Título: Gratz ameaça voltar à cena política com candidatura ao Senado
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2010, Política, p. A10

de Vitória

Considerado por muitos setores políticos e empresariais como o inimigo público nº 1 do Espírito Santo, o ex-deputado estadual José Carlos Gratz, 62, ex-bicheiro e ex-dono de cassino e de bingos, que presidiu a Assembleia Legislativa do Estado por três mandatos seguidos, até 2002, está de volta à cena política. Após ter seu mandato cassado naquele ano pela Justiça Eleitoral, sob acusação de irregularidades para fins eleitorais no asfaltamento de ruas do município de Vila Velha (Grande Vitória), é candidato ao Senado pelo pequeno PSL.

Gratz já teve seu registro impugnado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), com base na Lei da Ficha Limpa, e não espera melhor sorte no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas disse ao Valor que só desistirá se o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitar sua ação de inconstitucionalidade contra a Lei da Ficha Limpa. Ele prometeu "rasgar a Constituição federal" se o STF confirmar a sua inelegibilidade. Gratz diz que não tem sentença transitada em julgado e que a Lei da Ficha Limpa não poderia vigorar no mesmo ano da sua promulgação.

Gratz esteve preso por três vezes após 2002, somando quase um ano e meio de reclusão. Responde a mais de uma centena de processos -segundo ele mesmo, "mais de 200"- sob as mais variadas acusações, entre elas a de participação em desvio de R$ 27,7 milhões da Assembleia Legislativa do Estado, mas afirma ser inocente em todas elas e promete usar seu tempo no horário eleitoral gratuito, que batizou de "Verdades em Um Minuto" para provar com documentos sua inocência e mostrar quem são os verdadeiros culpados.

Em entrevista concedida na sua cobertura triplex no bairro da Praia do Canto, espécie de Ipanema de Vitória, declarado à Justiça Eleitoral pelo valor de R$ 39.021,68, Gratz se disse vítima de perseguição do governador Paulo Hartung, associado ao Ministério Público e a "uma parte" do Judiciário do Estado.

"Quero frisar que não sou adversário dele (Hartung), sou inimigo. Ser inimigo é coisa que não tem conserto. O adversário você pode, na frente, ter um entendimento. Ele tentou me humilhar. Eu sou nascido e criado nesta terra e não vou levar essa desfeita para casa. Portanto, eu e o Paulo Hartung um dia teremos um encontro bem sério", afirmou. Questionado sobre o que queria dizer com "encontro bem sério", respondeu: "Por exemplo, no dia em que ele perder o poder, se eu encontrar com ele eu lhe planto a mão na cara", respondeu.

A história política e econômica recente do Espírito Santo credita a Hartung o mérito por ter retirado o Estado da quase bancarrota - assumiu em 2003 com quase meio ano de salários do funcionalismo atrasado e recuperou a sua capacidade de investir - e de ter contribuído para a sua moralização institucional. Gratz, considerado por muitos como um dos principais responsáveis pelos problemas institucionais que o Estado enfrentou, diz que é vítima de perseguição, mas reconhece a boa gestão do seu "inimigo".

"Paulo Hartung é meu inimigo, mas está fazendo uma bela administração no Espírito Santo. Não tem nenhuma obra importante, mas o feijão com arroz ele está fazendo bem", afirma. Afável, de conversa simples e sem papas na língua, Gratz não desmente no contato superficial o bordão "conheceu ficou amigo", difundido a seu respeito no Estado. A exceção das acusações de irregularidades na vida política, não nega o passado.

"Eu era banqueiro de jogo do bicho e de bingo. Fui banqueiro de jogo do bicho até 1989. No dia em que um governador que o jogo do bicho ajudou a bancar não cumpriu um trato e me prendeu por uma semana eu larguei a contravenção e entrei para a política. Eu nunca tive um processo quando era contraventor. Agora tenho mais de 200", afirmou. Gratz diz que na época que era bicheiro foi também dono de cassino, outra atividade ilegal, mas ressalta que a propriedade de dois bingos, mais recente, foi totalmente legal, autorizada pela Caixa Econômica Federal (CEF).

"É mais fácil eles encontrarem uma agulha no oceano Atlântico, a dez mil metros de profundidade, do que alguma coisa contra mim. Não encontram nem uma bicicleta", afirma, dizendo que empobreceu durante seus quatro mandatos de deputado estadual, sempre pelo PFL (hoje DEM). Gratz diz que hoje vive como corretor de imóveis e que sua mulher (advogada) e os dois filhos, que moram com os pais, também trabalham para viver. À Justiça Eleitoral declarou patrimônio de R$ 484.317,68.

Além de lançar a própria candidatura ao Senado, lançou também a sua mulher, Rita Gratz, a deputada estadual. "Ela é candidata eleita", afirma. Disse que optou por disputar uma cadeira no Senado, reconhecendo ser mais difícil de obter sucesso, porque como deputado estadual não teria tempo suficiente de TV para dizer o que pretende. Mesmo assim, afirma que "se tudo der errado" terá 600 mil votos. Na pesquisa do Ibope realizada no final de julho estava em quarto lugar, com 7% dos votos. O Espírito Santo tem 2,523 milhões de eleitores.

Na política nacional, Gratz critica Dilma Rousseff, candidata do PT, pelo passado de militância esquerdista. "E se ela voltar a ser Estela (codnome da candidata quando militava na organização de esquerda VAR-Palmares)", Pergunta? Elogia José Serra, do PSDB, mas diz que votará, com toda a família, em Marina Silva (PV). Critica o governo petista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - "odeio socialista idiota" - e seu carro-chefe na política social. "Pelo que estou vendo, essa Bolsa Família vai criar nos próximos anos pelo menos 30 milhões de moleques preguiçosos", afirmou.