Título: Papéis da Petrobras despencam com incertezas e especulação sobre oferta
Autor: Cutait, Beatriz
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2010, Eu e Investimentos, p. D3

De São Paulo

As incertezas sobre o processo de capitalização gigante da Petrobras voltaram a pesar sobre os papéis da empresa ontem. As ações preferenciais (PN, sem voto) da estatal caíram 5,12%, para R$ 26,85, enquanto os papéis ordinários (ON, com voto) cederam 4,80%, para R$ 30,14.

Os próprios analistas e operadores de mercado estão confusos com o movimento dos papéis, já que era esperada uma atuação mais forte na ponta compradora ontem. Os interessados na oferta prioritária da Petrobras, reservada aos atuais acionistas da estatal, tinham até ontem para comprar o papel. Isso porque o valor de reserva das ações será de 34% do que eles possuírem em custódia nos dias 10 e 17 deste mês. Como a liquidação dos negócios ocorre em três dias (D+3), os interessados precisariam comprar as ações até ontem para tê-los na custódia dia 17. Mas o que se viu foi muito mais gente querendo vender.

Uma das explicações para a forte baixa seria uma simples correção em relação à alta de segunda-feira. Naquele dia, o papel PN subira 2,83% e o ON, 2,03%. Outros analistas, entretanto, apontaram que já foi dada a largada para se pressionar para baixo o preço final da oferta, que será definido no dia 23 e levará em conta as cotações do mercado.

O fato é que diversos entrevistados enfatizaram a preocupação dos investidores e as incertezas sobre participar ou não da oferta de ações da Petrobras. Um gestor que está acompanhando a procura dos investidores para aderir à oferta via fundos apontou que a demanda está fraca. "O pessoal está muito desanimado com a falta de informação e vai acabar deixando de entrar", disse. Além disso, o processo está sendo muito rápido. "Foram três meses para decidir o preço do barril de petróleo na cessão onerosa e agora foi dada apenas uma semana para o investidor entrar na oferta", pontuou.

Um operador de outra gestora, voltado ao atendimento do pequeno investidor, comentou que a queda dos papéis da Petrobras está assustando os aplicadores e afastando-os ainda mais da capitalização. Desde o detalhamento da oferta da estatal, no dia 3, as ações ON da empresa já caíram 7,9%, enquanto os papéis PN recuaram 6,8%. No mesmo período, o Ibovespa acumulou alta de 1,5%.

"Cada vez mais essa indefinição da capitalização da Petrobras está deixando o investidor pessoa física inseguro e, com a queda dos papéis de ontem, aumentou ainda mais essa desconfiança", diz esse operador.

Já o responsável por uma grande gestora de recursos, que pediu para não ser identificado, atribui a queda à expectativa com a entrada de até R$ 124 bilhões em novas ações daqui uma semana. "Diante desse caminhão de papéis, o investidor pára de comprar e espera para ver, porque esse preço não vai subir com essa oferta toda, mas cair", diz. Sem muitos compradores, os papéis acabam caindo ainda mais.

Corretoras informam que há muitas consultas de investidores, mas poucas aberturas de cadastro para participar e poucas reservas. Mas esse movimento seria normal, uma vez que o investidor costuma deixar para o último dia para comprar.

Dois executivos de instituições que participam da oferta deram visões diferentes sobre seu andamento. Um, de uma instituição nacional, disse que a venda estaria indo "de vento em popa". Já outro, de uma instituição estrangeira, que também pediu para não ter seu nome citado, disse que voltou de uma apresentação a investidores no exterior e que o interesse pelas ações é muito baixo a esse nível de preço. Apenas hedge funds, mais especulativos, teriam demonstrado interesse, para vender no curtíssimo prazo.