Título: PSDB se divide sobre tom de ataques e PV foca nas mulheres de baixa renda
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2010, Política, p. A6

As mudanças, ainda que pequenas, na preferência do eleitorado, detectadas pela mais recente pesquisa do Datafolha, foram suficientes para animar os presidenciáveis José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) e levá-los a uma reavaliação de suas estratégias, na tentativa de impedir que a corrida presidencial acabe no primeiro turno.

Enquanto a coordenação de campanha de Dilma Rousseff minimiza os dados, seus concorrentes encontraram nos números um motivo de estímulo na reta final.

Os tucanos querem consolidar, nos próximos dez dias, a estratégia da última semana. Esperam que a campanha de Dilma perca tempo na defensiva, explicando as acusações que envolvem sua ex-subordinada e substituta na Casa Civil, Erenice Guerra. Enquanto isso, venderão a imagem de Serra como aquele com propostas mais imediatas à população (aumento para aposentados, 13º do Bolsa Família, R$ 600 de salário mínimo). "O cenário voltou a ser propício à comparação", atesta um dos formuladores da campanha na TV.

Marina Silva não será atacada, até porque interessa aos tucanos seu crescimento. As dúvidas dos marqueteiros ficam por conta da intensidade dos ataques à Dilma e se vale a pena levar à TV as peças mais virulentas que passaram a ser divulgadas na internet. Numa delas, um homem com a faixa presidencial, representando Lula, aparece segurando raivosos cães da raça rottweiler, que são comparados a integrantes mais radicais do PT. A propaganda pergunta ao eleitor se Dilma, caso eleita, teria a mesma firmeza de Lula em controlar as alas mais extremas do partido. O PT entrou ontem com uma representação no TSE pedindo a retirada dos vídeos da internet.

Empolgados, integrantes da coordenação de campanha de José Serra afirmam que a chance de haver segundo turno seria de 90%.

Segundo o Datafolha, a petista caiu de 51% para 49%; o tucano subiu de 27 para 28%; e Marina cresceu de 11% para 13%. Todos oscilaram dentro da margem de erro, de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. No entanto, a esperança dos adversários de Dilma baseia-se numa outra leitura dos dados, que leva em consideração a redução da diferença entre a petista e a soma de todos os seus concorrentes. Antes, era de 12 pontos percentuais (51% a 39%) e agora é de 7 pontos (49% a 42).

Outra mudança importante se deu em relação a determinados estratos do eleitorado, nos quais a variação pode estar ocorrendo acima da margem de erro.

Por causa disso, Marina Silva reforçará a estratégia de conquistar o voto das mulheres, em especial as de baixa renda. A coordenação de campanha analisa que Marina ainda é pouco conhecida entre os que ganham até cinco salários mínimos e vê espaço para crescimento, na tentativa de levar a disputa para o segundo turno. A campanha faz a mesma aposta de aumento das intenções de voto junto ao eleitorado com ensino médio.

Segundo o Datafolha, a preferência por Marina subiu, em uma semana, em todas as faixas de renda. O maior crescimento, de 9 pontos, se deu entre os que ganham de dois e cinco salários mínimos. O menor aumento, de 3 pontos, foi registrado entre os entrevistados com renda de até dois mínimos.

"Nosso público alvo agora são as mulheres pobres", destacou José Luiz de França Penna, presidente do PV e vereador em São Paulo.

Marina foi a candidata mais beneficiada com a queda da petista Dilma Rousseff, segundo a pesquisa Datafolha. A coordenação de campanha acredita que o discurso ético, sem entrar no mérito das acusações feitas pelos candidatos do PT e do PSDB, ajuda a candidata do PV a captar votos de descontentes com a campanha de Dilma.

"Os candidatos ficam discutindo entre si e não se comprometem com nada. No final das eleições, não sabemos o que cada um defende", declarou Marina, durante visita a Cuiabá.

O PV trabalha para ampliar a vantagem de Marina em cidades nas quais a candidata está à frente numericamente de José Serra (PSDB), como o Rio de Janeiro. A campanha intensificará também as atividades públicas em capitais e grandes centros populacionais. Amanhã e no domingo, Marina estará no Rio, na capital. Na próxima semana, deve visitar capitais de todas das regiões do Brasil.

Com apenas 1min20s na propaganda gratuita, a campanha aposta na "onda verde" e reforçará também a mobilização do partido nos Estados. Um movimento autônomo em relação à campanha, denominado "Marina Silva Presidente do Brasil", promoverá amanhã, pelos Estados, um "banner humano", fazendo o número 43.

O PV deve priorizar eventos em que a candidata tenha maior contato com o povo, com discursos em lugares de grande concentração de eleitores. Ontem foi um exemplo desse reforço: a candidata foi a Cuiabá, visitou uma das Casas de Marina - comitês montados na casa de simpatizantes e filiados ao PV - e terminou o evento no centro da cidade, em um minicomício improvisado em praça pública. Até então, a candidata participava de manifestações nas quais permanecia pouco tempo em contato com os eleitores, em "eventos relâmpago", mais voltados para a gravação de imagens para exibição nos telejornais.

Na capital mato-grossense, Marina pediu empenho dos simpatizantes de sua campanha e fez um discurso todo voltado para a possibilidade de a eleição ser definida apenas no segundo turno. "Faça campanha de casa em casa. O que está aparecendo nas pesquisas é menor do que está nas ruas", declarou. "Temos a possibilidade de segundo turno. Na eleição em dois turnos a gente pode pensar duas vezes. No primeiro turno a gente vota no candidato do coração. Se votar no candidato do coração, ele vai para o segundo turno. Não pode abrir mão", disse.

Os petistas minimizaram os números do Datafolha.

"Não vejo nenhuma perspectiva de segundo turno se formando, porque as variações de Dilma e Serra estão na margem de erro e o crescimento de Marina é lento diante do pouco tempo para a virada. A Dilma está perdendo pontos nas camadas mais altas de escolaridade e renda da sociedade, segmentos que sempre foram propensos a votar na oposição. No eleitorado cativo de Lula, que é o de baixa renda e escolaridade, não houve qualquer alteração. O tempo que resta é insuficiente para que a tendência dessas pesquisas mude o quadro", disse Fernando Pimentel, candidato do PT ao Senado em Minas Gerais.

Ontem, pesquisa Vox Populi/Band/iG indicou um quadro de estabilidade. Dilma (51%) e Serra (24%) teriam os mesmos percentuais da semana passada. Marina subiu de 8% para 10% e indecisos desceu de 11% para 9%.