.