Título: Bancos brasileiros são referência em proteção virtual
Autor: Aguilar , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2010, Especial, p. F2

Nos últimos três anos, o volume de recursos destinado à segurança digital nas redes bancárias tem aumentado: passou de aproximadamente R$ 1,15 bilhão para R$ 1,35 bilhão entre 2007 e 2009, segundo cálculos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). "Em média, os bancos aplicam em segurança digital 7% do investimento anual reservado à tecnologia da informação", afirma o diretor setorial de prevenção a fraude da entidade, Marcelo Câmara, que preferiu não comentar o volume previsto para TI no setor em 2010. Atualmente, está em estudo na Febraban uma metodologia para a medição do número de ataques virtuais decorrentes das ações dos fraudadores. Houve um levantamento do número de perdas do setor, por causa das fraudes on-line, em 2005, estimado em R$ 300 milhões. De lá para cá, as perdas aumentaram, mas não no mesmo ritmo do incremento do investimento dos bancos em segurança digital. "Os bancos investem em segurança digital o triplo e, em alguns casos, o quádruplo, do que se perde com o ataque de fraudadores, visando à manutenção da credibilidade do acesso on-line aos bancos", diz Câmara.

Com o volume anual de investimentos, o setor bancário tem mostrado um maior preparo para lidar com as ameaças digitais do que os bancos internacionais. Por aqui, os bancos conhecem tanto o lado da defesa quanto o lado do ataque, o que é importante para atingir um maior nível de segurança. Um dos maiores bancos de varejo do país, o Bradesco barra 1,2 milhão de tentativas por mês contra a segurança via web, diz o vice-presidente executivo, Laércio Albino Cezar.

O Brasil pode ser considerado uma referência em segurança digital por conta dos fraudadores que, há mais de um ano, após o aumento da segurança digital aqui, intensificaram os ataques em bancos no exterior. "Bancos de fora já fizeram consultas, pedindo informações sobre as iniciativas de segurança digital praticadas aqui", diz.

A preocupação com a proteção dos dados no ambiente virtual é vital para os bancos brasileiros, cujos serviços on-line cada vez são mais acessados. Também não adianta um alto investimento em segurança digital só por parte dos bancos sem o comprometimento da outra ponta: o usuário final. Por esse motivo, todo o setor bancário tem se preocupado com o investimento em educação digital para que internautas se previnam de golpes e armadilhas. "Há expectativa de que, em 2011, seja feita uma campanha mais arrojada para a orientação dos clientes com relação à página on-line do banco e acesso aos e-mails."

O comportamento do cliente no acesso on-line faz toda a diferença, segundo Câmara. "É importante saber qual página on-line está sendo acessada, como é o relacionamento on-line do banco com o cliente, se há atualização constante do sistema operacional e softwares, uso um antivírus e firewall", diz Câmara.

Para avançar na segurança digital, os bancos estão investindo na área de pesquisa de mecanismos de identificação por meio da biometria, ou seja, características físicas e comportamentais (impressões digitais, veias da mão, dos dedos, íris do olho, voz etc).

"A senha ainda é peça fundamental. Vai continuar existindo junto com a biométrica. Mas, cada um dos mecanismos será usado conforme o contexto. O uso de um ou de outro dependerá da localização da pessoa: no caixa eletrônico, no computador em casa, no telefone, por exemplo", afirma Câmara.

Cada vez mais, as transações migram dos terminais bancários ou caixas automáticos (ATM) para a internet. Nos caixas automáticos do Bradesco, foram registradas 175 milhões de transações em julho, aumento de 4% em relação a julho de 2009. Pela internet, foram feitas 71 milhões de transações em julho deste ano. O aumento de transação on-line foi 30% maior do que o mesmo mês de 2009, afirma Laércio Albino Cezar.

Entre os 2,5 milhões de clientes que acessam a página on-line do Bradesco, há cerca de 600 mil empresas que fazem transações on-line com o banco. Com o objetivo de aumentar a segurança digital, o Bradesco começou a distribuir em 2010 o token óptico. Além de o usuário digitar sua identificação e senha na página on-line do banco, ele precisa posicionar o token óptico na frente da tela para a geração de um código de autenticação gerado pelo token. "Há 220 mil tokens ópticos que estão sendo usados. Outros 300 mil serão distribuídos", destaca.

No Brasil, 36,7% dos usuários de internet usam equipamentos móveis para acessar a web quando estão em casa. No trabalho, são 24,7% e, em trânsito, 38,6%. Os números são de uma pesquisa realizada pela Cisco, divulgada no início de 2010, que considera como internet móvel todo o acesso realizado por laptops, celulares, smartphones e outros equipamentos similares.

"A fraude é maior nos meios de maior circulação de dinheiro. Hoje, ainda trafega menos recursos em operações feitas por meio de equipamentos móveis. Mas, estamos tomando as medidas necessárias para o aumento de segurança nesse meio que conta com proteção básica", diz Câmara.