Título: Eletrobras será mais ousada nos EUA
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2010, Empresas/Infraestrutura, p. B11

De Washington

A Eletrobras avalia "três ou quatro possibilidades de parceria" com empresas americanas para entrar no mercado de distribuição de energia elétrica dos Estados Unidos, informou ontem o assessor de tecnologia da empresa, Djamil de Holanda Barbosa.

Depois de analisar o mercado americano, a estatal brasileira concluiu que tem tecnologia avançada o suficiente para deter uma participação relevante ou até mesmo majoritária num eventual empreendimento. Em julho, a empresa havia anunciado que, num primeiro momento, iria comprar uma participação de cerca de 5% num empreendimento nos Estados Unidos para aprender um pouco mais do mercado americano antes de montar uma operação mais significativa. Agora, a avaliação é que pode andar num passo um pouco mais rápido.

A empresa brasileira também detém tecnologia de ponta, afirma Barbosa, na geração de energia eólica, por isso já começou a conversar com possíveis parceiros americanos para entrar nessa área. "Estamos à frente quando o assunto é tecnologia eólica", afirmou o técnico. A Eletrobras, por outro lado, acha que pode se beneficiar da tecnologia americana na geração de energia solar e também na produção de eletricidade a partir do lixo.

Barbosa participou ontem de um seminário sobre inovação realizado em Washington. O evento reuniu especialistas brasileiros e americanos e foi organizado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, pelo Movimento Brasil Competitivo e pelo Conselho de Competitividade dos Estados Unidos.

Segundo Barbosa, a busca de parcerias nos Estados Unidos faz parte da estratégia de internacionalização da Eletrobras, determinada pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva. "O presidente Lula orientou a empresa a se tornar uma Petrobras do setor de energia elétrica", afirmou Barbosa.

A companhia deu recentemente alguns passos importantes no seu movimento de internacionalização, ao fechar contrato para construir usinas no Peru, na Nicarágua e também na Argentina. Além dos Estados Unidos, estão sendo negociadas parcerias em Moçambique.

O presidente americano, Barack Obama, lançou um projeto para interligar o sistema elétrico do país. Atualmente, as redes são fragmentadas e sem comunicação porque a regulação do setor é feita pelos Estados.

O Brasil já interligou seu sistema elétrico e, segundo Barbosa, tem bastante conhecimento para atuar na área. "Temos uma expertise que interessa aos Estados Unidos", afirmou ele. Em julho, a Eletrobras anunciou que irá destinar cerca de US$ 500 milhões para investimentos apenas nos Estados Unidos.

Obama também se empenha em expandir o uso de energias limpas nos Estados Unidos, incluindo a energia eólica. "A energia eólica já é um fato no Brasil", afirma Barbosa, após a significativa participação da iniciativa privada nos leilões desse tipo de energia realizados pelo governo brasileiro.

Mas o Brasil tem muito a aprender, afirma, sobre tecnologias de produção de energia solar. Os Estados Unidos têm a maior unidade de produção de energia solar do mundo, no deserto de Mojave, que fica nos Estados de Nevada e Califórnia. O Brasil tem o terceiro maior potencial para a geração de energia solar, diz Barbosa, depois dos Estados Unidos e o norte da África.

O Brasil também está desenvolvendo pesquisas, tomando como base a experiência americana, para o possível aproveitamento do lixo para a produção de energia elétrica. O lixo no Brasil, afirma Barbosa, tem uma maior participação de compostos orgânicos, por isso seu potencial para produzir energia é um pouco menor do que o americano, mas mesmo assim as pesquisas apontam para viabilidade econômica do projeto.

A Eletrobras tem interesse ainda em tecnologias americanas que possam reduzir o impacto ambiental de projetos de geração de energia hidroelétrica, como por exemplo turbinas que permitam produzir mais energia com reservatórios menores de água.