Título: Brasil e Israel juntos, em busca do progresso
Autor: Becher , Giora
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2010, Opinião, p. A14

Brasil e Israel têm uma histórica relação de amizade, que se fortaleceu após a aprovação, em março deste ano, do acordo de livre comércio entre Israel e o Mercosul. Hoje, o Brasil é o maior parceiro comercial de Israel na América Latina e a tendência é de que haja um aumento significativo nas transações comerciais entre os dois países.

Nos últimos anos, as relações políticas se fortaleceram com uma série de visitas ministeriais e comerciais de ambos os lados. Em 2009, além do presidente de Israel, Shimon Peres, veio ao Brasil pela primeira vez em mais de 20 anos, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Liberman. Neste ano, tanto o ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, quanto o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, visitaram Israel, assim como Lula, que se tornou o primeiro presidente brasileiro a visitar o país. Todos esses encontros trouxeram uma série de acordos bilaterais importantes nos campos da educação, agricultura, saúde, pesquisa científica industrial e aduaneira, entre outros. Tanto o Brasil quando Israel têm hoje sólidas democracias que buscam o progresso e são exemplos de sucesso na diplomacia econômica.

Desde a década de 1960 Israel contribui para o desenvolvimento da agricultura do semi-árido, por meio da difusão de técnicas de irrigação em regiões do nordeste brasileiro. É o caso da Netafim, empresa israelense que, após ter vencido uma licitação no Ceará, trabalhará nos projetos de irrigação Baixo Acaraú e Tabuleiro de Russa. Mais de 1 mil hectares serão irrigados por meio do sistema de gotejamento, trazendo inúmeros benefícios para a região como geração de empregos e renda e mais oportunidades de negócios. A experiência com essa técnica poderá servir de referência para a Bahia, que também pretende utilizar o sistema de gotejamento desenvolvido em Israel.

O Acordo de Livre Comércio constituiu Israel como primeiro parceiro extrarregional do Mercosul a firmar esse tipo de acordo com o bloco. Em 2008, antes da ratificação do acordo, o Brasil exportou para Israel mais de US$ 390 milhões e, no ano seguinte, durante a crise mundial, esse valor foi de mais de US$ 270 milhões. Já neste primeiro semestre, foram US$ 140 milhões, sendo US$ 67,7 milhões somente em maio e junho. No âmbito das importações, em 2008 o Brasil importou US$ 1,2 bilhão em produtos israelenses e este ano os valores já ultrapassaram US$ 420 milhões, sendo US$ 130 milhões em maio e junho, após o acordo ter entrado em vigor. Em 10 anos, 97% dos produtos importados pelo Mercosul vindos de Israel, e vice-versa, terão alíquota zero. Além de tudo isso, o Brasil é hoje o foco das exportações israelenses na América do Sul e isso se refletirá nas cooperações entre ambos os países, inclusive tecnológica. É importante ressaltar que as economias de Israel e do Brasil são complementares e não concorrentes, permitindo um grande potencial de intercâmbio. As estimativas para o comércio bilateral entre Israel e Brasil para 2010 estão entre US$ 1,3 bilhão e US$ 1,5 bilhão e o desafio é dobrar o intercâmbio comercial e chegar aos US$ 3 bilhões ou até mesmo aos US$ 5 bilhões nos próximos cinco anos.

O número de empresas israelenses no Brasil tem crescido intensamente. Este avanço mostra o aumento do interesse de Israel no mercado brasileiro. A empresa Elbit, um dos maiores conglomerados de eletrônica embarcada do mundo, está ampliando a sua subsidiária gaúcha, a Aeroeletrônica (AEL). A empresa, que tem mais de 10 mil funcionários no mundo, utilizará sua filial brasileira para a modernização de 70 aeronaves, serviço que antes era prestado em Israel ou no país de encomenda.

Em maio, Brasil e Israel lançaram o primeiro edital de chamada para propostas de cooperação em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) entre empresas brasileiras e israelenses. É o resultado do memorando assinado, em 2007, entre os dois países, na área de Cooperação Bilateral em Pesquisa e Desenvolvimento Industrial no Setor Privado e prevê financiamento para pesquisa tecnológica de projetos de desenvolvimento conjuntos entre as empresas do Brasil e de Israel que devem apresentar propostas que resultem em novos produtos, processos ou serviços para aplicações industriais destinados à comercialização no mercado doméstico ou global. Do mesmo modo, serão organizadas conferências e missões de diferentes setores industriais, dando às empresas mais oportunidades de novos negócios e potenciais parceiros.

No âmbito do turismo, no primeiro semestre deste ano, mais de 22 mil brasileiros foram a Israel. É um aumento real de 125% em relação a 2009. As estratégias básicas foram a ampliação do Escritório de Representação do Ministério de Turismo no Brasil e a facilitação do trajeto entre Brasil e Israel, e vice-versa, com a empresa aérea israelense El-Al iniciando suas operações no país.

Além das relações comerciais, outros tipos de cooperação em vários temas são mantidos bilateralmente. Um dos programas oferecidos é o Mashav, que fornece bolsas de estudos para cursos em diversas áreas em Israel. Os participantes, brasileiros de norte ao sul do país, ao retornarem trazem consigo novas experiências e aprendizados que serão, posteriormente, aplicadas em suas diversas áreas de atuação.

Israel é um dos países líderes no mundo em inovação tecnológica e, assim como o Brasil, trabalha em busca do desenvolvimento e bem-estar de sua população. A cooperação técnica, a troca cultural, o aumento significativo da balança comercial entre os dois países e tantos outros benefícios que o acordo entre Israel e Mercosul tem trazido, farão com que as relações de amizade entre brasileiros e israelenses prosperem ainda mais.

Giora Becher é embaixador de Israel no Brasil.