Título: Onda governista deve tirar quarto mandato de Maciel
Autor: Camarotto , Murillo
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2010, Política, p. A5

Na última vez que esteve no Recife, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou boa parte de seu discurso ao senador Marco Maciel (DEM), o discreto vice de Fernando Henrique Cardoso. Em sua estratégia de fazer da oposição terra arrasada em 2011, Lula não só pediu votos para seus candidatos ao Senado por Pernambuco, Humberto Costa (PT) e Armando Monteiro Neto (PTB), como fez questão de detonar Maciel, a quem chamou, entre outras coisas, de "senador da época do Império". Aos 70 anos, Maciel tenta em 2010 o seu quarto mandato no Senado, onde está desde 1983. Líder nas pesquisas até dois meses atrás, o ex-vice-presidente foi superado pelos dois candidatos governistas e já vê diminuídas suas chances de reeleição. Segundo a última pesquisa Ibope, Humberto lidera a disputa com 59%, seguido por Monteiro Neto, que tem 43%. Maciel aparece com 33%. "Sem dúvida, trata-se da eleição mais dura da vida dele", afirmou o deputado federal André de Paula (DEM), aliado e amigo de Maciel.

Com o governador Eduardo Campos (PSB) disparado nas pesquisas - ele já aparece acima dos 70% -, a prioridade do bloco situacionista em Pernambuco passou a ser a eleição dos dois senadores. Além das palavras no palanque, Lula aproveitou a última visita ao Estado para gravar ao lado de Humberto Costa e Monteiro Neto um bate-papo descontraído, que foi usado no programa eleitoral de ambos. Dilma também pediu votos aos dois.

De acordo com o próprio deputado do DEM, a reeleição de Maciel é o que resta de mais concreto nas ambições da oposição em Pernambuco, motivo pelo qual a disputa ao Senado ganhou ares de prioridade entre os governistas. "Mesmo assim, nada justifica que o presidente da República vire um cabo eleitoral tão chinfrim", disparou o parlamentar.

Diante da continuada queda de Maciel nas pesquisas, lideranças da oposição vêm pressionando o senador para que ele adote uma postura de maior enfrentamento, no sentido de recuperar as chances de vitória. A ideia, contudo, não o empolga: "Isso [a estratégia governista] não altera meu itinerário. Minha campanha prossegue como sempre, permaneço mobilizando o eleitorado e passando a nossa mensagem."

Nos bastidores, entretanto, ele tem se movimentado de forma mais agressiva. Recentemente, recebeu o apoio aberto de dois prefeitos ligados a Eduardo Campos e segue buscando novas adesões no território inimigo. No dia 12, Maciel foi homenageado pelo prefeito de São José do Egito, Evandro Valadares (PSB), que formalizou apoio à sua reeleição, alegando motivos pessoais. Outro que declarou voto no senador foi o prefeito de Serra Talhada, Carlos Evandro (PR), cujo partido integra a base de Campos.

Discreto, Maciel preferiu não falar sobre possíveis novas adesões e disse estar confiante na sua reeleição, apesar de admitir as dificuldades. "É lógico que não se pode deixar de reconhecer que há uma diferença na disputa. Mas, apesar disso, noto que a avaliação é sempre positiva. Além do que é muito difícil a gente ficar trabalhando em cima de pesquisa."