Título: Petrobras conclui megaoferta
Autor: Torres , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2010, Investimentos, p. D1
A capitalização da Petrobras, que deve ser concluída hoje, vai engordar o caixa da estatal com algo entre R$ 35 bilhões e R$ 55 bilhões, a depender da decisão da companhia de vender ou não integralmente o lote adicional de ações, que equivale a 20% da distribuição inicial.
Do total da oferta pública de papéis, que deve variar entre R$ 111 bilhões e R$ 132 bilhões, R$ 74,8 bilhões serão usados pela empresa para comprar, da União, os 5 bilhões de barris de óleo que serão explorados no pré-sal. Somente a parcela restante fica no caixa da companhia.
A injeção dos recursos ocorre pouco mais de um ano após o anúncio da operação e com a estatal já bastante próxima do limite de endividamento autoimposto, de 35% na relação entre a dívida e sua capitalização líquida. O dinheiro captado na operação será usado para custear parte do plano de investimento de US$ 224 bilhões da estatal até 2014.
A conclusão oficial da oferta será comemorada amanhã, em cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de ministros na sede da BM&FBovespa, em São Paulo.
Segundo o Valor apurou, a parcela prioritária da oferta, de aproximadamente R$ 85 bilhões, foi integralmente subscrita pelos atuais acionistas da empresa, com destaque para o governo, que atuou como um comprador de última instância das sobras.
Os investidores domésticos, sejam individuais ou institucionais, teriam acompanhado bem a primeira etapa da oferta, conforme informações de mercado. Já os estrangeiros com American Depositary Receipts (ADRs), que detêm 37% do capital da empresa, teriam ficado de fora da prioritária por conta dos custos envolvidos na conversão dos recibos em ações.
Foi principalmente sobre essa fatia dos estrangeiros que o governo avançou, o que vai permitir que a União aumente sua fatia no capital total da companhia para algo próximo de 45%.
Pela parcela que possui do capital da Petrobras, de 39,8%, a União - incluindo Tesouro Nacional, Caixa Econômica Federal, BNDES e Fundo Soberano - teria direito de comprar cerca de R$ 33 bilhões na oferta prioritária.
Mas segundo fonte de mercado o governo teria subscrito entre R$ 65 bilhões e R$ 70 bilhões na primeira etapa da distribuição.
Para a parcela que foi ofertada abertamente ao mercado, de R$ 21,2 bilhões, até ontem havia demanda para compra de mais de R$ 30 bilhões, o que garantia tranquilamente a venda do lote suplementar, de R$ 5,3 bilhões, que poderá ser usado pelo banco Morgan Stanley para estabilizar o preço da ação após a oferta - serviço tradicional de operações desse tipo.
Havia dúvida ainda se a companhia venderia integralmente ou não o lote adicional, que pode somar mais R$ 21 bilhões. Parte desse extra pode ser comprada pelo próprio governo, que não teria conseguido alocar os R$ 74,8 bilhões pretendidos apenas na oferta prioritária.
A dúvida nesse caso é basicamente de preço e também de dosagem da demanda.
A oferta está aberta ainda hoje. Mas, segundo fontes de mercado, somente alguns investidores, que ainda estão realizando as últimas reuniões com a companhia, é que devem entrar. A maioria do mercado registrou suas intenções de investimento até ontem. De acordo com as informações, boa parte da demanda da oferta aberta foi de estrangeiros que aplicam em recibos de ações (ADRs).
Os detentores desses recibos não puderam participar da oferta prioritária. Quem quisesse entrar deveria antes converter os ADRs em ações locais. Porém, o custo para essa transformação desestimulou esse aplicador - cerca de 4% somente com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Além disso, a oferta prioritária não era formadora do preço. Somente na parcela aberta ao público (20% do total) o investidor tem a capacidade de influenciar o valor das ações na colocação. Assim, o estrangeiro preferiu ficar nessa etapa. Já os locais, em geral, acompanharam seu direito de subscrição na oferta prioritária.
A explicação do apetite dos internacionais, a despeito da polêmica que envolveu a maior operação de ações do mundo, é técnica. Com receio sobre as indefinições que pairavam sobre a empresa, o estrangeiro vendeu antes parte de suas aplicações. Agora, na expectativa de que a empresa amplie a participação nos principais índices de mercado, decidiu garantir aderência a esses indicadores. Se ficasse fora da oferta, acabaria descolado da composição desses índices e, assim, de seu desempenho.
No pregão de hoje, os papéis da estatal ainda devem mostrar instabilidade, por conta da expectativa da conclusão da oferta.
Desde o dia anterior ao anúncio oficial da operação (2/9), as preferenciais da estatal recuaram 5,87%, para R$ 25,98, e as ordinárias caíram 4,99%, para R$ 29,68.
A queda dos papéis tem efeito positivo sobre o interesse dos investidores, pois amplia a expectativa de valorização dos ativos passada a oferta.
Persistia a expectativa de que o preço final, que será conhecido hoje à noite, fique em torno de R$ 26 e R$ 25, para as preferenciais. É comum que haja desconto em relação ao fechamento do dia.