Título: Mantega afirma que pode adotar medidas para conter câmbio
Autor: Ennes, Juliana
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2010, Finanças, p. C2

Do Rio

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que vai atuar para evitar que a moeda brasileira se desvalorize excessivamente. Mesmo reiterando que o câmbio brasileiro continuará sendo flutuante, Mantega disse que o governo tem cacife suficiente para atuar contra a entrada de dólares no processo de capitalização da Petrobras, que está atraindo investidores estrangeiros. Além das medidas convencionais, como atuação direta do Banco Central na compra de moeda estrangeira, e até mesmo o swap cambial, o país poderá recorrer a compra de dólares pelo Fundo Soberano e a medidas prudenciais.

"O governo brasileiro tem cacife para bancar qualquer tamanho de operação da Petrobras. O Fundo Soberano tem recursos ilimitados, porque é o caixa do Tesouro", disse Mantega.

Segundo ele, o Fundo Soberano pode comprar o quanto for necessário, e o Banco Central também tem um cacife grande, podendo comprar o quanto for necessário de dólares.

A atuação do Fundo Soberano tem duas frentes diferentes. A primária é a utilização direta dos recursos do Tesouro já colocados no fundo cambial que faz parte do Fundo Soberano. Até agora, nenhum recurso desse fundo foi utilizado.

Além disso, o Fundo Soberano pode receber recursos do Tesouro para comprar dólares. Nesse caso, não se trata dos recursos orçamentários, mas de uma conta financeira, com troca de reais por dólares. O Tesouro emitiria títulos públicos e colocaria os recursos no Fundo Soberano, capitalizando-o para comprar dólares no mercado, atuando da mesma forma que o BC.

Outra forma de tentar segurar o câmbio são os mecanismos prudenciais, atuando no mercado de derivativos. Os bancos precisam ter mais capital próprio para determinadas operações, reduzindo o risco de crédito. "Se uma instituição financeira vai fazer uma operação cambial você pode exigir que ela tenha mais capital próprio, ou que ela só compromete até um determinado percentual do capital em uma operação cambial. Com isso, você limita", disse o ministro No entanto, Mantega frisou que o governo não tem meta para o câmbio.

O ministro da Fazenda disse ainda que, quando for ao G-20, em outubro, voltará a colocar com mais veemência a preocupação do Brasil em relação ao câmbio internacional e vai fazer apelo para que os países se entendam. "Os países estão se movimentando. O Japão fez um movimento forte para impedir a valorização do iene. Parece que isso é algo orquestrado com outros asiático. Não são só os asiáticos que querem desvalorizar suas moedas. Estados Unidos e Europa também querem sair da crise econômica com exportação", disse ontem, em evento no Rio de Janeiro.

Mais cedo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a autoridade monetária está sempre alerta a "sinais de desequilíbrios" na economia, mas evitou comentar diretamente a recente valorização do real. "Nós estamos sempre procurando sinais de desequilíbrios, bolhas e etc, e sempre estamos alertas para que não haja desequilíbrios na economia", afirmou.