Título: Oferta em marcha
Autor: Valenti, Graziella; Torres, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2010, Eu e Investimentos, p. D1

de São Paulo e do Rio

A megaoferta de ações da Petrobras, a preços de mercado de ontem, será equivalente a R$ 111 bilhões, podendo alcançar R$ 128 bilhões em caso de forte demanda pelos papéis. A operação, portanto, representa um aumento da capitalização da estatal entre 42% e 49%, uma vez que a companhia fechou o pregão de ontem valendo R$ 260 bilhões na bolsa.

Serão emitidas 2,174 bilhões de ações ordinárias (com direito a voto) e 1,586 bilhão de preferenciais. No total, a operação pode ser ampliada em até 15%, conforme o apetite do mercado. A reserva dos papéis poderá ser feita a partir do dia 13.

O total exato de recursos que a estatal levantará dependerá do preço que será fixado pelos próprios investidores durante a distribuição. Nas ofertas públicas, o preço das ações é formado pela demanda. A definição desse valor ocorrerá no dia 23.

Do total a ser emitido, 80% serão reservados para aqueles que já são acionistas da Petrobras - oferta prioritária. Na prática, para cada ação detida, o acionista poderá comprar 0,343 novo papel. O investidor estrangeiro que tiver ADR (recibo de ação) terá de converter o título para o mercado local para ter direito à prioridade.

O restante (20%) será destinado ao varejo e aos institucionais que ainda não são acionistas e, nessa parcela, os empregados da estatal terão preferência, com um incentivo adicional de 15% sobre a aplicação.

O tamanho da operação coincide com a soma do valor dos barris que a Petrobras comprará da União - R$ 74,8 bilhões - mais a demanda estimada pelos papéis pela própria empresa - entre R$ 25 bilhões e R$ 45 bilhões.

Com esse raciocínio, o banco Barclays já previa ontem que a operação poderia ficar entre R$ 110 bilhões e R$ 120 bilhões. No caso da estimativa do UBS, a capitalização ficou acima das expectativas. O banco acreditava que a operação totalizaria pouco menos de R$ 100 bilhões.

As reuniões internacionais com investidores para apresentação da oferta devem começar no domingo. Dois times vão se dividir, um liderado pelo presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, e outro pelo diretor financeiro e de relações com investidores, Almir Barbassa. O giro, que deve durar duas semanas, começa na Europa, passando por Londres, e depois segue para EUA, Ásia e Oriente Médio. No Brasil, está previsto um almoço hoje, em São Paulo, com um grupo de potenciais compradores.

Ontem, os executivos participaram de teleconferência com analistas. Contudo, nada disseram sobre a oferta de ações. As discussões giraram exclusivamente em torno de questões técnicas ligadas ao preço dos barris do pré-sal que serão comprados da União. São sete diferentes valores, que, na média, equivalem a US$ 8,51 por barril.

Embora ainda haja questões a serem respondidas, o valor da operação combinado à avaliação dos 5 bilhões de barris que serão comprados permite algumas suposições.

É possível concluir que só existem duas maneiras de a Petrobras garantir acesso a todos os 5 bilhões de barris detidos pela União com esse tamanho de emissão: via diluição dos minoritários ou utilizando o dinheiro que virá do mercado para compor o pagamento à União pelos barris.

Para que nenhuma dessas opções ocorresse seria preciso que a fatia do governo na Petrobras (39%, considerando BNDES) coincidisse com o percentual que o valor dos barris corresponde da oferta total (50%). Para tanto, seria necessária uma operação de, pelo menos, R$ 190 bilhões.

O aumento da participação do governo na Petrobras só será possível caso a União compre ações na oferta em proporção superior à que possui no capital atualmente. Para isso, é preciso que o mercado não absorva toda a participação proporcional dos minoritários, permitindo que o governo compre sobras da oferta.

A União e o BNDES já manifestaram a intenção de comprar o equivalente a R$ 74,8 bilhões, sem limitar o preço da ação.

Alguns analistas acreditam que o uso dos recursos vindos do mercado para pagar a compra dos barris da União pode ser negativo para a companhia. Para eles, os investidores não gostariam de ver o dinheiro saindo do caixa para essa finalidade.

Considerando o preço dos barris e o valor da oferta de ações a preços atuais, restariam para o caixa da companhia entre R$ 36 bilhões e R$ 53 bilhões, que seriam utilizados para melhorar o índice de alavancagem financeira e ainda fazer frente ao plano de investimentos da empresa de US$ 224 bilhões entre 2010 e 2014.