Título: Violência ronda empresas brasileiras, mas não inibe investimento no México
Autor: Marcos de Moura e Souza
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2010, Internacional, p. A16

de São Paulo

Na segunda-feira, uma confusão parou um shopping center da Cidade do México. "Aqui está um pânico, todo mundo apavorado", contou, nervosa, por telefone uma das funcionários da loja da Via Uno, marca brasileira de calçados, ao diretor da empresa no país, Elias Perin. O motivo do caos: o contador de um chefão do narcotráfico mexicano conhecido como La Barbie acabara de ser assassinado pela polícia em pleno dia perto do shopping Perisur, após uma perseguição pelas ruas da capital.

"Até dois ou três anos atrás, a violência envolvendo os narcos se limitava a três ou quatro cidades no norte, na região da fronteira. Mas, com a pressão do governo, a violência está chegando a outros lugares, até aqui na Cidade do México. Agora não tem cidade que possa ficar tranquila", disse Perin, 43, que está há 8 anos no México. A Via Uno tem 19 lojas no país.

Executivos de empresas brasileiras com filiais no México ouvidos nos últimos dias pelo Valor dizem que a violência começa a pôr em risco seus clientes e, em alguns casos, a representar uma ameaça a eles mesmos. A explosão dos casos de assassinatos e as investidas do crime organizado já afetam a economia e dos negócios do país, entre eles o de alguns brasileiros.

A fabricante de ônibus Marcopolo tem desde 1999 uma fábrica no México, em joint-venture com a Mercedes Benz. A planta fica em García Nuevo León, município vizinho a Monterrey, centro industrial do país. Em agosto, os EUA recomendaram que seus diplomatas tirassem familiares de Monterrey, após homens armados - supostamente a serviço do narcotráfico - terem atacado seguranças de uma empresa em frente à escola onde filhos de diplomatas estudam.

Funcionários da Marcopolo não foram alvo de ameaças ou desse tipo de ataque, e a empresa não alterou sua rotina. "Mas a violência tem gerado um clima complicado no país", disse Paulo Andrade, diretor de operações comerciais para o mercado internacional da Marcopolo. Empresas de transporte rodoviário, que são clientes da Marcopolo, atuam em regiões que têm sido atacadas regularmente.

Os ônibus são parados, sequestrados por alguns momentos, e os passageiros, assaltados. "Clientes nossos que circulam por essas zonas estão ficando mais preocupados. Há algumas rotas nas regiões de Monterrey, Sinaloa, Tamaulipas e Ciudad Juárez, por exemplo, para as quais as empresas de ônibus precisam contratar batedores e seguranças. Esse clima gera dúvidas sobre se elas continuarão investindo na compra de novos veículos."

A Marcopolo, diz Andrade, tem 30% do mercado mexicano. Mas houve uma redução da demanda no país, de cerca de 10 mil ônibus por ano para 5.000. Em 2008, a empresa vendeu 3.200 veículos; em 2009, 1.400. Este ano, até agora, a produção está em cerca de 1.500. "A demanda caiu por conta da economia americana, da crise da gripe suína e também pela violência. A reativação do mercado local está muito lenta por esses três fatores."

No caso da Via Uno, a violência afeta seus negócios numa das regiões turísticas do México. "Em Puerto Vallarda, onde temos lojas, as nossas vendas caíram por conta da queda do turismo." Na semana passada, a explosão de uma granada num bar da cidade feriu 15 pessoas. Autoridades investigam se o incidente teve a ver com o crime organizado ou se foi uma explosão acidental. A sombra da guerra ao tráfico parece ter chegado à área.

Outra empresa brasileira que vende bens de consumo no México diz não ter tido seus negócios afetados até agora. Mas a ameaça do narcotráfico já chegou a um de seus executivos. "Os negócios não estão sendo afetados, mas a intranquilidade é muito grande", disse o executivo brasileiro, há mais de dez anos no México. Ele pediu para não ter seu nome divulgado, nem o da empresa, por questão de segurança. "Temos um cliente que foi assassinado, outro sequestrado e outros que têm recebido ameaças. E recebi certos telefonemas de gente tentando fazer extorsão."

A empresa, porém, não cogita reduzir investimentos e acha que o clima é resultado de uma política correta e bem sucedida do governo de desarticular o crime. Marcopolo e Via Uno tampouco falam em reduzir presença no México.

É o diz a Braskem, que se transformará no maior investidor brasileiro no México até 2015, com aporte previsto de US$ 2,5 bilhões num polo petroquímico no Estado de Vera Cruz. "A região em que será construído o projeto não tem histórico de violência e por isso esse tema não é uma preocupação para a empresa", afirmou a Braskem.

Marcopolo e Gerdau são hoje os maiores investidores brasileiros, segundo a ProMéxico, órgão de promoção de investimento do país. Consultada sobre o impacto da violência, a Gerdau não respondeu. O estoque de investimento brasileiro é de US$ 1,9 bilhão.

Um executivo de outra grande empresa brasileira que atua no México deu uma visão distinta. "O que ouvi de uma multinacional que tem presença no Brasil é que eles elegeram a violência como um dos critérios para decidir se vão elevar investimentos no México".