Título: Petróleo estável dá espaço para resina verde
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2010, Empresas, p. B8

Depois de atingirem pico de alta dos preços em julho de 2008, batendo perto dos US$ 150 por barril, as cotações do petróleo estacionaram, dois anos depois, em patamares entre US$ 75 e US$ 80. Analistas ouvidos pelo Valor acreditam em nova retomada, mas dizem que ainda é cedo para saber o momento da alavancada, uma vez que os fundamentos indicam uma lenta recuperação da economia nos EUA e da União Europeia neste ano, além de um ritmo de crescimento da China abaixo do esperado.

Ao contrário do movimento observado em outras commodities, como as de metais, que seguem atreladas ao dólar, o petróleo está vinculado aos fundamentos.

O impacto dos preços estáveis do barril do petróleo, entre US$ 75 e US$ 80, com oscilação tímida, de no máximo US$ 5 para cima ou para baixo, é extremamente positivo, sobretudo considerando os custos para a cadeia petroquímica, e também para a produção de resinas verdes a partir do etanol, que fica economicamente viável com o barril nesses atuais patamares. No curto prazo, as temporadas de furacões nos EUA, que podem trazer incertezas sobre a região do Golfo, poderão ser um fator altista para os preços do petróleo.

"Nos primeiros meses de 2008, a economia global estava em um ritmo de aquecimento que há muito tempo não se via, demandando energia. O cenário era de crescimento elevado, com restrição de oferta, não de escassez. Os investidores financeiros estavam inflando os preços de todas as commodities", disse Lucas Brandley, analista da Geração Futuro. Com a crise, os preços chegaram ao fundo do poço, atingindo a mínima em 18 de fevereiro de 2009, com o barril do WTI a US$ 37,41 (segundo contrato), e se estabilizaram nesses atuais patamares - US$ 75 a US$ 80.

Embora a economia mundial tenha ganhado impulso este ano em relação a 2009, período influenciado pela turbulência financeira global, a lenta recuperação dos EUA e a instabilidade na Europa continuam como os principais fundamentos para a pouca mobilidade das cotações do petróleo, de acordo com a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

"O mercado de petróleo vai ficar em função dos fundamentos. As expectativas estão postas a partir de 2011, com a possível recuperação mundial da economia", afirmou Tom Bentz, do BNP Paribas, uma dos principais analistas mundiais de petróleo.

Se levar em conta somente os fundamentos, para este ano é esperado um crescimento econômico global de 3,9%, enquanto a demanda global por petróleo mantém-se praticamente inalterada, com avanço de apenas 1%, segundo estimativas da Opep. Para 2011, cujo crescimento global é estimado em 3,7%, a demanda por petróleo do mundo deverá crescer na mesma proporção de 2010, refletindo o cuidado continuado sobre o ritmo de recuperação econômica global (ver quadro acima).

Países como Brasil, Canadá, Azerbaijão, Colômbia, Cazaquistão, que não estão entre os maiores "players" de suprimento de petróleo, terão uma participação significante na produção local, segundo a Opep, enquanto participantes relevantes, como México, Reino Unido e Noruega deverão apresentar declínio. Todo o crescimento deste ano na demanda por petróleo vai ser atribuído aos países não-membros da OCDE.

As previsões de crescimento econômico mundial entre 2010 e 2011 refletem alguma cautela. As economias dos países da OCDE, enfrentam o dilema em 2011, que estabelece medidas de austeridade na maioria das economias em um momento de baixo crescimento continuado. Os países em desenvolvimento continuarão como principais vetores do crescimento. O governo chinês está implementando medidas para evitar o superaquecimento da sua economia em rápida expansão. O ritmo de crescimento da Índia também deverá abrandar ligeiramente em 2011. O desempenho do Brasil tem surpreendido, beneficiado da melhoria das commodities.

Dados da Agência Internacional da Energia (AIE) indicam que o consumo global de petróleo em 2010 chegará aos 86,6 milhões de barris/dia, aumento de 1,8 milhão ou, 2,2% com relação a 2009. Para 2011, a expectativa é que chegue a 87,9 milhões, 1,3 milhão a mais, ou 1,5%, sobre 2010. As previsões são com base nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), que indica crescimento econômico de 4,5% para este ano, e de 4,3% para 2011.

As expectativas sobre a substituição gradual de combustíveis fósseis por energias alternativas, apesar de grandes iniciativas, como as do Brasil e dos EUA, que estimulam a produção de etanol, e também a nova onda dos carros elétricos são vistas com bons olhos no mercado - uma vez que há um consenso global sobre a chamada economia de "baixo carbono". No entanto, essas opções são vistas ainda como um complemento. "As iniciativas são grandes, mas a base ainda é muito pequena", afirmou Brandley.

Com isso, o petróleo se mantém como principal matriz energética. Mas custos para exploração do petróleo em águas profundas, hoje entre US$ 60 e US$ 70 por barril, segundo fontes de mercado, devem ter um significativo aumento, por conta do acidente de vazamento de óleo da British Petroleum nos EUA. "As preocupações com segurança mudaram", ponderou Plínio Nastari, da consultoria Datagro.

"A matriz energética global ainda é pautada pelo petróleo, apesar das inúmeros previsões de fim das reservas. A Arábia Saudita, a maior produtora e exportadora global, tem reservas, o mesmo aplica-se à Venezuela, seguidos por Irã, Iraque, Kwait, Emirados Árabes. Novas explorações, em países como Canadá e Brasil, com o pré-sal, ainda são vistas com cautela. Na região do Canadá e Alasca trabalha-se com petróleo em gelo, em ambiente inóspito, o que traz desgaste de equipamentos. Quanto ao pré-sal brasileiro, o mercado aguarda maior desenvolvimento tecnológico para avançar nas perfurações.