Título: Para economistas, ação do governo é ineficaz
Autor: Bittencourt , Angela
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2010, Finanças, p. C8

Nos últimos dias, o governo vem emitindo sinais de grande preocupação com a trajetória de valorização cambial em curso. Apenas no mês de setembro, a moeda americana perdeu 2,16% em relação ao real. O que está por trás desse movimento e as consequências desse fenômeno estão no centro do debate de especialistas. Para o economista Marcio Garcia, professor da PUC-Rio, "juros anormalmente altos", que atraem capital além do que viria para investimentos, agravam a tendência de valorização cambial.

Já Carlos Eduardo Gonçalves, professor da FEA-USP, considera que "não é a arbitragem de mercado financeiro que leva a essa maciça entrada de recursos", mas investimento para portfólio, ações e Investimento Estrangeiro Direto. "O pós-crise é favorável não só porque o juro do título é alto, mas porque aqui estamos muito ligados ao centro de crescimento nos próximos anos", afirma.

É consenso, entretanto, que todas as possibilidades cogitadas até aqui para segurar os ganhos do real são ineficazes e, mais que isso, custam caro. "Considerando os títulos do Tesouro americano de 10 anos, na ordem de 2,5%, e o juro aqui dentro em 10,75%, o custo será de US$ 20 bilhões por ano. É muito dinheiro. Se continuar acumulando reservas, a cada US$ 10 bilhões, o custo é de US$ 800 milhões por ano. É muita grana", calcula Marcio Garcia, que defende um ajuste fiscal como a principal ação que poderia vir a ser adotada pelo governo - embora, até aqui, esse ponto não tenha entrado na pauta. "Essa é evidência mais forte que a gente tem: ajustes fiscais mais fortes levam à depreciação da taxa de câmbio", concorda Gonçalves.

Para ele, a possibilidade de compras de dólares pelo Fundo Soberano teria eficácia limitada. "O problema é que, alguma hora, (o fundo) vai ter de internalizar esse dinheiro e terá um impacto (sobre o câmbio)", explica.