Título: Impasse político bloqueia reformas e mina a economia
Autor: Luhnow , David
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2010, Internacional, p. A9

Um impasse político provavelmente continuará bloqueando a iniciativa do presidente Felipe Calderón de promover grandes reformas econômicas antes das eleições em 2012, frustrando os esforços do México de revitalizar uma economia estagnada e de alcançar seus rivais latino-americanos.

O México pode ser a segunda maior economia na região, mas está perdendo terreno para países como Brasil e Chile, em parte porque, devido a disputas políticas, não foram aprovadas reformas do sistema político ingovernável e das obsoletas leis tributária, energética e trabalhista.

"O crescimento não vai decolar sem as reformas", afirmou Juan Bueno, senador do conservador Partido da Ação Nacional (PAN), de Calderón. "A política está nos segurando".

Ao assumir o cargo, em 2006, Calderón prometeu modernizar a economia mexicana, mas os planos de grandes reformas foram torpedeados pelo fato de o PAN não dispor de uma maioria no Congresso e devido ao crescente antagonismo político, agravado pela guerra sangrenta que Calderón trava contra os cartéis de drogas e que já deixou mais de 28 mil pessoas mortas.

Agora, quando os três principais partidos no México voltam suas vistas para as eleições de julho de 2012, até mesmo parlamentares do partido do presidente admitem serem escassas as probabilidades de um Congresso dividido aprovar reformas significativas.

"Nenhum partido político quer se empenhar na aprovação [das reformas]", disse Julio Castellanos, vice-líder do PAN na Câmara dos Deputados, onde o partido de Calderón está discutindo a possibilidade de realizar manifestações de protesto e greves de fome para aumentar o grau de conscientização sobre o impasse político.

Décadas de baixo investimento em educação, energia e infraestrutura pública prejudicaram a economia mexicana e levaram milhares de mexicanos a buscar trabalho nos EUA.

Na década passada, a economia cresceu, em média, 1,9% ao ano, em comparação com 3,7% no Chile e 3,3% no Brasil.

Os problemas por trás desses números são muitos: apesar de o México ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo, as empresas queixam-se do custo elevado da eletricidade e do gás natural. Restrições à demissão de trabalhadores deixam as empresas inseguras quanto à contratação de novos trabalhadores.

Pouco foi feito para reformar a economia mexicana desde que o PAN chegou ao poder, em 2000, com Vicente Fox, pondo fim a mais de 70 anos de governo do Partido Revolucionário Institucional (PRI).

No próximo mês, quando o Congresso voltar das férias de verão, Calderón poderá propor uma reforma tributária para enfrentar o temor quanto à solvência do Estado no longo prazo, mas o PRI prometeu bloquear quaisquer planos que tributem alimentos e medicamentos, uma ideia central na agenda fiscal de Calderón.

Até o PAN vê pouca chance de sucesso. "A reforma tributária está perdida, porque os partidos estão todos pensando em 2012", diz Bueno. "Por que propor algo que já nascerá morto"?

Seja quem vencer a eleição presidencial em 2012, o México poderá necessitar de uma reforma política, bem como de políticas para criar empregos e ressuscitar o seu setor petrolífero.

Analistas dizem que um problema fundamental é o sistema político, que não prevê a responsabilização dos políticos e proíbe a reeleição de todos - de vereadores ao presidente.

"Isso incentiva os políticos a focar o curto prazo, e não o longo prazo, porque, haja o que houver, eles [os ocupantes de cargos eletivos] logo irão embora", disse o cientista político Federico Estevez. "E para continuar a avançar [na política], pode ser melhor não criar muito atrito."

Essas condições fomentam um partidarismo entranhado, que contrasta com as coligações de governo comumente formadas no Brasil e no Chile. "Eles precisam definir novas regras do jogo, para que as coisas avancem", disse Luis Rubio, que chefia o Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento, na Cidade do México.