Título: Waldez Góes pede habeas corpus ao STF
Autor: Basile , Juliano
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2010, Política, p. A5

Por sorteio, o processo foi distribuído para o ministro Joaquim Barbosa. Até o início da noite de ontem, Barbosa ainda não havia proferido uma decisão. O ministro é conhecido por atuar com rigor nos casos envolvendo políticos. Barbosa é o relator do processo do mensalão, em que pediu a abertura de ação penal contra 40 pessoas suspeitas de participação no esquema de compra de apoio político e de desvio de dinheiro público. A prisão de Góes teve prazo determinado. A PF concluiu que seria importante ele ficar sob custódia até o fim da atual fase de investigações. O objetivo é o de evitar que Góes interfira nas apurações de um suposto esquema de desvio de dinheiro público através da Secretaria de Educação do Amapá. Formalmente, esse prazo vence amanhã. As investigações apontam que mais de R$ 300 milhões teriam sido desviados dos cofres públicos, no Amapá.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a prisão de Góes, de sua mulher, Marília, e do atual governador, Pedro Paulo Dias, do PP. O Amapá está sob o governo do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Dôglas Evangelista Ramos. Marília também recorreu ao STF para sair da prisão.

Góes é candidato ao Senado pelo PDT. Ele governou o Amapá por dois mandatos, entre 2003 e abril de 10, período em que Pedro Paulo foi o seu vice. Mesmo preso, em Brasília, Góes permanece candidato no Amapá. Ele não é "ficha suja", pois não foi condenado por um órgão colegiado da Justiça e não renunciou a mandato para escapar de processo de cassação. Pedro Paulo é candidato a governador.

Em maio do ano passado, o TSE julgou um pedido de cassação de Góes e de Pedro Paulo. Na ocasião, o caso foi arquivado por unanimidade, pois as provas contra ambos foram consideradas muito fracas. Eles foram acusados de fazer campanha em órgãos públicos, como o Corpo de Bombeiros e o Clube de Oficiais da Polícia Militar. Uma das alegações do Ministério Público era a da existência de panfletos de campanha numa gaveta na Vice-Governadoria. Mas, o TSE concluiu que não foi comprovado o conhecimento de Góes e de Pedro Paulo sobre os panfletos. Também não foi confirmado que ambos foram informados ou tiveram participação em eventos para pedir votos aos oficiais da PM e bombeiros. Absolvidos pelo TSE, Góes e Pedro Paulo foram presos, por ordem do STJ, por outros crimes, um ano e quatro meses depois.

Apontado como aliado do governador preso, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) negou, em entrevista ao jornal O Imparcial do Maranhão, qualquer ligação política com Pedro Paulo. Segundo Sarney, ele mantém relações políticas com Lucas Barreto, candidato do PP ao governo estadual, sem, contudo, manifestar apoio expresso. "Eu não apoio nenhum candidato ao governo do Amapá".

Para justificar uma foto ao lado de Pedro Paulo no gabinete da Presidência do Senado, Sarney alegou que "recebe, institucionalmente, governadores de Estado para conversas na Presidência da Casa". Admitiu apenas apoiar politicamente o candidato ao Senado e ex-governador do Amapá, Waldez Goés (PDT) - também preso na Operação da Polícia Federal - e Gilvam Borges (PMDB-AP), candidato à reeleição.

Pessoas ligadas ao presidente do Senado e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva negaram que os dois tenham entrado em contato antes ou depois da operação da Polícia Federal no Amapá. Segundo um ministro próximo do presidente, Lula deu aval à operação. Durante discurso em Criciúma (SC), Lula defendeu a ação da PF. "Quando tem roubo, a gente pega. Vocês viram o que aconteceu agora no Amapá", numa referência às 18 pessoas presas na sexta-feira. "Houve um tempo que era mais fácil levantar o tapete e jogar tudo para baixo".