Título: Eficiência na área de energia ainda deve crescer muito
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2010, Especial, p. F4

Redução de custos e aumento de competitividade são duas palavras usadas frequentemente no vocabulário dos executivos, mas ainda há muitos ganhos a se alcançar no segmento de eficiência energética. Um exemplo pode ser visto na indústria, que consome cerca de 40% da energia distribuída no Brasil. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado em 2009, aponta que haveria um potencial técnico total de redução de 25,7% do consumo global de energia da indústria brasileira, sendo que boa parte de projetos de eficiência poderia se concentrar na substituição de motores, melhoria da gestão e troca de fornos e caldeiras antigos por equipamentos mais eficientes. Os setores de ferro e aço, cimento, alimentos e bebidas seriam os que têm maior potencial de redução do consumo. "São setores que começam a despertar para a questão, mas em cimento e siderurgia, que estão crescendo muito neste momento, o foco inicial são os projetos de expansão das fábricas, o que deixa a eficiência energética em segundo plano", afirma o especialista em eficiência energética da Siemens, Bruno Abreu. O potencial de redução do consumo no setor de ferro e aços seria de 30%, no de cimento 19%, e no de alimentos, 10%. "Muitas fábricas têm uma idade elevada, ou seja, muitos equipamentos são velhos", diz.

De outro lado, empresas que atuam na área petroquímica têm desenvolvido projetos para reduzir o consumo de seus motores elétricos, que em alguns casos chegam a responder por mais de 30% da energia de uma fábrica. "Em alguns sistemas implementados, conseguimos reduzir de 17% a 34% o consumo", diz Abreu. Na Siemens, a demanda por projetos de eficiência energética cresceu 35% nos dois últimos anos, o que fez a empresa elevar em 30% seu número de funcionários.

Na construção de novas unidades, as empresas também têm buscado indicar na licitação a importância de que a fábrica a ser construída contemple iniciativas eficientes de consumo de energia, mesmo que o valor inicial do investimento seja maior que o previsto originalmente. "Gasta-se 5% a 10% mais no projeto, mas o custo operacional ao longo do tempo compensa e muito", diz Abreu.

Além do monitoramento contínuo dos sistemas industriais, outro foco das empresas está na refrigeração dos ambientes e na substituição de motores antigos por outros mais eficientes. Um exemplo está na Vicunha Têxtil. As plantas de índigo no Ceará têm passado por várias medidas para reduzir a conta de energia, um dos itens mais pesados da empresa. As ações envolvem iniciativas simples como a conscientização, treinamento dos funcionários e troca de lâmpadas antigas por modelos mais eficientes, além de investimentos na troca de motores elétricos e de ares condicionados. Entre 2008 e 2009, foram investidos R$ 600 mil na troca de alguns motores de alto rendimento e na substituição de todos os aparelhos de ar condicionado.

"O projeto se pagou em quase três anos e teremos um custo operacional mais baixo ao longo dos próximos anos", afirma o chefe de manutenção elétrica, Ângelo Cavalcante. Neste ano, será iniciada a implementação da segunda etapa do projeto, que contempla a troca de motores de alto rendimento. "Ainda estamos levantando o volume de investimentos."

Outro exemplo é o da Basf, gigante do setor químico, que vem investindo na redução de cerca de 20% do consumo de energia em seu complexo em Guaratinguetá (SP). A empresa terá uma unidade geradora de energia que integrará as fontes térmicas e elétricas, utilizando parte do vapor na produção de eletricidade, reduzindo a dependência de fontes externas. Com isso, deverá comprar 20% a menos de energia no mercado livre do qual participa por ser grande consumidora de energia elétrica. Em paralelo, a Basf trabalha na construção de um novo depósito de produtos acabados, que entrará em operação em 2011 e usará tecnologias de alto desempenho em eficiência energética, além de um sistema de reúso da água, que manterá em recirculação 90% (35 metros cúbicos por hora) da água captada do Rio Paraíba do Sul para fins de refrigeração. A empresa não apenas diminuirá o consumo de gás natural, como a emissão de gases de efeito estufa.

O mercado de eficiência energética deverá crescer este ano 30%, de acordo com as estimativas do presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), José Starosta. "O índice de desperdício no Brasil é gigantesco: são R$ 10 bilhões", afirma o executivo. Mesmo grandes empresas sofrem com perdas pelo uso de equipamentos antigos, como por falhas no processo de produção ou ausência de monitoramento constante dos equipamentos.