Título: Aliados de Dilma podem chegar a 60 no Senado
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2010, Política, p. A11

Com a experiência de oito anos no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, no período de pré-campanha: um senador vale por três governadores. Não se sabe como Lula chegou a essa equação política. Apenas por quê. Foi no Senado que seu governo enfrentou a maior resistência da oposição. É dali que Lula pretende remover os últimos obstáculos que restam para entregar um Senado domesticado para sua apadrinhada.

Caso vença a disputa presidencial, Dilma Rousseff terá no Senado uma maioria muito mais ampla do que a desfrutada por Lula. Herdará a faca - o Executivo - e um Legislativo feito queijo nas mãos.

A Câmara dos Deputados já está dominada. No Senado, o governo pode, finalmente, obter uma vantagem ampla sobre a oposição. Hoje, pode contar, na melhor das hipóteses, com 48 dos 81 senadores, um a menos que o necessário para passar uma reforma constitucional. Com a renovação de dois terços das cadeiras, que será feita neste domingo, os governistas poderão dominar o Senado e ocupar mais de 60 cadeiras.

A bancada da oposição, que tem 30 senadores, pode, em tese, até aumentar, em dois ou três senadores, num cenário de baixíssima probabilidade. No extremo oposto, também com menos chance de ocorrer, ela pode perder mais de 15 vagas, reduzindo-se à metade. O mais provável é que a queda fique entre um e outro, e a oposição saia com cerca de 10 cadeiras a menos.

As duas regiões que reúnem quase 60% do poder no Senado, a Norte e a Nordeste, são as maiores responsáveis pela desidratação. No Norte, o governo ampliará o domínio que já tem. Mas no Nordeste, ele quebra, de vez, a espinha dorsal da oposição. Enquanto hoje a situação é de empate, com 13 senadores governistas, 13 oposicionistas e um independente, a renovação poderá terminar com uma vantagem de 18 a 9.

Na região estão alguns dos alvos preferenciais da lista negra do presidente Lula, que se empenhou durante a campanha em derrotar seus principais inimigos no Senado. Heráclito Fortes (DEM-PI) e Mão Santa (PSC-PI) não devem se reeleger. Heloísa Helena (PSOL-AL) caiu nas pesquisas. Até Tasso Jereissati (PSDB-CE), que liderava com folga, está ameaçado. A onda governista fez com que o petista Walter Pinheiro, na Bahia, pulasse de terceiro para primeiro. Em Pernambuco e no Piauí, o governo pode tomar, de uma só tacada, as quatro vagas que são da oposição, caso Marco Maciel (DEM) e Mão Santa não se elejam.

Mas a estratégia e a vingança de Lula podem não ser completas. Graças à Paraíba, que pode eleger dois oposicionistas, e graças ao desempenho de José Agripino Maia (DEM), no Rio Grande do Norte. O Estado, aliás, é o único do Nordeste em que a oposição pode eleger um governador já no primeiro turno. Mas até a conquista de Rosalba Ciarlini (DEM) teria gosto agridoce. Sua vitória pode significar mais uma cadeira governista no Senado, pois Garibaldi Alves, pai, seu suplente, é do PMDB.

Na Região Norte, o destaque é a possível derrota de Arthur Virgílio (PSDB-AM), outro desafeto de Lula, que foi ultrapassado por Vanessa Grazziotin (PCdoB). O Amazonas também é o lugar do provável campeão nacional de votos em termos percentuais. É o ex-governador Eduardo Braga (PMDB), que aparece distante, com 80% das preferências do eleitorado. Já o Amapá tem a disputa mais embolada do país, com quatro candidatos empatados, com uma diferença de apenas 4 pontos percentuais. No Norte, o governo tende a aprofundar o seu domínio, de 13 a 8 para um placar entre 16 e 19 senadores contra 2 a 5.

Em meio a tantas perdas, dois Estados, além da Paraíba, se apresentam como os bastiões da oposição. Em Goiás e Minas, as quatro vagas se encaminham para a oposição, juntando-se às outras duas que ela já tem na Casa.

Minas, cujo mandato de Eliseu Resende (DEM) vai até 2015, deve eleger os favoritos Aécio Neves (PSDB) e o ex-presidente Itamar Franco (PPS). Esta composição da bancada mineira, com um senador de cada partido da oposição, é um contraste no Sudeste. Os outros três Estados da região, pelo que indicam as pesquisas, devem eleger apenas governistas. Com a liderança de Lindberg Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB), no Rio, e de Marta Suplicy (PT) e Netinho (PCdoB), em São Paulo, e de Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço (PMDB), no Espírito Santo, todos os nove senadores destes Estados continuam sendo governistas. O ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), outro baluarte da oposição, pode ter suas expectativas frustradas.

Nas regiões Sul e Centro-Oeste, o predomínio do governo é menos contundente e há mais equilíbrio. São, por outro lado, regiões com menos peso: apenas sete Estados (21 vagas). Em Mato Grosso, a disputa pela segunda vaga entre o tucano Antero Paes de Barros e o petista Carlos Abicalil - que ultrapassou o adversário numericamente na reta final - pode significar outra baixa importante para oposição. Barros, embora adversário de Lula, chegou a usar imagens antigas do presidente o elogiando.

São táticas de sobrevivência numa eleição em que Lula deu o tom e escolheu o campo de batalha para realizar sua vingativa estratégia. Caso Dilma se eleja, o ódio de Lula aumentará sua herança.