Título: BC americano admite estímulo à economia
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2010, Finanças, p. C2

Uma economia que não cresce e, agora, com risco maior de deflação. Esse é o recado dado pelo comunicado que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, apresentou ontem, quando optou pela estabilidade do juro básico entre zero e 0,25% ao ano.

Ainda assim, as bolsas americanas chegaram a operar em alta após a divulgação do comunicado e, de fato, o Dow Jones fechou com alta de 0,07%.

Além de dedicar mais linhas ao comportamento da inflação, outra mudança que chamou atenção no comunicado foi que a autoridade monetária atuará, caso necessário, não só para dar suporte à atividade, mas também para levar a inflação ao patamar condizente com o seu mandato de pleno emprego e estabilidade dos preços.

Segundo o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, essa maior atenção ao comportamento dos preços mostra que a autoridade monetária deu um passo adiante rumo à adoção de novas medidas de estímulo.

De acordo com Leal, se o Fed quisesse ficar neutro, apenas repetia o comunicado da reunião passada. Mas como colocou essas novidades, evidenciando maior preocupação com a deflação, fica a expectativa de uma nova rodada de ajuda.

O economista lembra que, na reunião de 3 de novembro, o Fed revisará seus prognósticos de crescimento para a economia. Se as revisões forem para baixo, o Fed tem uma boa desculpa para lançar mão de novas medidas.

O aceno do Fed, de atuar caso necessário, também ditou o rumo nos mercados de câmbio e de juros, tanto no mercado externo quanto por aqui.

No câmbio local, os agentes que já estavam desencantados com a ausência do Fundo Soberano do Brasil (FSB), ganharam mais um estímulo à venda de dólar. O comunicado do Fed derrubou a moeda americana no mundo todo. O euro, por exemplo, ganhou mais de 1%, retomando a linha de US$ 1,32, algo que não acontece desde o começo de agosto.

Por aqui, o dólar comercial caiu 0,57%, para 1,718. No mercado futuro, onde o horário de negociação é maior, as vendas foram mais acentuadas e o contrato para outubro fechou com baixa de 1,26%, a R$ 1,7155.

Os agentes que esperavam alguma atuação do governo e se posicionaram para isso, se viram obrigados a zerar suas posições, o que acentuou o movimento de baixa.

Conforme notou o gestor da Vetorial Asset, Sérgio Machado, quanto mais tempo o governo demora a agir, mais parceiros ele perde.

A lógica aqui é a seguinte: ao falar que não quer ver o dólar em baixa, o governo chama parceiros para atuar com ele. Afinal, cria-se a expectativa e os agentes se posicionam. Mas quando a autoridade não faz nada, quem ira ajudar, desiste e torna a vender.

Dito isso, Machado aponta que se o Banco Central (BC) - ou mesmo FSB - não fizer nada logo no começo do dia, o dólar comercial abre o pregão desta quarta-feira na linha de R$ 1,70.

A questão é técnica, já que há um hiato grande entre os preços à vista e futuro. E isso precisa ser ajustado.

Encerrando com o mercado de juros, os contratos tinham espaço para subir, depois que o IPCA-15 mostrou inflação de 0,31% em setembro. Mas a movimentação externa acabou preponderando.

Os contratos futuros acabaram seguindo a taxa de retorno dos treasuries americanos, que caiu de forma acentuada após a reunião do Fed. Vale lembrar que quanto menor a taxa maior a demanda pelos títulos americanos.