Título: Governo ameaça e dólar sobe mais de 1%
Autor: Eduardo Campos
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2010, Finanças, p. C2

O que mudou de terça para a quarta-feira para justificar uma alta de mais de 1% no preço do dólar? Considerando os fundamentos, nada. O que levou os investidores às compras foram os pronunciamentos, para não dizer ameaças, de membros do governo, aliados aos comentários dando conta, novamente, de um leilão de swap cambial reverso, operação que na prática significa a compra de dólares no mercado futuro.

O pregão já começou movimentado, pois os agentes acompanhavam a repercussão da atuação do Banco do Japão (BoJ) para conter a valorização do iene, que fazia máximas em 15 anos ante o dólar.

Já por volta das 12h30, tanto o dólar comercial quanto o futuro fizeram as máximas do dia. Foi nesse momento que passou a circular nas mesas a possibilidade de um leilão de swap reverso. Mesmo com as instituições negando que tenham sido consultadas pelo Banco Central, o preço já não voltou a oscilar nos patamares anteriores.

Comentário sobre swap deixa vendido desconfortável

No fim da jornada, o dólar valia R$ 1,727, alta de 1,11%. Maior valorização percentual diária desde 29 de junho e primeira alta após 10 dias seguidos de baixa. (veja gráficos abaixo)

A essa desconfiança somou-se a fala do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo tem "cacife" suficiente para atuar contra a entrada de dólares decorrente do processo de capitalização da Petrobras. Novamente o ministrou falou que, além das compras tradicionais à vista, o governo pode atuar via Fundo Soberano e swap reverso.

Mantega também falou em mecanismos prudenciais, como aumentar a exigência de capital próprio para operações cambias ou limitar o percentual de exposição cambial das instituições com relação ao patrimônio.

O resultado de tudo isso foi um ambiente desconfortável ao vendidos. Instalou-se a desconfiança e, com o tal leilão de swap no radar, alguns agentes ficaram até mais tarde nas corretoras de olho no Sisbacen para ver se não saía o comunicado oficial de verificação de demanda. Mas nada apareceu no sistema de comunicação do BC com o mercado.

Ainda durante o pregão foi verificada um tática de operação conhecida como espelho. São colocadas grandes ordens de venda no mercado para chamar vendedores. Quando esses aparecem, o agente cancela essas ordens de venda e parte para a compra. "Isso dá um ar de venda no mercado, mas o que esse agente quer, mesmo, é comprar moeda. Ele faz isso para tentar pagar a um preço menor", diz um operador que preferiu não se identificar.

Sistemas automáticos de negociação, que executam ordens previamente programadas, também ajudam a explicar os movimentos de repique de preço, quando a moeda ganha 20 ou 30 pontos em poucos segundos.

Os maiores compradores do dia no mercado futuro foram um grande banco nacional, que até a segunda-feira era vendedor firme de opções. E uma instituição americana.

Resta saber se esse clima de incerteza continua válido nesta quinta-feira. Não se pode descartar, também, que os agentes aproveitam a agitação para ajustar suas posições. Afinal, depois de 10 dias seguidos de baixa, há lucros para se embolsar.

Fora isso, a máxima "cão de que ladra não morde" é utilizada pelos operadores quando comentam as ameaças do governo. Ou seja, se depois dessa agitação toda, nada de concreto acontecer, as ordens de venda voltarão a pautar o mercado.