Título: Comitê de Dilma avalizou saída de Erenice
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2010, Política, p. A10

O comitê eleitoral da candidata Dilma Rousseff (PT) avalizou a demissão da ex-ministra Erenice Guerra, a fim de evitar que o agravamento da crise contagiasse a campanha presidencial petista. Desde o sábado 11, quando circulou a revista "Veja" com acusações de tráfico de influência contra Erenice, tanto o Palácio do Planalto como o comitê temiam que novas denúncias fossem publicadas na imprensa.

Solução provisória, o ministro Carlos Eduardo Esteves Lima vai permanecer interino no cargo, pelo menos, até as eleições de outubro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer definir o nome do substituto antes de se conhecer o resultado das eleições presidenciais. Caso se confirme a vitória de Dilma, como apontam as pesquisas, o presidente pretende rever a decisão em conjunto com a então presidenta eleita. "Esse assunto tem mais interesse para o futuro do que para o atual governo", afirmou um ministro ao Valor. Durante reunião da coordenação política, ontem, o presidente Lula apresentou Esteves aos demais ministros e informou ter resolvido não escolher o sucessor definitivo de Erenice Guerra antes de concluída a disputa eleitoral.

A primeira opção de Lula para o lugar de Erenice foi Miriam Belchior, atual coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Convidada, Miriam recusou o cargo. A interlocutores do PT ela disse que sua nomeação a transformaria na "bola da vez". Sua avaliação é que a eleição está exacerbada e que o caso do assassinato do prefeito Celso Daniel, seu ex-marido, inevitavelmente voltaria à ordem do dia com sua posse na Casa Civil.

Miriam Belchior, na realidade, era a opção de Lula para a Casa Civil, quando a então ministra Dilma Rousseff deixou o cargo para se candidatar à Presidência da República. À época, o presidente disse a Dilma que decidira substituir os ministros que iriam disputar as eleições pelos respectivos secretários-executivos, com uma exceção: a Casa Civil. Ele queria nomear Miriam Belchior.

Dilma argumentou que, no caso, a exceção poderia servir de motivo de especulação sobre por que Erenice Guerra, a secretária-executiva da Casa Civil, não fora nomeada. Lula aceitou os argumentos de Dilma, mas fez questão de deixar o PAC sob a guarda da ex-mulher do prefeito Celso Daniel, morto em 2002, quando se preparava para assumir a coordenação da quarta campanha presidencial de Lula, nas eleições daquele ano.

Até sexta-feira, 10, Erenice desconhecia o que a revista "Veja" iria publicar sobre tráfico de influência na Casa Civil. No sábado, já com a revista nas bancas, ela telefonou para o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho: Aos prantos, declarou-se indignada e ofereceu a abertura de seus sigilos para comprovar sua inocência. Carvalho ainda perguntou se era "só isso ou vem mais". Erenice respondeu que não sabia. O chefe de gabinete de Lula, discretamente, sugeriu que ela saísse. Foi marcada uma reunião com o presidente para o dia seguinte, domingo.

No encontro com Lula, Erenice colocou o cargo à disposição. Lula, que em oito anos de mandato tomou a iniciativa de demitir apenas um ministro - Cristovam Buarque, da Educação -, respondeu que ela deveria reagir, se defender e "ir pra cima", de acordo com a expressão usada por um interlocutor do presidente. "Bateu, levou", teria sido a sugestão do presidente.

Erenice não só levou a sério como redigiu uma nota considerada desastrada, com a qual pôs a perder todo o esforço que então era feito pela campanha de Dilma: separar a campanha da crise na Casa Civil. A nota não só associava eleição e crise como ainda levava para o centro da discussão o candidato tucano José Serra - chamado "aético" e "derrotado". A campanha reclamou e Lula disse que Erenice tinha o direito de se defender. "Lula tucanou", dizem petistas ligados à campanha de Dilma Rousseff.

Entre os auxiliares mais próximos de Lula já se diz que alguns dos fatos imputados a Erenice e seus familiares seriam verdadeiros. O comitê e o presidente monitoram, por meio de pesquisas de opinião, o impacto da crise na campanha de Dilma.

A Controladoria-Geral da União reafirmou que vai investigar as denúncias de tráfico de influência contra Erenice. Serão investigados um suposto contrato firmado entre a MTA Linhas Aéreas e os Correios, a concessão autorizada pela Anatel para que a Unicel celular operasse no interior de São Paulo, o cancelamento de multas e concessão de exploração de ouro e calcário à empresa Matra Mineração e um suposto projeto de financiamento do BNDES para a ERDB energia eólica - todos contratos com suposta mediação de familiares da ministra.

A Casa Civil também formou uma comissão para investigar as denúncias. Composta por três servidores, ela terá 30 dias para apresentar seu parecer.