Título: Emergentes superam países ricos até 2015, diz o Banco Mundial
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2010, Internacional, p. A10
Os países emergentes terão um peso maior do que os desenvolvidos na economia mundial antes de 2015, mostra um estudo divulgado ontem pelo Banco Mundial. A tese básica por trás das projeções é que, embora não tenham se descolado completamente dos países desenvolvidos, cujas economias estão estagnadas, os emergentes seguirão uma trajetória de forte crescimento nos próximos anos.
Em 2009, os países emergentes (incluindo economias em desenvolvimento) respondiam por 46% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, e os desenvolvidos, por 54%. Em 2015, as economias emergentes terão uma fatia de 52% do PIB mundial, e os desenvolvidos, de 48%.
Os dados foram apresentados ontem pelo Banco Mundial em seu livro "O Dia Depois de Amanhã", que toma como base dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). A virada começa em 2013, quando os desenvolvidos terão 50% do PIB mundial, e se completa em 2014, quando já responderão pela maior parte da economia mundial, com 51%.
"Os países emergentes surgiram para resgatar a economia mundial", afirma um dos autores do livro, o brasileiro Otaviano Canuto, que é vice-presidente de redução de pobreza e gerenciamento econômico do Banco Mundial e foi secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda no primeiro mandato do presidente Lula.
"Eles [os emergentes] são a nova locomotiva que puxa o crescimento global, enquanto os países de alta renda continuam estagnados."
O livro do Banco Mundial afirma que algumas partes do mundo em desenvolvimento, sobretudo a Ásia, têm perspectivas de crescimento mais fortes que outras, mas não é feita nenhuma análise mostrando o desempenho de cada um dos países.
Um exame dos dados do FMI feito pelo Valor, no entanto, mostra que a China e, em menor grau, a India serão responsáveis por uma boa parte desse aumento do peso dos emergentes na economia mundial. O peso do Brasil ficará praticamente inalterado. Em 2009, a China respondia por 11% da economia mundial e, até 2015, sua fatia será de 17%. A participação da India sobe de 5% para 6% no período, enquanto que a do Brasil fica praticamente estável em 2,9%.
No primeiro capítulo do livro, Canuto faz uma releitura da tese do "descolamento" dos países emergentes em relação aos desenvolvidos. A conclusão é que as economias emergentes não estão imunes ao que acontece nos desenvolvidos, mas eles têm boas perspectivas de crescimento devido a fatores como alta capacidade para levantar capitais para bancar investimentos.
No início da atual crise econômica, na virada de 2007 para 2008, alguns economistas acreditavam que as economias emergentes poderiam passar ilesas pelas turbulências que então afetavam os países desenvolvidos. Mas a quebra do banco Lehman Brothers, em fins de 2009, fez com que os emergentes também fossem afetados.
A recuperação dos emergentes, porém, foi relativamente rápida. Pelos cálculos do Banco Mundial, os emergentes vão crescer 6,1% em 2010, 5,9% em 2011 e 6,1% em 2012, enquanto as economias desenvolvidas vão ter expansão respectivamente de 2,3%, 2,4% e 2,6%, em virtude de problemas como alto desemprego e endividamento do governo e das famílias.
A grande questão, aponta Canuto no estudo, é se os países emergentes irão funcionar como um motor autônomo do crescimento mundial, seguindo adiante sem se contaminar pelo fraco desempenho das economias desenvolvidas.
Para o economista do Banco Mundial, os emergentes entraram em uma tendência de forte crescimento. Os seus governos e empresas têm dívidas mais baixa e, por isso, conseguem se alavancar mais por meio de empréstimos para financiar sua expansão. Os emergentes também estão em um patamar tecnológico mais baixo, e podem queimar etapas absorvendo tecnologias dos países desenvolvidos. Outro motor do crescimento são os largos contingentes de mão-de-obra no campo e em setores informais que podem ser deslocados para setores mais produtivos da economia.