Título: Dólar amplia perdas diante da maior parte das divisas globais
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Fonte: Valor Econômico, 15/09/2010, Finanças, p. C2

De Nova York

O dólar caiu ontem ao menor nível em relação ao iene em 15 anos, depois que aumentaram as especulações de que o Federal Reserve (Fed) vai comprar mais títulos do Tesouro dos Estados Unidos este ano, para ajudar a sustentar o crescimento, uma vez que a recuperação da economia americana vem se mostrando instável.

A moeda americana perdeu força diante de 15 das 16 moedas com as quais é mais negociada, recuando para a paridade com o franco suíço pela primeira vez desde dezembro e caindo para US$ 1,30 contra o euro pela primeira vez desde 11 de agosto.

O iene foi negociado abaixo de 83 ienes por dólar pela primeira vez desde 1995, depois que o primeiro-ministro Naoto Kan venceu Ichiro Ozawa em uma votação pela liderança do Partido Democrático do Japão ontem, reduzindo a probabilidade do governo vir a enfraquecer a moeda. "O enfraquecimento do dólar é apenas um subproduto de um quadro mais amplo, que é a baixa e a queda das ações e rendimentos dos títulos americanos, que, no geral, aparentam estar em boa forma", diz Richard Franulovich, estrategista de câmbio sênior do Westpac Banking Corp. em Nova York. "As especulações de que o Fed poderá adotar medidas de política monetária sempre são uma fonte de risco para o dólar".

O dólar chegou a cair 0,7% para 83,09 ienes em Nova York ontem, depois de bater nos 82,93 ienes, a maior queda desde 31 de agosto e o nível mais forte atingido pelo ienes desde maio de 1995. O euro ganhou 1,1% para US$ 1,3020.

Economistas do Goldman Sachs acreditam que o Fed poderá anunciar em novembro um programa de compra de ativos para dar suporte à economia americana. As aquisições do Tesouro poderão somar cerca de US$ 1 trilhão em mais uma rodada de afrouxamento quantitativo da política monetária, segundo Jan Hatzius, principal economista do Goldman Sachs para os Estados Unidos.

O banco de investimento de Nova York projetou corretamente que os rendimentos vão cair em 2010, com o enfraquecimento da recuperação econômica, e prevê que os títulos do Tesouro de 10 anos terminarão o ano com um rendimento de 2,5%. A "Bloomberg" informou as estimativas do Goldman Sachs na segunda-feira.

O franco suíço registrou a maior valorização contra as 16 moedas com que é mais negociado. Ele subiu 1,2% em relação ao dólar, para 0,9953 dólar, alcançando a paridade pela primeira vez desde 4 de dezembro. A moeda suíça valorizou 0,2% contra o euro, para 1,2958. Tradicionalmente, os investidores compram o franco suíça em momentos de turbulências financeiras e econômicas, por causa da percepção da estabilidade da economia da Suíça, uma vez que o superávit comercial do país o libera da dependência do capital internacional.

Moedas que vêm se beneficiando o crescimento econômico, como a coroa sueca e as moedas de países produtores de commodities como a Noruega e a Austrália, ganharam força ontem depois que os preços das matérias-primas avançaram.

E, contrapartida, o índice de ações MSCI World Index subiu 0,5% e o índice Reuters/Jefferies CRB, de matérias-primas, ganhou 1%. Os rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro americano caíram 2,8%.

A coroa sueca e a coroa norueguesa subiram 1,2% contra o dólar. O dólar australiano chegou a avançar 0,9% para 94,46 centavos de dólar americano, o maior nível desde julho de 2008.

"Há uma tendência contínua aqui, com um enfraquecimento generalizado do dólar", disse ontem Fabian Eliasson, diretor de vendas de câmbio do Mizuho Financial Group nos Estados Unidos. "Trata-se de um cenário de risco."

O iene acumula uma valorização de 14% no ano contra uma cesta de moedas de dez nações desenvolvidas, sendo o melhor desempenho do grupo segundo os índices Bloomberg Correlation-Weighted Currency. A força da moeda vem levando os formuladores da política monetária a considerar medidas para conter a valorização, que torna os produtos dos exportadores japoneses mais caros.

No começo da terça-feira, o euro caiu e relação à maioria das 16 moedas com as quais é mais negociado, depois que a confiança do investidor alemão caiu aos níveis mais baixos desde fevereiro de 2009.