Título: Brasil pode ganhar liderança mundial em química renovável
Autor: Rockmann , Roberto
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2010, Especial, p. F6

O Brasil tem vocação para ser um dos líderes mundiais em química verde no mundo, um segmento que poderá contribuir para as indústrias do setor se posicionarem entre as cinco maiores do mundo até 2020. Segundo estudo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), nesta década, cerca de US$ 20 bilhões poderão ser investidos em química renovável no país. O relatório estima que, em 2020, pode haver uma participação da chamada química verde no mundo de 10% no conjunto da oferta de produtos petroquímicos. O Brasil poderá deter, se forem viabilizados os investimentos necessários, fatia relevante da oferta total. Exemplos de química verde, como o plástico verde e tintas e solventes à base de água, começam a ganhar mais espaço na indústria química brasileira. A multinacional verde-amarela Braskem investiu R$ 500 milhões na construção da primeira unidade em escala industrial no mundo de produção de eteno a partir de matéria-prima 100% renovável - a cana-de-açúcar, cultura em que o país desponta não apenas como o maior produtor, como também o mais competitivo. "Essa é uma grande ideia que poderá posicionar o Brasil em situação privilegiada", diz o físico e professor da USP José Goldemberg. A fábrica, no polo de Triunfo (RS), tem capacidade de produzir 200 mil toneladas por ano de eteno verde, que são transformados em polietileno verde. A unidade, que começou a operar neste mês, já tem dois terços de sua produção vendida, e as perspectivas são bastante promissoras.

Um automóvel pesa cerca de uma tonelada. As peças de plástico representam até 10% do peso total do veículo, um número que poderá crescer algumas vezes ao longo dos próximos anos. "Há grande potencial de substituição de diversas partes metálicas e o plástico pode chegar a 30% do peso de um carro. As montadoras também podem se interessar pelo plástico verde", diz o diretor da consultoria Maxiquim Otavio Carvalho. Há um benefício grande quando as montadoras trocam partes metálicas por plástico: os carros ficam mais leves e podem reduzir o consumo de combustível, o que teria impacto sobre o bolso dos consumidores e o meio ambiente, porque se reduz a emissão de poluentes.

O plástico verde produzido a partir de cana-de-açúcar tem se mostrado o mais competitivo entre diversos outros lançados no mundo nos últimos anos, o que deverá fazer com que o interesse pelo produto fabricado no Brasil cresça. "A indústria química vem sendo demandada pelos clientes como um setor intermediário a buscar soluções sustentáveis, e o Brasil, com o etanol, poderá liderar uma corrida importante e deveremos ter novos investimentos em plástico verde", diz Carvalho.

A química verde ganha espaço na área de cosméticos. No primeiro semestre, a Rhodia lançou o Rhodapex NAT, primeiro insumo para xampus e condicionadores produzido a partir do etanol de cana e óleo de palma, concorrendo com os insumos tradicionais derivados petroquímicos. A inovação foi desenvolvida na Índia. "Temos um pedido aqui no Brasil de um cliente interessado em utilizar o produto em sua linha de xampus naturais", afirma o diretor da Rhodia Novecare América Latina, Paulo De Biagi. Uma ideia em estudo na subsidiária brasileira é viabilizar a produção local. "Estamos analisando a possibilidade de desenvolver o produto aqui, começando a identificar parceiros. Com produção local, economizaríamos o frete de importação, mas isso também dependerá da demanda do produto no mundo."

Outro segmento que tem crescido no Brasil é a fabricação de tintas e solventes à base de água, com menor impacto ambiental. Há quatro anos, em uma pesquisa de mercado, a Basf detectou que lançar uma tinha sem cheiro seria uma forma de diferenciar a Suvinil, sua tinta imobiliária. Após oito meses de pesquisa e 1.500 horas de desenvolvimento, em 2007, foi lançada uma linha de acrílicos inovadora: sua fórmula faz com que o cheiro da tinta desapareça após três horas da aplicação.

Além disso, o produto é à base de água e, por isso, emite menos compostos orgânicos voláteis para a atmosfera, o que contribui para a preservação do meio ambiente e para a saúde dos consumidores. "Em um futuro não muito distante, talvez em dez anos, todas as tintas serão à base de água, buscamos nos antecipar ao movimento e influenciar os outros elos da cadeia rumo à sustentabilidade", afirma o vice-presidente sênior de tintas e vernizes e infraestrutura para a América do Sul, Antonio Lacerda.

Não foi a única inovação sustentável da Basf na área de tintas. A Suvinil foi pioneira na utilização de garrafas PET para a produção de resina, que é um dos principais componentes das tintas e vernizes. Para cada galão de 3,6 litros de esmaltes e vernizes são utilizadas cinco garrafas PET em sua composição. Desde 2002, foram reutilizadas mais de 425 milhões de garrafas.