Título: Para general, militares defenderam democracia
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2010, Política, p. A13

Após ouvir durante duas horas duras críticas feitas por três painelistas convidados - os jornalistas Merval Pereira, de "O Globo", e Reinaldo Azevedo, da "Veja", e o diretor de Assuntos Legais da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Rodolfo Machado Moura - à forma como o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados vêm lidando com as críticas que recebem dos meios de comunicação e ao que seriam tentativas de restringir a liberdade de expressão, o presidente do Clube Militar, general da reserva Renato César Tibau da Costa, referendou os discursos, no fim do encontro: "Acho que é uma avaliação [das palestras] muito positiva. Expressa nossa preocupação com esses assuntos que são assuntos de relevância nacional e que são públicos. São fatores preocupantes." Questionado sobre se seu ponto de vista expressava também o pensamento dos militares da ativa, o general disse: "Da ativa e da reserva, os militares de todos os tempos". Para Costa, "é um perigo à democracia essa restrição à liberdade de expressão". Ele refutou que os militares tenham restringido a democracia e a liberdade de expressão de 1964, quando assumiram o poder, até 1985, quando o restituíram aos civis. "As vezes que os militares intervieram foram para manter a democracia", afirmou. E acrescentou: "Jamais para censurar a imprensa". Admitiu que os governos daquele período "possam ter censurado a imprensa, mas os militares, não".

O painel, intitulado "A Democracia Ameaçada: Restrições à Liberdade de Expressão", reuniu aproximadamente 400 pessoas no auditório da sede social do Clube Militar, centro do Rio, um local historicamente associado à agitação que tomou conta dos meios militares no período que antecedeu o movimento de 1964. Teve como contraponto uma manifestação na porta do prédio feita por cerca de 20 militantes da União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PCdoB, que mostravam cartazes e diziam palavras de ordem contra veículos de comunicação e contra os militares. Monique Lemos, presidente da AJS, disse considerar "uma hipocrisia" os militares, que tomaram o poder em 1964, fazerem evento em defesa da democracia.

Lá em cima, os gritos dos manifestantes chegavam adormecidos a uma plateia bem comportada, em nada lembrando o histórico do local, que ouvia os palestrantes apontarem ações do governo contra a liberdade de expressão e e sinais de autoritarismo. "Lula é muito mais uma figura autoritária do que uma pessoa à frente de um plano para transformar o Brasil em um país socialista", disse Pereira. A plateia, cujas perguntas foram lidas pelo mediador, o diretor executivo do Instituto Millenium, Paulo Uebel, poucas vezes se manifestou.