Título: Para Cid, só aliança do PT com tucanos conterá PMDB
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 25/08/2010, Especial, p. A12

O governador Cid Gomes (PSB) defende a reaproximação do PT com o PSDB num eventual governo de Dilma Rousseff (PT), como estratégia para reduzir o peso do PMDB - partido do vice, deputado Michel Temer (SP). Num cenário de vitória da candidata petista a presidente, Cid prevê que o ex-governador Aécio Neves, sendo eleito senador por Minas Gerais, torne-se o principal líder do PSDB e faça a ponte com o PT.

"Para o Brasil ter mais estabilidade no governo, se faz necessário que essa polarização, esse acirramento de ânimos entre PT e PSDB, arrefeça . Isso foi tentado no governo do PSDB, mas houve intransigência do PT. Depois, foi tentado no governo [Luiz Inácio] Lula [da Silva], e aí houve intransigência do PSDB. Acho que o Aécio deve assumir a condição de líder absoluto do PSDB e ele é sensível a essa estratégia", afirma Cid.

Para o governador, candidato à reeleição numa aliança que conta com PT e PMDB, a reaproximação com os tucanos será importante caso Dilma vença, para "atenuar o risco" de o governo ficar refém dos pemedebistas, especialmente pelo perfil do vice, que preside o PMDB e a Câmara dos Deputados.

"Ter um vice com aspirações, ambições, é um risco sempre. Eu tive aqui uma grande sorte de ter um vice absolutamente leal (Francisco Pinheiro, do PT), como o Lula teve o José Alencar (PRB). Michel tem outro perfil. É um cara de ambições, não tão discreto. Não sei se compreenderá o papel."

Por meio da assessoria, Temer afirmou que seu perfil pode ser considerado menos discreto do que o de Alencar em decorrência da própria carreira e do fato de ser presidente da Câmara e do partido. Quanto ao exercício da Vice-Presidência, lembrou que as atribuições são definidas pela Constituição (substituir o presidente em caso de impedimento e sucedê-lo, em caso de vaga, além de "missões especiais" para as quais seja convocado pelo presidente).

Cid lembra que a afinidade histórica entre PT e PSDB é maior que a existente entre esses partidos e seus respectivos maiores aliados, PMDB e DEM. Diz que a disputa entre petistas e tucanos tem origem em São Paulo, na briga entre suas principais lideranças, que estimulariam o acirramento nacional. "Essa disputa com o PSDB é que valoriza a importância do PMDB. Essa intransigência obriga qualquer partido que esteja no governo a buscar apoio no PMDB", avalia Cid.

Sob o aspecto ideológico, o peso do PMDB num futuro governo Dilma não preocupa o governador, porque ele considera o partido dividido em núcleos regionais e sem "uma linha hegemônica". Além disso, ele aposta no "diálogo maior" com o PSDB e no fortalecimento do seu próprio partido, o PSB, para equilibrar as forças.

A se manter o cenário apontado pelas pesquisas para os governos estaduais, o PSB tende a reeleger o próprio Cid e o governador Eduardo Campos em Pernambuco, e a eleger o senador Renato Casagrande no Espírito Santo. Também tem candidatos competitivos no Piauí (o governador Wilson Martins) e na Paraíba, Ricardo Coutinho.

"Podemos também dobrar nossa bancada na Câmara e no Senado. Isso aumenta o peso do PSB, que pode ampliar sua participação [no governo]. Não por generosidade. Vamos nos fortalecer pelas urnas, que é o melhor caminho", diz.

Cid evita criticar o PSB por ter impedido a candidatura do seu irmão, o deputado federal Ciro Gomes, à Presidência da República. Considera ter sido uma decisão pragmática, para facilitar alianças com o PT em torno das candidaturas de Campos, Casagrande e Martins.

"O PSB valorizou mais as questões regionais em detrimento da possibilidade de o partido crescer por uma candidatura nacional. Vai ser sempre difícil diagnosticar se a decisão foi certa ou errada. Para o Casagrande foi certíssima. Para o próprio Eduardo, deu mais tranquilidade para consolidar a aliança com o PT", afirma. Ele próprio não se considera beneficiário da decisão já que, acredita, poderia contar com o PT independentemente do quadro nacional.