Título: Ajuste de mira nos discursos
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 16/07/2010, Política, p. 2

O tempo de paz e amor que chegou a ser insinuado em momentos da pré-campanha deu lugar a uma etapa de críticas mais ácidas e diretas entre os presidenciáveis

A primeira semana de campanha oficial e efetiva, depois da parada da Copa do Mundo, mostra que dois dos principais candidatos à Presidência aproveitaram as últimas semanas para apimentar o discurso e mirar o eleitorado.

José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV ) iniciaram a corrida com ajustes consideráveis nas críticas a Dilma Rousseff (PT) e ao governo federal. Nos últimos dias, ambos abandonaram o tom ¿paz e amor¿ que caracterizou a précampanha, mas dava mostras de esgotamento há um mês. Já a petista manteve a toada arquitetada pelos marqueteiros de campanha e continuou com a estratégia de caracterizar as eleições como uma disputa plebiscitária entre governo e oposição.

A mudança de rumos foi constatada especialmente na campanha tucana. Até aqui, a estratégia de Serra teve três momentos. No início, o candidato economizava nas críticas. Depois, decidiu centrar fogo em Dilma e no governo federal, sem trombar com o nome e a popularidade do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.

Nos últimos dias, contudo, o tucano engrossou a voz contra o presidente e a ex-ministra da Casa Civil. O principal foco das críticas são as áreas de saúde e de segurança pública, exatamente os calos do governo petista, segundo as pesquisas internas encomendadas pelos tucanos.

Nos últimos dias, Serra disse que a candidata petista não ¿conseguia andar com as próprias pernas¿.

Criticou Lula abertamente por utilizar a máquina governamental na promoção da pupila.

Para atingir Dilma, centrou fogo em falhas técnicas do governo federal, como as do edital para construção do trem-bala. A meta é desconstruir a imagem de boa gerente da candidata. ¿Sempre houve indecisão na campanha tucana sobre qual seria o melhor volume de críticas contra o governo. O Serra começou a receber uma forte pressão dos aliados nas últimas semanas para adotar um tom mais ácido, que é um caminho natural, mas talvez precipitado¿, afirma o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB).

Por esse raciocínio, a tática do confronto aberto contra a petista seria uma decisão que reflete o maior espaço do núcleo político formado pelo PSDB e pelos aliados PPS e DEM, em detrimento dos marqueteiros da campanha. ¿Era natural que as críticas crescessem.

Precisamos marcar posição frente ao governo atual¿, explica o coordenador da campanha do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE).

Antecipação No caso de Marina Silva, a mudança foi mais sutil, mas é perceptível.

A candidata verde iniciou a pré-campanha tentando conseguir um naco da popularidade do governo Lula ¿ de quem foi ministra do Meio Ambiente por seis anos. A estagnação nas pesquisas e a proximidade do horário eleitoral, em que Marina pouco deve aparecer, fizeram com que a senadora acreana antecipasse as críticas mais severas a Lula e a Dilma, geralmente guardadas para a reta final da campanha.

Em cinco dias, ela disparou contra os programas de governo de Serra e de Dilma, classificando os documentos como um ¿conjunto de discursos e falas¿. Nas falas, também mirou Lula. ¿Não é pelo fato de ser mais ou menos aceito ou mais carismático que tem o direito de extrapolar a lei.¿ A mudança de discurso constatada nos dois concorrentes ainda não provocou alteração radical na estratégia da candidata governista ao Planalto. De acordo com especialistas, a ex-ministra segue o ritmo ditado e previsto pelo núcleo central da campanha. Repletas de ironias, as falas reforçariam a imagem de retrocesso, caso Serra fosse o presidente.

¿Dilma vem seguindo as orientações do Antônio Palocci e do marqueteiro João Santana à risca.

Mudou a própria imagem, só aparece em eventos arquitetados para ela. Não há nada na campanha dela que não tenha sido arquitetado previamente¿, diz Barreto.

Parabéns ao presidente Lula, escolhido líder do ano pela revista Time.

Bom para o Brasil¿ ¿O governo foi ágil no enfrentamento da crise econômica. No Bolsa Família, foi um avanço¿ Serra, em abril ¿Quem justifica deslizes morais dizendo que está fazendo o mesmo que os outros fizeram ou que foi levado a isso pelas circunstâncias deve merecer o repúdio da sociedade.

São os neocorruptos¿ Serra, em junho ¿Isso fere o sentimento de justiça do povo brasileiro.

Isso tende a acontecer quando a candidatura é produto de marqueteiro, de marquetagem¿ Serra, em julho

Num dia tentam enganar o povo, dizendo que vão continuar o trabalho do Lula. No outro, mostram a patinha de lobo e ameaçam acabar com o PAC, com o Bolsa Família e mudar a política econômica¿ ¿Ele está mais para biruta de aeroporto.

Cada dia de um jeito.

É impossível se passar pelo que não é¿ Dilma, em abril ¿Quando eles (PSDB) estiveram no governo, e podiam mais, fizeram menos." Dilma, em julho Lula foi líder porque reduziu a pobreza¿ Marina, em maio ¿Lula mostrou que é distribuindo o bolo que a gente pode crescer¿ Marina, em junho ¿Eles não estavam se preparando para o debate e sim para o embate. O programa de um (Dilma) já está quase na terceira versão e o outro (Serra) nem chegou a apresentar programa, foi só um conjunto de discursos e falas", em visita a São José dos Campos, no início da semana¿ Marina, em julho