Título: Oferta deve elevar giro e fatia da Petrobras na bolsa
Autor: Ragazzi, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2010, Eu e Investimentos, p. D9

de São Paulo

A oferta de ações da Petrobras deverá ter impacto relevante para o ambiente de negócios da BM&FBovespa. Enquanto a operação estiver no período de reserva, analistas apontam a possibilidade de forte realização de lucros no mercado.

"Os investidores que desejarem comprar papéis na operação, tanto para não serem diluídos quanto para fazer um novo investimento, terão de fazer caixa, o que poderá detonar ordens de venda para diversos papéis", afirma Erick Scott Hood, analista da SLW Corretora.

Ele ressalta que essa será uma reação pontual, sem indicar qualquer tendência para a bolsa. A movimentação deverá, também, aumentar o número de negócios e, consequentemente, as receitas da BM&FBovespa.

A análise ainda não pode ser precisa porque mais detalhes da operação serão conhecidos só hoje. Ontem, a empresa promoveu teleconferência com analistas, que contou com a participação do presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, e do diretor financeiro e de relações com investidores, Almir Barbassa, mas o tema foi a cessão onerosa dos barris de petróleo. No domingo, a petrolífera inicia a rodada de apresentações da oferta para os investidores.

Os meses de incertezas em relação à distribuição afetaram o desempenho das ações da Petrobras no mercado. Não foi apenas o preço, mas também os volumes negociados com o papel, carro-chefe da bolsa brasileira, que diminuíram nos últimos meses, diante da pressão instalada, principalmente por conta da dificuldade de saber o tamanho da operação.

Relatório divulgado ontem pelo Barclays informou que o indicador que mede a velocidade diária de negociação com ações da Petrobras nos últimos 60 dias está em 45,5%, ante os 70% que são a média histórica do papel.

"Essa diferença representa R$ 220 milhões a menos negociados por dia com as ações", escreveram os analistas Henrique Caldeira e Roberto Attuch.

Na avaliação do Barclays, como após a oferta a quantidade de ações da empresa em circulação no mercado irá aumentar, o incremento nos negócios diários com as ações da petrolífera poderá chegar a até R$ 520 milhões, dependendo de como se dará a concentração dos papéis nos mercados doméstico e externo, via recibos de ações (ADRs, na sigla em inglês).

Os analistas do Barclays também destacaram que, concluída a capitalização da Petrobras, a janela para outras ofertas de ações no mercado doméstico poderá reabrir, o que também é positivo para a BM&FBovespa.

O mercado comenta que as atenções todas voltadas para a gigantesca operação da estatal, outras companhias que planejam a oferta ficaram sem espaço entre os investidores.

Alexandre Póvoa, presidente do Modal Asset, também enxerga uma realização de lucros de curto prazo na bolsa em setembro, "pois dificilmente haverá dinheiro novo para a operação". Mas, na avaliação dele, concretizada a oferta, a pior herança poderá ser a distorção nos índices.

Durante anos, afirma Póvoa, o mercado criticou o fato de Ibovespa e IBX, principais índices da bolsa, serem concentrados em ações de telefonia. "Nos últimos anos, a situação havia melhorado um pouco, embora ainda hoje mais de 35% dos índices sejam concentrados em Petrobras e Vale", diz.

Com o aumento automático e muito relevante de valor de mercado e de liquidez da Petrobras assim que as novas ações chegarem à bolsa, diz Póvoa, o temor é que, pelos critérios atuais, haja concentração muito excessiva nesse papel nos índices.

"Se um índice de bolsa, teoricamente, deveria espelhar a economia de um país, os indicadores cada vez mais vão sinalizar que somos um país de commodities, o que está longe de ser verdade." Póvoa diz que para evitar esse tipo de problema, a BM&FBovespa deveria estabelecer um máximo de participação de uma empresa em um indicador. "Isso é comum em vários índices de bolsas pelo mundo. Acredito que seria uma solução, ainda que o ajuste fosse gradativo em cada rebalanceamento, até o alcance do teto máximo", diz.