Título: Mercado sustentável
Autor: Belo , Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2010, Especial, p. F1

Produzir com menor impacto ambiental, cortar emissões de gases nocivos, mitigar agressões ao planeta, reciclar, reutilizar, reduzir o consumo de materiais. Toda a cartilha das empresas ecologicamente corretas não é mais suficiente num mundo que clama por algo mais - ou por algo menos: a economia de recursos. Depois de procurar processos de produção mais limpos, empresas ambientalmente responsáveis começam a desembarcar na etapa seguinte, a do mercado verde.

A economia verde alia produção em escala com preservação e redução de impactos. Empresas que trazem no DNA os genes da inovação e da sustentabilidade acordaram há certo tempo para o fenômeno. Depois de milhões investidos, começam a colher os primeiros frutos da economia verde.

Há dois anos, a consultoria alemã Roland Berger estimava o mercado global para produtos e serviços ambientais em US$ 1,37 trilhão. Seja esse ou não o tamanho exato do mercado, o que importa é que o mundo está cada vez mais atento a produtos e serviços de qualidade e preços competitivos que ao mesmo tempo contribuam para refrear séculos de destruição. No Brasil, ainda não existem estimativas do tamanho do mercado.

"Inovação na área de produtos verdes tem se constituído cada vez mais em fator decisivo para o desenvolvimento sustentável e para alavancar a competitividade das empresas", afirma Ronaldo Mota, secretário de desenvolvimento tecnológico e inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Duas gigantes da inovação uniram-se para levar adiante um projeto nesse sentido. A Natura lança em outubro uma linha de sabonetes com embalagem em plástico produzido a partir de materiais renováveis - em vez da tradicional petroquímica -, diz Victor Fernandes, diretor de ciência e tecnologia, ideias e conceitos. A embalagem em polietileno verde, produzida a partir de resíduo de cana-de-açúcar, foi desenvolvida pela Braskem. O produto será destinado ao Nordeste. Se houver disponibilidade, a Natura pretende levá-lo a todo o país até o fim de 2011.

A empresa estima que a nova embalagem reduza em 71% as emissões de carbono na comparação com o plástico tradicional. Na medida em que se tornar mais disponível, a embalagem verde irá integrar outras linhas da empresa.

Depois de dois anos de desenvolvimento junto a parceiros, a Coca-Cola está lançando garrafas de refrigerante com 30% de matéria renovável. A chamada PET PlantBottle é importada da Ásia. O custo, não revelado, é superior ao da garrafa feita de resina petroquímica, mas a companhia está absorvendo a diferença, diz Rino Abbondi, vice-presidente de técnica e logística da Coca-Cola Brasil. As embalagens serão comercializadas em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Manaus, Salvador, Teresina e Florianópolis em garrafas de 500 ml e 600 ml. Para 2011, devem chegar a outras regiões.

Maior produtora de resinas termoplásticas das Américas, com 29 fábricas no Brasil e nos Estados Unidos, a Braskem também está envolvida na produção do polipropileno verde, para substituir o congênere petroquímico na indústria de automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos e outras. O produto vem sendo desenvolvido em parceria com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).

A pesquisa começou em 2008, em uma parceria com a Unicamp. Em 2009, a Novozymes uniu-se ao projeto. Agora, a Braskem entendeu ser necessário reforçar aspectos da pesquisa em busca da viabilidade econômica. A empresa quer tornar-se não mais uma líder em petroquímica, mas em química sustentável, afirma Antônio Queiroz, diretor de inovação e competitividade da divisão polímeros.

Um dos objetivos da pesquisa agora é encontrar meios de reduzir a diferença de custo de produção de 50% entre o produto verde e o tradicional. "A questão é que hoje para fazer esse produto é mais caro e até quanto será que o cliente está disposto a pagar a mais." Para isso, a empresa está montando um laboratório dentro das instalações do LNBio, em Campinas (SP).

No início, o laboratório terá sete pesquisadores da Braskem, segundo Kleber Franchini, diretor do LNBio, mas o total pode chegar a 40 até meados do ano que vem. A Braskem alugou uma área do laboratório e vai pagar pelo uso da infraestrutura, gerir o projeto e, eventualmente, requisitar - e remunerar - pesquisadores de altíssima especialização do LNBio. O acordo implica o compartilhamento de propriedade intelectual.

O LNBio também fechou este ano parceria com a Natura para pesquisar potenciais matérias-primas. O laboratório adquiriu um sofisticado equipamento para analisar a estrutura das matérias-primas e dividiu as despesas com a fabricante de cosméticos. O aparelho será alugado a outras companhias, mas a Natura, por ter investido, tem direito a horas de uso estipuladas em contrato.