Título: Recuperação fica nos trilhos, dizem BCs
Autor: Hilsenrath, Jon; Di Leo, Luca
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2010, Finanças, p. C5

The Wall Street Journal, de Jackson Hole, EUA

Banqueiros centrais antigos e atuais de vários países disseram que a irregular recuperação mundial da economia deve ficar nos trilhos, apesar das preocupações com a vitalidade da economia americana. Na reunião anual patrocinada pelo Federal Reserve, o banco central americano, foi a ansiedade, e não o pânico, o sentimento que predominou entre autoridades e economistas desanimados por uma profunda recessão e uma recuperação decepcionante. "Vamos nos arrastar para sair disso", disse Thomas Hoenig, presidente do Fed de Kansas City, resumindo dois dias de apresentações e discussões durante jantares e caminhadas pela natureza.

Vários banqueiros centrais de outros países dizem que ficaram impressionados com o grau de pessimismo que viram nos EUA, em contraste com o típico otimismo. "Mal posso esperar para voltar para o meu canto do mundo", disse Alan Bollard, presidente do Banco da Reserva da Nova Zelândia. O crescimento no país, previsto em cerca de 3% este ano e no próximo, tem sido sustentado pelas economias da Austrália e da China.

As autoridades do Fed estão envolvidas num debate entre fazer mais ou não para impulsionar o crescimento e evitar que a já baixa inflação caia ainda mais. A principal alternativa - descrita pelo presidente do Fed, Ben Bernanke, num discurso na sexta-feira - seria voltar a comprar títulos de longo prazo para diminuir ainda mais os juros de longo prazo. O Fed já comprou US$ 1,7 trilhão em títulos do Tesouro e hipotecários, e os juros de longo prazo estão no nível mais baixo em décadas.

Numa discussão animada no sábado, Charles Bean, vice-presidente do Banco da Inglaterra, que tentou uma iniciativa parecida ano passado, afirmou que essas compras podem ser um meio eficiente de diminuir juros e impulsionar o crescimento. Mas ele disse que elas só devem ser empregadas em situações gaves. "As compras de ativo provavelmente devem ser mantidas numa caixa escrito "Só para uso em emergências"", disse Bean.

Alan Blinder, professor da Universidade de Princeton e ex-vice-presidente do Fed, retrucou: "Não vamos fechar a caixa de Pandora tão cedo", disse, se referindo às compras do Fed, que prevê que devem recomeçar nos próximos meses. Blinder argumentou que elas são necessárias diante do estado débil da economia. Outras autoridades disseram nos bastidores que não têm tanta certeza se a retomada do programa do Fed vai ajudar. Michael Mussa, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, disse que os banqueiros centrais, com suas tentativas tão agressivas de controlar os altos e baixos da economia, podem ter adoentado demais o paciente para que seus remédios funcionem.

Mas a maioria dos outros participantes em Jackson Hole endossaram a visão de Bernanke, de que a economia americana vai voltar a crescer moderadamente em 2011 após se arrastar no segundo semestre deste ano. "O desenlace mais provável é que o mundo deve continuar se recuperando moderadamente", disse John Lipsky, vice-diretor gerente do FMI. O Fundo deve ajustar levemente suas previsões. "Prevíamos que haveria alguma perda de fôlego no segundo semestre", disse ele. "Se houve mudança é que os mercados emergentes estão ainda mais saudáveis que prevíamos e os dados mais recentes da Europa estão melhores."

Uma das maiores preocupações dos banqueiros centrais é o pesado endividamento dos governos em todo o mundo. Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos e ex-presidente do Banco Central do Brasil, disse: "É o problema para os próximos dez anos."