Título: Flávio Bolsonaro orgulha-se de lei que facilita vasectomia em hospital público
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2010, Política, p. A6

O nome de família pesa, mas o filho do polêmico deputado federal Jair Bolsonaro não é a cópia fiel do pai. Mais comedido ao falar, Flávio Bolsonaro assume com orgulho que foi eleito graças ao sobrenome e que se define como um candidato de direita, ou antiesquerda como publica em seu site: "Uma coisa que prezo é a credibilidade que o Jair construiu, com moralidade, retidão e princípios, presentes na carreira militar". Em seu segundo mandato e tentando o terceiro consecutivo na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), faz campanha conjunta com o pai e tem posições muito semelhantes quando se fala de maioridade criminal, controle de natalidade ou direitos das corporações do exército, da polícia e dos bombeiros. Mas namora com a esquerda quando diz que o Estado deveria dar ensino de base de qualidade, em horário integral para todas as crianças, com direito a boa alimentação e a programas esportivos, para evitar, entre outras coisas, que elas se tornassem criminosas.

Aos 29 anos, Flávio Bolsonaro é autor da lei que dá o direito a homens fazerem vasectomia de graça na rede pública. Desde 2008, mais de dois mil já fizeram a cirurgia nos hospitais estaduais. Esta é uma das bandeiras defendidas pela família: o controle da natalidade no Brasil. Um dos objetivos é impedir que famílias pobres sejam numerosas.

Enquanto o pai tornou-se conhecido por defender os militares, Flávio sai em socorro dos policiais militares e dos bombeiros. "A população conhece bem a atuação da PM na rua, seus erros e acertos, mas não sabe o que acontece nos quartéis. Não sabe, por exemplo, que o governador está tirando o direito de novos policiais que passaram no concurso para atuar em Campos, por exemplo, de trabalhar no seu batalhão e os obriga a viajar quatro, seis horas, para atuar nas UPPs", conta. "Se ele já entra na corporação desrespeitado, como vai trabalhar com eficiência?".

Flavio gosta de dar mais destaque as estes assuntos e também a sua lei que vai aplicar multas a quem passar trotes aos serviços públicos. No entanto, quando questionado, não se nega a assumir posições mais polêmicas, embora com menor ênfase expressiva do que o pai. Jair acompanhou a entrevista ao lado do filho, sempre fazendo intervenções mais drásticas. Como no caso da maioridade penal. O deputado estadual explicava: "Uma pessoa que pega numa arma assume o risco de sua vida. O policial tem que ter a segurança jurídica de atirar de volta. O tráfico tem um poder bélico forte e está cheio de menores", contava. "As pessoas dizem que um bandido está lá porque não teve oportunidade. Essa criança teve opção, porque nem todo mundo que é pobre, que mora no morro, é bandido. Pobreza não é sinônimo de indignidade...", quando foi atropelado. "Tem que prender, tem que punir como todos", bradou o pai. Ao se questionar sobre se crianças de 12, 13 anos, que no Rio assaltam nas ruas com armas e fazem parte do tráfico, deveriam ser tratadas do mesmo jeito ou se tiveram escolha, Jair nem deixou o filho responder. "É porque não foi o seu filho quem levou o tiro!"

Em outro assunto polêmico, o das cotas raciais em universidades, enquanto Flávio tentava explicar em números os motivos de sua posição, foi novamente interrompido. "Eu queria saber se 20% dos ministros são negros, se 20% dos deputados são... isso eles não querem lá, só aqui para povo", brada novamente o pai.

Jair faz muita piada das polêmicas em que se mete. O filho gosta das histórias e pede até para o pai contar algumas. Mas depois, tenta desfazer um pouco a imagem de brutamontes. "Em casa, ele é uma flor. Sempre trata todos muito bem."

Na campanha, os dois dizem estar gastando R$ 200 mil, dos quais R$ 90 mil foram dados pelo PP. "Não estamos emporcalhando a cidade. Só temos dez painéis móveis que são postos em pontos estratégicos da cidade de maior movimento," conta Jair.

Na Alerj, Flávio Bolsonaro é um dos poucos representantes que defendem uma corporação. No Rio, a Assembleia é mais dividida em redutos distritais, do que representantes de classes. Márcio Panisset é irmão da prefeita de São Gonçalo. Mário Marques foi vereador de Nova Iguaçu, por sete mandatos, presidente da Câmara, vice-prefeito e prefeito da cidade. Há também os de regiões da capital, como Chiquinho da Mangueira, ou Domingos Brazão, que é oriundo da Zona Oeste.

Em ano eleitoral, a Casa não aprovou processos polêmicos ou de grande relevância, a não ser o Refis estadual que deu isenção de multa e juros para quem pagasse a dívida com a Fazenda à vista e ainda permitia o pagamento em precatórios. No mais foram aprovados a bolsa-atleta com vista à Rio2016, a redução dos custos cartoriais do Minha Casa Minha Vida, a obrigatoriedade de carteira para gordos na escola e um serviço de tele-atendimento estadual para tirar dúvidas gramaticais.