Título: Em desvantagem, Paim retoma ataque ao fator previdenciário
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2010, Política, p. A7

De Porto Alegre

Em posição desconfortável nas pesquisas na reta final da campanha, o senador Paulo Paim (PT-RS) vai retomar o discurso pelo fim do fator previdenciário para tentar buscar os votos que lhe faltam para garantir a reeleição. O projeto do petista que acaba com o mecanismo responsável pela redução das aposentadorias dos trabalhadores do setor privado, criado no governo Fernando Henrique Cardoso, foi aprovado no Senado e tramita na Câmara, mas até agora o assunto ficou de fora dos programas do candidato no horário eleitoral.

O problema de radicalizar o discurso e apelar para a exposição da briga pelo fim do fator é que o tema desagrada o PT, o governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em junho vetou emenda semelhante do deputado catarinense Fernando Coruja (PPS-SC), embutida na medida provisória de reajuste do salário mínimo. Na época, Lula sancionou um aumento de 7,7% para os aposentados que recebem mais de um mínimo.

O próprio senador sabe que o assunto é delicado e vai se esforçar para não entrar em rota de colisão com o governo. "Vou mostrar que o veto do presidente Lula foi para a emenda do [deputado] Coruja e não para o meu projeto", afirma. Para ele, esse é um detalhe que faz diferença. "Um dos meus principais objetivos para 2011 será acabar com o fator, mas não posso centralizar a campanha em um ou outro tema", acrescenta.

Junto com o aumento do salário mínimo, a extinção do fator previdenciário é uma das principais bandeiras políticas de Paim. Só que ela também vinha provocando desconforto para os deputados federais petistas, cobrados nas visitas às suas bases eleitorais para dar apoio à iniciativa, vista pelos dirigentes petistas como inviável sem um longo período de transição e sem uma forte elevação da formalização do trabalho e das receitas da Previdência.

Por conta disso, Paim acabou transitando em faixa própria dentro do partido até o início da disputa eleitoral deste ano, mas aos poucos ele começou a seguir as orientações do comando da campanha petista no Estado. Agora ele está "completamente sintonizado com o PT", afirma o secretário-geral do partido e coordenador-executivo da campanha no Rio Grande do Sul, Carlos Pestana. Segundo ele, o voto dos aposentados já está "consolidado" em favor do senador.

Sintonizados com o partido, os programas de Paim seguiram uma linha mais moderada até agora, centrados em projetos apresentados por ele como os estatutos do idoso, da igualdade racial (ambos já sancionados) e das pessoas portadoras de deficiência (em tramitação na Câmara). O presidente Lula e a candidata do partido à Presidência, Dilma Rousseff, também gravaram participações pedindo votos para o senador e as cenas foram repetidas várias vezes no horário eleitoral.

Só que tudo isso não foi suficiente para fazer o candidato à reeleição decolar nas pesquisas. No último levantamento do Datafolha, divulgado sábado, ele tinha 39% da preferência do eleitorado e perdia, dentro da margem de erro, para o ex-governador Germano Rigotto (PMDB), que somava 41%, enquanto a estreante Ana Amélia Lemos (PP), jornalista, liderava com 49%. Na pesquisa Ibope publicada no início do mês, o senador tinha 40%, contra 38% de Rigotto e 49% de Ana Amélia.

Mesmo assim, Paim afirma estar "tranquilo". Ele lembra que na primeira disputa para o Senado, em 2002, ele aparecia em quarto lugar nas pesquisas finais, mas acabou eleito por uma margem apertada na segunda posição. Naquele ano, Paim obteve 19,07% dos votos válidos, atrás do petebista Sérgio Zambiasi (26,32%) e à frente da também petista Emília Fernandes (18,30%) e de José Fogaça, do PPS (16,44%), que tentavam a reeleição.

Para melhorar o desempenho do senador, o PT tenta turbinar a campanha da outra candidata da chapa ao Senado, Abgail Pereira, do PCdoB. A intenção é evitar que o segundo voto dos eleitores de Paim vá para Ana Amélia ou Rigotto, que concorrem sozinhos por suas respectivas coligações, e para isso o partido decidiu "colar" Abgail na agenda do candidato do partido ao governo gaúcho, Tarso Genro, que lidera as pesquisas de intenção de voto e tem possibilidades de vencer a disputa ainda no primeiro turno.

A estratégia foi adotada desde o mês passado e já permitiu à candidata do PCdoB crescer de 1% para 7% de julho a setembro, segundo o Datafolha, e de 2% para 6% no mesmo período, de acordo com o Ibope. Mas para provocar um impacto positivo para a candidatura de Paim na disputa com seus adversários diretos, os petistas têm como meta elevar o desempenho de Abgail para 15% da preferência do eleitorado até o fim da campanha.