Título: Serra acusa petistas de usar mesma arma de Collor em 1989
Autor: Taquari, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2010, Política, p. A8

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, acusou o PT e a campanha de Dilma de cometerem dois crimes no caso envolvendo a quebra do sigilo de sua filha. Segundo o tucano, o primeiro refere-se à própria invasão dos dados por servidores da Receita Federal. O segundo, ressaltou, é de falsidade ideológica, já que sua filha não teria assinado nenhum tipo de procuração que assegurasse a quebra do sigilo, conforme justificado pelo órgão.

"Eu só lamento que a política brasileira tenha chegado a um nível tão baixo e tão sujo a ponto de mexer com a minha família. Minha filha é uma mulher que tem três filhos, trabalho e nunca teve nada com política e relação com o governo", disse Serra, após receber o apoio de dissidentes de entidades sindicais, como CTB, Nova Central e Força Sindical.

As três centrais já declaram apoio à candidatura de Dilma. No evento também estavam presentes integrantes da UGT, que liberou seus afiliados nas eleições gerais. Para o candidato do PSDB, o PT tenta repetir com ele o mesmo que Fernando Collor fez com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha ao Palácio do Planalto em 1989. Na ocasião, Collor expôs a condição de Lurian, filha do petista com Miriam Cordeiro. A campanha do ex-presidente chegou a insinuar na época que Lula teria pedido para a ex-namorada realizar um aborto.

Ao responsabilizar o PT pela quebra do sigilo, o tucano disse que os adversários agem com fins eleitorais. No entanto, não apontou provas de que os petistas estariam por trás das acusações. "O PT sempre faz assim: apronta, faz algo sujo e depois vem com outra versão."

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), defendeu o afastamento do secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo. Para o tucano, o órgão perdeu a isenção e credibilidade após as denúncias de quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra. Os dados fiscais de mais três pessoas ligadas ao PSDB, além do vice-presidente do partido, Eduardo Jorge, também foram monitorados.

Guerra acusou Cartaxo de mentir para a população e partidarizar a Receita. "O secretário-geral tem que ir embora. Ele não pode mentir e se prestar a esse jogo. A Receita não é para fazer condução partidária para ninguém. Os aloprados estão espalhados por todo lugar, até na Receita. Não são punidos e nem denunciadas", afirmou. O presidente do PSDB ainda desqualificou a ideia de que as violações teriam sido elaboradas por um grupo especializado em produzir e vender dossiês.

Assim como Serra, Guerra responsabilizou o PT e a campanha da adversária Dilma Rousseff de estarem por trás do caso. A presidenciável, avaliou o tucano, evita o assunto e quando se manifesta, apenas oferece palavras de "distanciamento". Apesar da veemência nas acusações, Guerra reconheceu que o partido não tem provas concretas contra Dilma e o PT. "Não temos acesso às investigações para termos as provas", justificou. Segundo ele, os funcionários da Receita apontados pelas investigações como os responsáveis pela quebra dos sigilos são "bois de piranha".