Título: Realização de segundo turno divide institutos de pesquisa
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2010, Política, p. A6

Primeiro ou segundo turno? Na reta final da corrida presidencial, os institutos de pesquisas estão oscilando em apontar quando a competição ao Planalto vai terminar. Depois de liderar com folga e chegar a 59% dos votos válidos, a petista Dilma Rousseff começou a cair nos últimos levantamentos, se aproximando do percentual de 50%, que não lhe garante a vitória antecipada.

Em pesquisa divulgada anteontem, o Datafolha foi o primeiro a registrar esta possibilidade. Dilma teria 51%. Como a margem de erro da pesquisa, realizada em apenas um dia (segunda, 27), é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, a presidenciável poderia ter 49% das preferências do eleitorado, o que levaria a disputa para o segundo turno.

Ontem, no entanto, as pesquisas CNI/Ibope e CNT/Sensus deram como prognóstico um cenário mais favorável à candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos institutos apontam que Dilma Rousseff teria 55% dos votos válidos, o que na pior da hipóteses, com a margem de erro, poderia ser 53%, pelo Ibope, ou 52,8%, pelo Sensus. Tanto um quanto outro levantamento foi feito em mais dias que o Datafolha, três - Ibope, entre 25 e 27, e Sensus, entre 26 a 28 - o que pode gerar diferenças nas aferições.

O resultado, porém, está longe de tranquilizar a candidatura governista. Dilma está muito perto do limite. Para sua preocupação, pesa o fato de a expressão "na pior das hipóteses" não se aplicar apenas à margem de erro das pesquisas. Os tradicionais 2 ou 3 pontos para mais ou para menos dão conta só do erro amostral, estatístico. Ocorre que, mesmo se as preferências do eleitorado forem mantidas, outros fatores podem atrapalhar a confirmação de uma vitória de Dilma no primeiro turno, caso a petista continue um pouco acima dos 50%.

Dois fatores relacionados ao processo de votação preocupam os governistas. O primeiro tem a ver com a sobrerrepresentação das intenções de votos dos líderes nas pesquisas. Geralmente, os resultados das urnas ficam abaixo das preferências expressas pelos entrevistados dos institutos, sobretudo quando o primeiro lugar tem mais apoio entre eleitores menos escolarizados, que erram mais ao digitar os números e acabam anulando o voto. É exatamente o caso de Dilma.

O segundo - uma novidade aprovada por iniciativa do PT mas que o partido tenta impedir, na Justiça, que entre em vigor - é a necessidade de apresentação de um documento com foto na hora de votar. A medida tem como objetivo um caráter moralizador: grande parte das fraudes eleitorais, como a compra de voto, é facilitada pelo frágil controle de identidade. Sem a exigência de documento com foto, um cidadão pode votar várias vezes no lugar de outras pessoas. Basta simular a assinatura do titular e percorrer seções diferentes para que não seja reconhecido pelos mesários. A proposta é um paliativo, enquanto a identificação biométrica não é universalizada. Mas o próprio PT voltou atrás. Temendo que a exigência crie dificuldades a seus eleitores, em boa parte oriundos dos estratos mais pobres e menos escolarizados, a legenda entrou com uma ação contra a lei. O pedido foi aceito, ontem, pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal, mas o julgamento foi suspenso após o pedido de vista de Gilmar Mendes.