Título: Lei autoriza transferência de voto
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2010, Política, p. A6

A decisão de Joaquim Roriz (PSC) de desistir da candidatura ao governo do Distrito Federal e indicar para a vaga a esposa Weslian Roriz surpreendeu adversários e aliados e lançou mais uma incógnita em uma disputa pautada por uma crise política que se arrasta há quase um ano. Sem experiência administrativa e disputando pela primeira vez uma eleição amparada apenas pelo sobrenome que comandou o Distrito Federal por quatro vezes, Weslian não tem a rejeição do marido, não enfrenta barreiras na Justiça e conta com sua ação como primeira-dama, quando distribuía colchões e agasalhos à população carente. "Vou governar junto com meu marido", disse ela, quase aos prantos.

Como as urnas eletrônicas já foram lacradas, o eleitor continuará vendo, no dia da votação, a foto e o número de Roriz (20) na tela. Mas os votos serão transferidos diretamente para Weslian, pois a legislação eleitoral autoriza a troca de candidatos até a véspera do primeiro turno.

Candidato ao Senado na chapa que apoia Agnelo Queiroz (PT) para o governo local, Rodrigo Rollemberg (PSB) acredita que o cenário continua perigoso, mesmo com a saída de Roriz da disputa. "Ninguém tem uma relação mais próxima com Roriz do que a Weslian. Não podemos achar que a eleição está ganha, porque não está", alertou. Um integrante da campanha do PT afirmou que as últimas pesquisas internas mostraram uma nova reação de Agnelo, que teria ampliado a vantagem para o segundo colocado. Pesquisa Datafolha divulgada na quinta passada mostrou que Agnelo Queiroz caíra de 44% para 41% e Roriz - ainda candidato - subira de 31% para 34%.

Para um político que exerce papel de destaque na campanha de Agnelo, Roriz percebeu que poderia ser derrotado nas urnas e resolveu desistir . Em entrevista coletiva na sexta, o ex-governador negou ter medo dos adversários e atribuiu a renúncia à demora do Supremo Tribunal Federal (STF) em concluir o julgamento de seu recurso contra a Ficha Limpa. "Eu não poderia ficar mais exposto. Se eu ganhasse as eleições e eles não quisessem me diplomar, ou me empossar?" questionou.

Roriz disse que a possibilidade de o STF adiar a decisão do recurso de forma indeterminada tirou-lhe a noite de sono. "Às 5h35 da manhã (de sexta) me virei para a Weslian e disse: não serei mais candidato. Chamei o Frejat (Jofran Frejat, candidato a vice) à minha casa e convidei-o para ser candidato e Weslian seria a vice". Frejat não aceitou. "A transferência de votos para mim não seria tão direta quanto para Weslian", justificou Frejat, mantido como vice.

Um político experiente que alterna momentos de aproximação com longos distanciamentos em relação a Roriz questionou a exposição de Weslian nesse momento. Para ele, o candidato natural seria Frejat e a única explicação para a mudança de planos seria um esforço de um grupo rorizista de manter a hegemonia interna, algo que poderia ser ameaçado caso Frejat ganhasse viabilidade eleitoral.

Para outro parlamentar federal eleito por Brasília, Roriz mostrou sua argúcia política ao escolher Weslian, "querida por católicos e evangélicos" para ser a candidata. "Quando eu cheguei ao Congresso hoje um eleitor meu me falou, feliz da vida: "agora eu posso votar na mulher do Lula (Dilma Rousseff) e na do Roriz"", completou.