Título: Não trabalho com a ideia de fazer frente a ninguém, diz Lupi
Autor: Lupi , Carlos
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2010, Política, p. A14

Mergulhado no projeto de fazer uma bancada de 40 deputados, o presidente licenciado do PDT e ministro do Trabalho, Carlos Lupi, avalia que o crescimento de seu partido, do PT e dos demais aliados, vai criar nova correlação de forças no Congresso, acompanhada de relativa redução do PMDB.

Ainda não adere, no entanto, à frente ampla pretendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva reunindo PT, PDT, PSB e PCdoB. "Não trabalho com a tese de fazer frente a ninguém. A ideia é fortalecer o partido, crescer e somar forças com quem pensa igual", diz. Defende a aproximação com Aécio Neves, representante de "outro PSDB", diferente daquele do presidenciável José Serra.

Ocupante de uma Pasta com imagem lustrada pelos bons números do emprego, Lupi é garoto-propaganda de candidatos trabalhistas Brasil afora e diz gravar de 10 a 15 programas eleitorais diariamente, de Brasília. Usa os fins de semana para ir aos Estados.

A seguir, a entrevista, concedida, por telefone, ao Valor:

Valor: Como sairá o PDT destas eleições?

Carlos Lupi: Vamos ter um partido mais nacionalizado. Teremos cerca de 11 deputados no Nordeste e entre 19 e 20 no Sul/Sudeste. Estar no Ministério do Trabalho ajuda a dar visão nacional. O desempenho da economia e do mercado de trabalho está ajudando nessa expansão. A melhor medição disso é que estou aqui em Brasília gravando 10, 15 horários eleitorais diariamente. Saio de uma e vou gravar outra. Ninguém chama ninguém para gravar se não for bom.

Valor: Qual a previsão de bancada do PDT nestas eleições?

Lupi: Em 2006, elegemos 24 e a previsão é que façamos, no mínimo, 38, e, no máximo, 45. O mais provável é que fique em torno de 40.

Valor: Por que o crescimento?

Lupi: Estar no governo dá uma exposição muito forte e de coerência com o partido. Porque não é uma Pasta acessória. Desculpe a falta de modéstia, gostando ou não de mim, a minha Pasta do Trabalho passou a ser protagonista. Até por força da crise e por todo esse processo que aconteceu, de recorde de empregos, tudo isso ajudou muito a consolidar a imagem do partido nos Estados. E o desemprego caiu, o emprego ficou em alta, a imagem do ministério é positiva.

Valor: O senhor tem feito campanha para os candidatos do PDT?

Lupi: Em todos os Estados. Todo fim de semana estou em um Estado. Faço isso há seis meses, desde o começo da construção das candidaturas. Depois foram as convenções, as alianças regionais, as nominatas, as alianças proporcionais. Já visitei quatro a cinco vezes cada Estado.

Valor: Quais as perspectivas de eleger governadores?

Lupi: Não temos mandato nenhum nos Estados hoje. Com chance de vitória, tem o Ronaldo Lessa em Alagoas, que está liderando. Tem o Osmar Dias, crescendo no Paraná, e o Jackson Lago no Maranhão, que também cresceu.

Valor: O Lago tem chance?

Lupi: Tem e vai surpreender. Na outra eleição, foi a mesma coisa, todo mundo dizia que a Roseana ia ganhar no primeiro turno, não ganhou. No segundo turno, virou. Com segundo turno no Maranhão, o Jackson é governador eleito porque lá é muito polarizado, todo mundo se une contra ela.

Valor: O senhor está fazendo campanha mesmo onde não tem candidato ao governo ?

Lupi: Temos que fazer deputado federal, nossa prioridade é eleger federal porque é daí que dá balizamento para toda a existência do partido. É através do federal que você vê tempo de televisão, correlação de forças, fundo partidário, tudo parte do federal.

Valor: A prioridade é o Congresso?

Lupi: Absolutamente. Nos Estados, temos quatro candidatos que ajudamos. E temos vices no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Pernambuco.

Valor: E para o Senado?

Lupi: Temos seis candidatos fortes. Hoje temos seis senadores e é provável que fique entre cinco e seis. A Patricia [Gomes] desistiu, o Jefferson [Praia] é difícil no Amazonas, tem muita chance com o Cristovam [Buarque] no Distrito Federal, tem muita chance o Dagoberto no Mato Grosso do Sul e estamos muito bem no Amapá com o Waldez Góes [a entrevista foi feita um dia antes da prisão do ex-governador do Amapá, acusado de corrupção]. O ex-procurador Pedro Taques tem muita chance no Mato Grosso.

Valor: Como o senhor vê a campanha da Dilma e o Receitagate? Lupi: Há um ano e dois meses, já falava da probabilidade dela ganhar no primeiro turno. Alguns me ridicularizaram. Não é que eu tenha bola de cristal. É que a gente está vendo. Primeiro, a aprovação do governo e, segundo, que isso ia ser uma associação natural. Só perderemos se errarmos muito, o que acho pouco provável.

Valor: A Receita não afeta?

Lupi: Não. Não tem fato, tem tese, tem legitimidade de reclamação. Agora, qual é o fato, o que aconteceu? Eu tomo café numa padaria todo santo dia. E tem um senhor que me perguntou: "a Receita pegou o quê, meu filho?". Eu disse: "Nada".

Valor: O senhor vê relação da campanha dela com o caso?

Lupi: Querer jogar isso na Dilma é ridículo. O que ela tem a ver com isso? É a mesma coisa que pegar o auditor fiscal do Trabalho, que pode ter aceito alguma coisa irregular, e dizer que eu, como ministro, sou responsável. Você não controla. A própria Polícia Federal, por exemplo, invadiu a casa do filho do Lula há dois anos. Quem controla? Digo sempre um ditado que aprendi com minha avó: Receita ninguém controla.

Valor: E por que não tem controle?

Lupi: Porque são carreiras de Estado com proteção institucional. E tem que ser assim. Porque senão, por exemplo, eu sou ministro do Trabalho, eu vou dizer para a Fiscalização do Trabalho: fiscaliza esse e não outro? Estaria direcionando e não posso fazer isso. Por isso, a carreira de Estado não pode ter demissão sem amplo direito de defesa, processo que às vezes demora dois, três anos. Tem que criar proteção para a ação da carreira de Estado. Isso acontece em toda a área de Fiscalização e da Polícia Federal.

Valor: O senhor está dizendo que são coisas que fogem do controle do governo?

Lupi: Qualquer que seja o governo.

Valor: E a reação do presidente Lula de responder ao Serra no programa da candidata Dilma?

Lupi: É uma reação natural de quem, é como eu faria, se sente injustiçado. Você acha que o presidente da República ou a chefe do gabinete civil iria direcionar fiscalização do Imposto de Renda da filha de um possível candidato adversário?

Valor: E a reação do Serra, de dizer que Dilma terceiriza ataques?

Lupi: Foi reação de derrotado, de chutar o pau da barraca, como diz a Cidinha Campos. O que eles podem fazer? Você acha que o charme, o carisma, a simpatia, a formosura do Serra vai convencer alguém a votar nele?

Valor: O PDT tem pretensão de ter mais ministérios?

Lupi: Quando falamos isso, nenhum jornalista acredita, mas é a mais pura verdade. Nunca condicionamos isso.

Valor: Mas o PDT prevê uma bancada maior.

Lupi: Primeiro nós temos que vencer a eleição. Segundo, fazer essa bancada. Depois sentar e ver o que o partido quer.

Valor: Qual Pasta?

Lupi: Juro por Deus, não pensei nisso. Quem faz a Pasta é quem está nela. Pega a divulgação do Ministério do Trabalho durante o primeiro governo Lula e pega agora.

Valor: Mas o senhor pegou os melhores resultados, a economia estava melhor.

Lupi: A sorte não acontece para quem não trabalha. Na hora da crise, todos diziam que o mundo iria acabar, eu disse que iria gerar 1 milhão de empregos. Nos financiamentos, aumentaram taxa de juros. Abaixei as taxas de juros do FGTS e do FAT, nas linhas de crédito oferecidas pelo BNDES, BB e Caixa. Ajudei a dar o resultado. Na hora da crise, obrigamos que as empresas que recebessem recursos do BNDES garantissem o emprego. Todo mundo me bateu. Quinze dias depois, Obama fez o mesmo.

Valor: Qual é sua posição sobre a redução da jornada de trabalho?

Lupi: Sempre fui e continuo a favor. Todo mundo dizia que o país iria quebrar com a redução de 48 para 44 horas. Diminuiu e ninguém quebrou. É a mesma coisa quando aumenta o salário mínimo. Aumentou 64% acima da inflação e nenhuma empresa quebrou. As pessoas têm que ter consciência que mais salário é mais renda, produção, emprego e riqueza.

Valor: Dilma defende solução negociada entre patrão e empregado sem a aprovação do projeto de lei que está no Congresso. E o senhor?

Lupi: Sou pela nova lei.

Valor: O senhor apoiou o voto Dilmasia em Minas. É uma tentativa de aproximação com Aécio Neves?

Lupi: O Aécio é meu amigo há mais de 20 anos.

Valor: Ele comporia essa frente ampla defendida por Lula?

Lupi: Estou na etapa do meu partido apoiar o Aécio em Minas, estamos com ele desde o primeiro dia de governo. O Aécio é um outro PSDB. Uma coisa é o PSDB do Serra, outra é o PSDB do Aécio. Tanto é que o PSB está com o Aécio, que apoiou o PT para a prefeitura. Minas tem as montanhas que protegem a independência do Estado.

Valor: O senhor defende o bloco PT-PSB-PDT-PCdoB para fazer frente ao crescimento do PMDB?

Lupi: Não trabalho com a tese de fazer frente a ninguém. A ideia é fortalecer o partido, crescer e somar forças com quem pensa igual. Se o PDT faz 40, o PT faz 90, o PSB faz 35, nós já temos uma força grande.

Valor: Mas o PMDB deve aumentar bancada.

Lupi: Não acredito em aumento significativo. DEM, PPS, PSDB vão perder. Não dá para crescer numericamente todo mundo. O PMDB tem 80, vai fazer 85, no máximo 90. É uma questão de correlação de forças, proporcionalmente PT, PDT e PSB ganharão peso.

Valor: O senhor é favorável à constituinte exclusiva?

Lupi: Sou a favor. Deve ser constituinte eleita somente para o fim da reforma política porque não se contamina. Como fazer reforma eleitoral com quem é beneficiário dela da lei atual?