Título: PF prende suspeitos de fraude no Banrisul
Autor: Bueno, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2010, Finanças, p. C3

de Porto Alegre

A Polícia Federal prendeu ontem três pessoas suspeitas de envolvimento em supostas fraudes em licitações realizadas pelo Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul). As prisões foram feitas em flagrante por peculato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro durante o cumprimento de onze mandatos de busca e apreensão de documentos relativos aos contratos investigados. Segundo o superintendente da PF no Estado, Ildo Gasparetto, os envolvidos não comprovaram a origem de valores equivalentes, no total, a mais de R$ 2 milhões que mantinham em casa, entre dólares, euros e reais.

Os presos são o superintendente de marketing do banco controlado pelo governo estadual, Walney Fehlberg, e os diretores das agências de publicidade DCS, Armando D " Elia Neto, e SL&M, Gilson Storck. As irregularidades incluiriam combinações e subfaturamento de preços em licitações para subcontratação de serviços de marketing, cobrança de propinas de até 30% sobre os valores dos contratos. Elas teriam durado 18 meses e provocado prejuízo estimado de R$ 10 milhões para o Banrisul.

Conforme Gasparetto, a operação, batizada de "Mercari", foi organizada em conjunto com o Ministério Público Estadual (MPE) e o Ministério Público de Contas (MPC), que recebeu a denúncia sobre as irregularidades em outubro de 2009. A participação da PF na investigação deve-se à suspeita de existência de crimes federais como evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

A partir dos documentos e computadores apreendidos na operação deflagrada às 6 horas de ontem, a PF vai investigar se outros executivos do banco tinham conhecimento do esquema. Por enquanto também não há indícios sobre o destino do dinheiro desviado. "Primeiro temos que verificar como funcionava a quadrilha", disse Gasparetto. Segundo o superintendente, há dois meses o funcionário do banco já havia sido detido no aeroporto de Guarulhos tentando sair do país com US$ 20 mil não declarados. Ele foi liberado depois graças a um habeas corpus.

Em entrevista à rádio Gaúcha, de Porto Alegre, o presidente do Banrisul, Mateus Bandeira, disse que se ficar comprovado que houve fraudes nos contratos firmados pela área de marketing o banco foi "lesado" e espera conseguir o ressarcimento dos valores desviados. Segundo ele, numa instituição do "tamanho" do banco gaúcho "é sempre possível que ocorra alguma irregularidade por mais que a gente não queira e tenha todo um aparato de governança".

O executivo disse que tomou conhecimento do caso por intermédio de um telefonema da própria PF ontem pela manhã sobre a operação de busca e apreensão na sede do banco e que colocou toda a estrutura da instituição à disposição para colaborar com as investigações. "Temos total interesse no esclarecimento dos fatos, só esperamos que não se faça uso político disso", afirmou o executivo, que assumiu o cargo em abril deste ano.

Em nota, a agência SL&M afirmou ter ficado "surpresa" com seu envolvimento na operação da PF e garantiu ter "plena convicção de não ter cometido nenhuma irregularidade". A empresa disse ainda que vai se pronunciar "assim que todos os fatos forem apurados" e que se dispõe a "colaborar" com a Polícia Federal e o Ministério Público. O advogado da DCS, Aury Lopes Júnior, afirmou que a agência foi surpreendida, mas mesmo assim colaborou com os policiais que participaram da operação.