Título: Bahia perde protagonismo, mas Wagner é favorito
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2010, Especial, p. A14

Quatro anos após a virada eleitoral mais espetacular de 2006, o carlismo se diluiu, o governador Jaques Wagner (PT) pode se reeleger no primeiro turno, mas a Bahia está apreensiva quanto ao futuro. Desde então, o Estado registra crescimento do PIB menor que a média do Nordeste. A violência é um flagelo, enquanto a parceria privilegiada com o governo federal não passa ainda de uma promessa, apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter feito sua parte com os baianos.

Os institutos de pesquisas apontam que, após um início hesitante, Wagner pode ganhar a eleição no primeiro turno. Literalmente na garupa de Lula, segundo pesquisas qualitativas a que o Valor teve acesso. O início da propaganda gratuita no rádio e na televisão e uma visita de Lula e da candidata Dilma Rousseff (PT) a Salvador marcaram a recuperação do governador.

Entre os três governadores que mais receberam apoio político e financeiro de Lula, o baiano, até agora, é o de desempenho mais fraco - 45% das intenções de voto, no Datafolha, contra 62% de Eduardo Campos (PE) e 56% de Sérgio Cabral (RJ). Wagner tem menos votos na pesquisa estimulada (46%) que Dilma tem de intenções de votos espontâneas (53%), diz o Vox Populi.

Lula foi à Bahia para ajudar Wagner a liquidar a fatura no primeiro turno. Para isso, pisou nos calos dos outros aliados da candidatura Dilma. Sem força para enfrentar o presidente, os aliados concentraram a artilharia em Wagner. Em seu mandato nenhum grande empreendimento se instalou na Bahia por incentivo do governo local - a última grande obra inaugurada por Dilma foi a interligação dos gasodutos do Sudeste com o Nordeste, a Gasene.

A comparação inevitável é com Pernambuco, destinatário de obras como a refinaria Abreu Lima e a ferrovia Transnordestina. Desde a posse do governo petista a Bahia convive com a promessa de uma ferrovia ligando o Oeste ao Leste do Estado e de um porto em Ilhéus. Os outros portos de Salvador estão ultrapassados, e boa parte da carga exportada pela Bahia sair por outros Estados - 27,3% das 5,2 milhões de toneladas exportadas no primeiro semestre.

Pelo menos oito grandes investimentos privados se interessaram pela Bahia, nos últimos anos, mas acabaram em outros Estados. Para citar apenas alguns exemplos, a Toyota foi para São Paulo e o polo têxtil previsto para Camaçari, uma fábrica de vacina da Novartis e a nova fábrica da Ambev decidiram-se por Pernambuco. Mesmo destino previsto para um investimento de R$ 100 milhões da Kraft Foods do Brasil (chocolates e refrescos).

Em 2006, a participação da Bahia no PIB do Nordeste era de 32,4%. Ano passado, essa participação caiu para 30,8%. A Bahia cresceu mais que o Brasil de 2003 a 2006. Desde então, as curvas ficaram mais próximas. O PIB baiano representa hoje 4,1% do PIB brasileiro (já foi de mais de 6%).

Em 2008, a Bahia era responsável por 41% dos desembolsos do BNDES para o Nordeste. Ano passado, sua participação caiu para 15% - e Pernambuco saltou de 22% para 59%.

É praticamente inevitável, para o baiano, deixar de lembrar-se da briga de ACM com FHC por um regime automotivo especial que acabou na edição de uma MP que levou a Ford - e 60 mil empregos diretos e indiretos - para a Bahia. Na TV, a oposição cobra mais da amizade de Wagner com Lula. A interlocutores, Lula já reclamou que fez muito pela Bahia, mas Sergipe, Estado vizinho 25 vezes menor, fez muito mais com o que recebeu até agora.

A violência explodiu - mais de 13 mil pessoas foram assassinadas na Bahia entre 2007 até julho de 2009. Mas nem tudo é desgraça. Aumentaram os postos formais de trabalho, especialmente por causa da expansão da construção civil, que contribuiu com mais da metade dos 8,1 mil empregos celetistas criados em julho. O primeiro semestre de 2010 foi bom para a economia baiana - crescimento de 10%, puxado pela construção civil. Crescimento debitado mais ao dinamismo nacional do que a medidas locais.

Salvador, por exemplo, vive "boom" imobiliário capaz de mudar a fisionomia urbana - dez mil unidades habitacionais para as classes média e média alta estão entrando no mercado. Entre o aeroporto e a cidade é possível observar a construção simultânea de 42 prédios. Uma mudança no plano diretor da cidade - gerida pelo PMDB - estimula a especulação.

A Bahia reduziu significativamente sua taxa de pobreza entre 1995 e 2008, que caiu de 42% para 23,8%, segundo dados do IBGE. Só de Bolsa Família, no último mês de agosto, o governo federal destinou 1,22 bilhão à Bahia. O programa atende 1.634.903 de famílias, nos 417 municípios do Estado - ou seja, 5,7 milhões de pessoas (quase uma em cada três) de uma população de cerca de 14,6 milhões de alguma forma dependem do Bolsa Família.

Outro programa federal que vai bem é o Minha Casa, Minha Vida - a Bahia bate recordes. São 55.252 unidades contratas (9,14% do total de unidades contratadas no país), no valor de R$ 2,5 bilhões, até agora.

Nesses três anos, a Bahia teve perdas na arrecadação do ICMS. O governo estadual chegou a atrasar o pagamento de fornecedores. Mas também foi beneficiada pelas medidas do governo Lula para mitigar a crise. Só do BNDES foram cerca de R$ 400 milhões. Além disso, o governo contou com outras receitas que pode manusear sem maiores restrições contratuais, casos de uma operação externa para alongar o perfil da dívida, de cerca de R$ 700 milhões, e da venda da folha de pagamentos dos servidores ao Banco do Brasil.

Este ano, os convênios de Jaques com os municípios chegaram a R$ 180 milhões, mais que a soma dos outros três anos de governo. Aliás, Wagner já renegociou o contrato da folha com o BB e, além dos R$ 500 milhões originais, já conseguiu mais R$ 250 milhões por uma prorrogação do contrato.

Aos críticos, Wagner costuma dizer que a Bahia atravessa um processo de mudança no qual a palavra-chave é "descentralização" para viabilizar investimentos no interior. Caso das grandes obras como a ferrovia Oeste-Leste e o porto de Ilhéus, que ainda não saíram do papel.

Em um Estado em que dois terços da área está localizada no semi-árido, o governador orgulha-se de já haver atendido mais de 2,5 milhões de pessoas com água e esgoto. Para a oposição, mais uma peça digna do vídeo "Vou morar numa propaganda do governo da Bahia", um vídeo de criativos marqueteiros baianos já com mais de 93 mil exibições no YouTube.