Título: Copom vê risco decrescente de inflação
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2010, Finanças, p. C3

O Banco Central (BC), por meio da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), reforçou a convicção de que os riscos para a inflação são decrescentes e que o atual patamar de juros, 10,75% ao ano, é suficiente para trazer o índice de preços para a meta (4,5%). "A despeito de reconhecer a existência de riscos de elevação da inflação no curto prazo, o Copom considera que a convergência da inflação para o valor central da meta tende a se materializar".

Para o BC, desde a última reunião, "reduziram-se os riscos à concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual a inflação seguiria consistente com a trajetória de metas". Esse movimento, em parte, "se deveu à reversão de parcela substancial dos estímulos introduzidos durante a crise financeira internacional" e também, "de modo especial, ao ajuste da taxa básica implementado desde abril". Outro aspecto relevante é a "probabilidade de desaceleração, e até mesmo de reversão, do já lento processo de recuperação" das grandes economias, com influência desinflacionária sobre a trajetória dos preços domésticos.

Houve ainda "significativa redução das projeções elaboradas por analistas" enquanto os dados projetados pelos modelos do BC estão mais comportados para a inflação futura. O cenário de referência para 2011, usando dados coletados junto ao mercado, se reduziu em relação à reunião anterior, com a inflação posicionada "ao redor do valor central da meta".

Além da análise prospectiva, o documento abriu espaço para a autoridade monetária reforçar algumas visões sobre o processo de condução de sua política. Para o BC, a taxa de juros real de equilíbrio já é mais baixa do que a prevista pelo mercado. "O Copom considera que as estimativas mais pessimistas sobre o nível atual da taxa de juro real neutra tendem, com probabilidade significativa, a não encontrar amparo nos fundamentos". Logo em seguida, o BC dispara. "O Comitê também pondera que há evidências de que a tração da política monetária aumentou no passado recente e, comparativamente ao que se observava há alguns anos, atualmente pressões inflacionárias são contidas com mais eficiência por meio de ações de política monetária".

O BC aproveitou ainda para rebater as críticas de que estaria olhando apenas para a inflação corrente, pois "riscos baixos para a inflação subjacente no curto prazo tendem a potencializar os efeitos das ações de política monetária". Para o comitê, riscos baixos no curto prazo "tendem a reduzir incertezas em relação ao comportamento futuro da inflação plena, facilitam a avaliação de cenários por parte da autoridade monetária, assim como auxiliam no processo de coordenação de expectativas dos agentes econômicos".

Segundo alguns analistas de mercado, o texto revela um Banco Central menos conservador. "A ata mostrou-se bastante diferente das anteriores. O documento reforçou a mudança no tom da comunicação da autoridade monetária nos últimos meses. O Copom parece ter deixado de ser conservador principalmente na análise dos fatores de risco, passando a adotar uma postura mais otimista e ao mesmo tempo mais assertiva em relação ao cenário", diz relatório da equipe econômica do Santander.

Para os economistas do banco espanhol, no entanto, essa posição pode representar uma "armadilha", à medida que as altas recentes dos preços internacionais de commodities podem se refletir internamente. "Ainda que já espere por alguma elevação da inflação corrente, pela própria lógica do BC, tal movimento acabará por afetar adversamente a visão do mercado em relação à trajetória futura, e obrigatoriamente mudará a avaliação de que as expectativas se deterioram apenas "marginalmente"", diz o banco.