Título: Guerra diz que Dilma é estelionato eleitoral
Autor: Camarotto , Murillo
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2010, Política, p. A10

Disposto a dar cores eleitorais ao episódio que culminou com a queda da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, disse ontem que a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República é "o maior estelionato eleitoral da vida brasileira". O tucano, que convocou entrevista coletiva instantes após a oficialização da saída de Erenice, desqualificou a presidenciável petista e cobrou explicações sobre as denúncias de tráfico de influência na Casa Civil. "A Dilma não é a Dilma. É o Lula. Eles escondem a Dilma e focam no Lula. O conteúdo dela é o presidente da República", afirmou Guerra.

De acordo com o tucano, que é coordenador da campanha de José Serra (PSDB) à Presidência, Dilma deve se manifestar sobre o caso que envolve sua sucessora no ministério. "Ela deve se pronunciar. A Dilma tem que dizer se conhece o esquema ou não. E, na medida em que ela disser que não conhece, demonstra toda a sua falta de experiência para governar um país como o Brasil", completou.

Assim como ocorreu com a quebra de sigilo da filha e do genro de Serra, o episódio da Casa Civil será levado ao ar no programa eleitoral do PSDB. Guerra negou, ainda, que as denúncias sobre tráfico de influência envolvendo Erenice Guerra tenham partido da oposição.

"Não são denúncias nossas. Nós tivemos nossos sigilos quebrados. Essas denúncias devem ter partido dos próprios aliados da Dilma. Já que eles brigam por poder desde antes e durante, brigarão depois da campanha", alfinetou Guerra.

Em campanha ontem em Campinas (a 93 km de São Paulo), Serra disse que a saída de Erenice Guerra da Casa Civil é "um primeiro passo" e cobrou "investigações sérias" sobre as acusações que envolvem a ex-ministra e seu filho.

Uma empresa de Campinas confirmou, segundo reportagem da "Folha de S. Paulo", que um lobby opera dentro da Casa Civil e acusou um filho de Erenice de cobrar dinheiro para obter liberação de empréstimo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"A saída [da ministra] é um primeiro passo. Tem que ver as investigações agora, porque até ontem [quarta-feira] estavam dizendo que era uma jogada eleitoral", disse Serra. "Estavam procurando jogar areia nos olhos com essa história. Agora, todo o escândalo que aparece sempre tem um pretexto. [Dizem que] é a eleição, que são denúncias de caráter eleitoral. A prova é que o governo foi obrigado a afastar essa toda poderosa ministra", disse Serra.

O candidato disse ainda que a saída da ministra e as acusações não são uma "questão eleitoral". "Essa é [sim] uma questão que tem a ver com os rumos do Brasil. São sucessivos escândalos na Casa Civil nos últimos anos, uma mal exemplo para o Brasil e também um problema grave para o funcionamento do governo. Eu não falo aqui como candidato, eu falo como brasileiro", disse o tucano.

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a saída de Erenice da Casa Civil é só um detalhe que não será suficiente diante de reiterados escândalos. "Como brasileiro estou triste de ver tantos acontecimentos negativos no Brasil. É a repetição deles. São escândalos reiterados", afirmou FHC, em evento de inauguração do Centro Ruth Cardoso, em São Paulo.

Em sua caminhada pelas principais ruas e avenidas do centro de Campinas, Serra aproveitou para criticar o projeto do trem-bala anunciado pelo governo federal para ligar as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo ele, "é mais fumaça e fantasia". No entanto, defendeu a construção de uma linha férrea que ligue Campinas, São Paulo e o Vale do Paraíba.

"O negócio do trem-bala é mais fumaça, é fantasia. O importante é a gente fazer acontecer. Isso sim foi coisa eleitoral, o trem-bala, porque isso não tem viabilidade prática", disse o candidato tucano. Para ele, um trem que ligue Campinas, São Paulo e o Vale do Paraíba teria mais viabilidade econômica.

Serra voltou a defender a concessão à iniciativa privada do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. "É preciso o governo federal trabalhar nisso, fazer uma concessão, que até o prefeito da cidade [Dr. Hélio, do PDT] apoia, e não perder mais tempo. Nós já perdemos quatro anos com Viracopos", disse.

Em uma entrevista ao programa humorístico "CQC", da TV Bandeirantes, Serra respondeu a brincadeiras e disse que não negaria dar um "beijinho" em sua adversária nas eleições presidenciais Dilma Rousseff (PT). Serra foi entrevistado por Mônica Iozzi depois da caminhada pelas ruas do centro de Campinas. Ele falou ao "CQC" por alguns minutos antes de entrar no carro que o levaria de volta para São Paulo.

Ele ouviu Iozzi dizer que o achava "conservadinho" para a sua idade. Ele tem 68 anos. Questionado se daria um "beijinho" em Dilma se a encontrasse hoje, como fez em outras ocasiões, Serra respondeu que só não fez isso porque não a encontrou. (Com agências noticiosas)