Título: Dilma reúne religiosos para rebater onda de boatos
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2010, Política, p. A6

Para combater uma campanha negativa de boatos disseminada pela internet e entre fiéis de igrejas cristãs, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, convidou ontem 27 representantes católicos e evangélicos de diversas correntes e garantiu que não tomará iniciativas de ampliar as possibilidades de aborto legal ou para permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dilma reafirmou ser cristã e católica, garantiu que pretende trabalhar em contato estreito com as igrejas, e prometeu parcerias na administração de programas sociais e "colaboração" para agir em casos como atrasos em liberações de verbas públicas a iniciativas de religiosos.

"É muito importante destacar que, no governo Lula, tivemos uma relação extremamente qualificada com todas as religiões e nós as vemos como grandes parceiras", enfatizou a candidata, que foi aplaudida pelo menos seis vezes durante a conversa de duas horas e meia com bispos, padres, pastores e outros líderes religiosos. Entre as manifestações de voto de autoridades religiosas, o presidente do Conselho Nacional de Pastores do Brasil e Presidente Nacional das Assembleias de Deus, bispo Manoel Ferreira divulgou uma nota de apoio "total e irreversível" a Dilma Rousseff.

Na nota, o bispo faz referência a dois dos boatos mais persistentes contra a candidatura Dilma, de que ela aprovaria projetos contra a fé evangélica e católica e de que teria dito que "nem Cristo" a impediria de chegar à Presidência. Como reafirmou a própria Dilma, em entrevista após o encontro com os religiosos, o bispo lembrou o compromisso da candidata em deixar para iniciativa do Congresso qualquer decisão que afete questões de fé e princípios éticos-religiosos. O bispo Manoel Ferreira disse ser uma "boataria cruel e mentirosa" a referência a Cristo.

Também convidado por Dilma, Dom Demétrio Valentini, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, alegou a distância de Brasília para mandar um representante, padre Gabrieli Cipriani, que levou à candidata uma carta do bispo exortando os fiéis a repudiar "o clima de acusações e calúnias perversas e fantasiosas, lançadas não importa contra quem". Sem declarar o apoio a candidata, o bispo católico defendeu a escolha livre dos eleitores, mas criticou as "versões da grande mídia, no mínimo tendenciosas" e o baixo nível da campanha eleitoral. Dom Valentini orientou os católicos a "desencorajar" os autores de mensagens anônimas na internet com "acusações gratuitas e injustas".

Dilma, sorridente, lembrou ser pessoalmente contra o aborto, mas defendeu a atuação do governo para atender as "milhares de mulheres" que abortam sem condições sanitárias adequadas. Ela rejeitou a proposta da candidata do Partido Verde, Marina Silva, de um plebiscito sobre o tema, por acreditar que dividiria a sociedade. "Qualquer que fosse o resultado, ninguém sairia ganhando."

O comando da campanha de Dilma constatou que um dos fatores para a queda nas preferência por Dilma, nas últimas pesquisas eleitorais foi uma forte campanha usando temas sensíveis entre os religiosos, como o boatos de perseguição a igrejas evangélicas, sobre a incapacidade até de Cristo de impedir a eleição da candidata e de futuras iniciativas para promover o aborto ou o casamento de homossexuais. Dilma contestou os rumores.

"É a tentativa mais uma vez de sair do submundo da política e denegrir uma pessoa", disse Dilma. "Como sabem que sou cristã, eu jamais usaria o nome de Cristo em vão, e sabem, que eu recusei sistematicamente a julgar qualquer processo eleitoral como encerrado." O esforço de conter a propagação dos boatos contou até com apoio do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, que postou em seu site na internet uma mensagem classificando como coisa "do diabo" os boatos.

Na reunião com a candidata, no comitê de campanha, no Lago Sul de Brasília, estavam o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), da Igreja Universal e sobrinho de Macedo e pelo menos quatro religiosos com mandato parlamentar: o presidente da Igreja Sara Nossa Terra, bispo Robson Rodovalho, deputado pelo PP-DF, o deputado federal pastor Manoel Ferreira (PR-RJ), da Assembleia de Deus, e o vereador Gabriel Chalita (PSB-SP), do movimento católico carismático Canção Nova, e o deputado Jefferson Campos (PSB-SP).