Título: Fundo soberano pode comprar dólar
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2010, Finanças, p. C1

De Brasília O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está preocupado com a valorização do real, de 3,04% do dia 31 de agosto até ontem. Os técnicos da área econômica avaliam possibilidades de medidas cambiais com o cuidado de não produzir "marolas" às vésperas das eleições presidenciais, mas sabem que são poucas as alternativas. "O que há é mais do mesmo", sintetizou uma fonte do governo. Uma ideia é reforçar as compras de dólar que o Banco Central tem feito com o uso de parte dos recursos do Fundo Soberano do Brasil, para frear a valorização do real às vésperas da oferta pública de ações da Petrobras.

Outra medida, que depende unicamente do BC, é voltar a colocar contratos de "swap cambial reverso", operação que equivale à compra de dólares no mercado futuro. Desde que Mantega declarou, na semana passada em Recife, que não permitirá que o dólar "derreta" e anunciou que o governo vai "tomar as medidas necessárias para impedir a valorização indevida ou excessiva (do real)", os técnicos da área econômica começaram um trabalho frenético em busca de alternativas. Chegaram a cogitar a redução da exposição cambial dos bancos, mas concluíram que seria uma providência sem sentido e que o único instrumento disponível hoje seria comprar mais dólares no mercado. A exposição cambial vendida dos bancos à vista era, no fim de agosto, de US$ 13,7 bilhões. Pelas regras do BC, a exposição é limitada a até 30% do patrimônio de referência. O que os técnicos relatam é que as operações vendidas dos bancos estão totalmente hedgeadas.

Para usar uma parte dos cerca de R$ 16 bilhões de patrimônio do Fundo Soberano, é necessária a aprovação do Conselho Deliberativo do fundo, instância responsável por determinar como serão aplicados os recursos formada pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do BC. Para aprovar resoluções, porém, não se exige unanimidade. "O momento é uma tempestade perfeita para o real", observou uma outra fonte oficial. O dólar está se desvalorizando frente a todas as moedas do mundo, os juros no Brasil continuam muito mais altos que as taxas internacionais e está em curso uma megaoperação de oferta pública de ações da Petrobras.

A expectativa é de que o mercado de câmbio se acalme depois da capitalização da Petrobras, e que o mercado passe a olhar mais as contas externas do país, com o aumento do déficit em transações correntes do balanço de pagamentos que deveria levar a uma desvalorização do real e não a uma valorização.

A possibilidade de medidas mais ousadas é proporcional ao descolamento do real diante das principais moedas do mundo. Enquanto a desvalorização do dólar for um movimento mundial, resta pouco a fazer a não ser intensificar as compras de dólar, alegam fontes do governo. O Tesouro, por exemplo, está demandando mais moeda estrangeira desde que foi autorizado a comprar no mercado o equivalente a dívidas vincendas nos próximos dois anos.