Título: Crescimento chinês deve garantir vitória governista no ES
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2010, Política, p. A15

Um crescimento econômico "chinês" e um governador que soube articular sua sucessão devem levar as eleições no Espírito Santo a se definir em primeiro turno. A última pesquisa de intenção de voto Ibope/TV Gazeta apontou para a vitória de Renato Casagrande (PSB) com 61% das intenções de voto, muito à frente do segundo colocado, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), com 12%. Brice Bragato (PSOL) estava com 2%, Dr. Gilberto (PRTB) e Avelar (PCO) com 1% cada. Votos brancos e nulos somaram 7% e indecisos, 10%. As duas vagas no Senado devem ficar com Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço (PMDB). Nas majoritárias, a candidata petista Dilma Rousseff está na frente, com 39% das intenções de voto, ante 25% de José Serra e 13,4% de Marina Silva. Os números são da última pesquisa de intenção de voto, feita pela consultoria Futura a pedido do jornal "A Gazeta".

No último debate entre os candidatos a governador, realizado terça-feira pela TV Gazeta, afiliada da Rede Globo, ficou clara a estratégia dos dois principais concorrentes: enquanto Luiz Paulo tentava reproduzir no âmbito local as rivalidades entre PT e PSDB a nível nacional, Casagrande fazia o oposto, tentando até se dissociar da imagem do PT, apesar de fazer parte da ampla coligação armada para apoiar Dilma no Estado.

A terceira colocada, Brice Bragato, do PSOL, foi tão crítica aos dois candidatos líderes quanto têm sido todos os representantes de seu partido nas campanhas pelo país, cobrando promessas já feitas em outras campanhas e alertando para a presença de candidatos corruptos e adeptos de "balcão de negócios" políticos na frente que apoia Casagrande.

Tanto Casagrande quanto Luiz Paulo disputam o apoio daquele que é considerado o grande vencedor das eleições no Espírito Santo, o governador Paulo Hartung (PMDB), que se licenciou do cargo para ajudar na campanha de seus candidatos a deputado federal e senador. A provável vitória de Casagrande e Ferraço deve-se a uma bem-sucedida articulação.

No início do ano, Ferraço, que é vice-governador licenciado, liderava as intenções de voto e tinha o apoio de Hartung para sucedê-lo, porém estava estagnado nas pesquisas. Já Casagrande, que estava em segundo lugar, porém muito próximo a Ferraço, ganhava pontos com o eleitorado a cada dia. Em abril, Casagrande aproveitou um momento em que seu partido, o PSB, retirou a pré-candidatura do deputado Ciro Gomes à Presidência da República e impôs seu nome para ajudar a montar o palanque de Dilma Rousseff no Estado.

Percebendo o avanço de Casagrande nas pesquisas, Paulo Hartung desenhou um novo quadro, sacrificando a candidatura de Ferraço, para abrir espaço para o candidato do PSB, arrematando assim a costura da base de apoio estadual de Dilma Rousseff. O governador, por sua vez, já havia surpreendido a todos ao anunciar, um mês antes, que havia desistido de concorrer ao Senado este ano e que permaneceria até o fim do mandato. Agora, segundo fonte credenciada no governo capixaba, Hartung já negociou uma compensação em um eventual governo Dilma com um posto de relevância em uma estatal federal "perto de casa", ou seja, no Espírito Santo ou no Rio de Janeiro. Enquadram-se nesse perfil Petrobras e BNDES.

O cenário eleitoral capixaba foi altamente influenciado pela expansão em alta velocidade da economia estadual, admite o prefeito de Vitória, João Coser (PT). "A gestão feita pelo governador representa e expressa esse crescimento", disse ele, que também é presidente da Frente Nacional de Prefeitos e coordenador da campanha da Dilma Rousseff no Espírito Santo.

De acordo com dados da Federação das Indústrias local (Findes), a produção industrial cresceu nada menos que 35% de janeiro a julho de 2010 comparado ao mesmo período do ano passado. O crescimento do PIB do Estado para 2010 está estimado entre 11,5% a 12%, segundo o economista-chefe da Findes, Antonio Fernando Doria Porto, lembrando que há investimentos programados de R$ 130 bilhões no Estado até 2020.

"Quando o povo tem emprego e se sente seguro economicamente, a tendência é votar pela continuidade", afirmou Lucas Izoton, presidente da Findes. "Aqui, onde o governador tem 88% de aprovação, ambos os candidatos que estão à frente nas pesquisas e representam 98% dos votos válidos, prometeram uma continuidade ainda maior", diz o empresário.

Segundo o prefeito Coser, contou também a aliança que juntou 16 partidos, 78 prefeitos, o apoio de empresários e setores sociais a Casagrande e Ferraço, que se beneficiaram desse "caldo de militância". Com tanta gente aliada, a frente de oposição liderada pelo PSDB e que conta apenas com PPS e DEM, "ficou sem discurso" nas palavras de Coser. Analistas disseram à imprensa local que o PSDB capixaba corre o risco de não eleger nem um representante legislativo.

As perspectivas de crescimento acelerado do Estado trouxeram para o debate político uma questão chave: a necessidade de treinamento de mão de obra local para dar conta dos novos investimentos. A Findes calcula que os novos empreendimentos vão demandar algo entre 40 mil e 45 mil profissionais treinados.