Título: Alagoas chega à reta final com tríplice empate
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2010, Política, p. A15

Um candidato à reeleição e dois ex-governadores disputam uma das eleições mais indefinidas do país e da história de Alagoas. Pelas ruas de Maceió, há declarações de votos, carros de som e militância política com igual intensidade dos três principais candidatos: Fernando Collor (PTB, ex-presidente da República que sofreu impeachment), Ronaldo Lessa (PDT) e Teotônio Vilela Filho (PSDB). A última pesquisa Ibope, realizada entre os dias 11 e 13 de setembro, apontava Collor à frente com 29% das intenções de voto, seguido de Ronaldo Lessa com 28% e Teotônio com 27%. Mas sondagens internas das três campanhas asseguram êxito para o próprio candidato, impedindo uma previsão mais concreta sobre quem vai disputar o segundo turno, se houver. Para o Senado, uma surpresa de última hora, ainda não detectada pelas pesquisas de intenção de voto: Heloísa Helena (PSOL) perde terreno, vítima de ataques diretos de vários candidatos ao Senado e ao governo e pode não ser eleita. Apresentada como irascível, Heloísa - odiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde a expulsão do PT em 2003 - é retratada no horário eleitoral de Benedito de Lira (PP) como uma maritaca (espécie de arara nordestina) que só reclama dos outros e da vida.

No Ibope, entre 11 e 13 de setembro, Renan Calheiros tinha 54% das intenções de voto; Heloísa, 41%; e Benedito, 35%. Os ataques no horário eleitoral, idealizados pelo marqueteiro Rui França, somados à gravação de Lula pedindo votos para o candidato do PP no horário eleitoral, com o objetivo de atingir Heloísa, fortaleceram a candidatura de Benedito. "Não será surpresa se Benedito tiver mais votos até mesmo que Renan, o que seria péssimo para este. Renan quer ser o único interlocutor privilegiado de Alagoas com Lula", afirmou um aliado de Teotônio Vilela.

Na disputa para o governo, a indefinição é bem maior. Collor começou liderando a campanha, com quase 40% das intenções de voto. Mas repetiu a maldição de iniciar uma eleição no limite máximo de votos e cair paulatinamente com o andamento da disputa. Pesa contra o ex-presidente a maior rejeição entre os três candidatos: aproximadamente 43%. Mas é forte entre os eleitorado mais pobre e, para provar seu carisma, não participa de carreatas - faz toda a campanha a pé, abraçando eleitores e repetindo o estilo messiânico que o levou à Presidência da República.

O Ministério Público Eleitoral pediu sua impugnação por fraudar uma pesquisa realizada pelo Instituto Gape e encomendada pelo grupo de comunicação controlado por ele no Estado, colocando-o muito à frente dos adversários e divulgada no mesmo dia que a do Ibope. "Não tem interferência nenhuma, tanto que nas eleições de 2006 o Gape acertou o resultado e o Ibope não", defendeu-se Collor, durante debate na TV Gazeta, afiliada da Rede Globo, terça à noite.

No mesmo dia, veio de Brasília uma notícia que pode dar um novo impulso à candidatura Lessa. O ministro do TSE, Hamilton Carvalhido, votou favoravelmente ao pedetista no processo de aplicação a ele da lei da Ficha Limpa. O ex-governador foi condenado, em 2004, a três anos de inelegibilidade por ter prometido aumento aos professores estaduais em um ato de campanha do então candidato à prefeitura de Maceió, Alberto Sexta-Feira (PSB). "Collor tem 65 processos nas costas, Teotonio foi pego na Operação Navalha. E o ficha suja sou eu, que anunciei aumento de professores?" Protesta Lessa.

Teotônio assegura que nada tem a ver com a Operação Navalha. Segundo ele, quando seu nome apareceu relacionado à construtora Gautama, foi a Brasília explicar-se com a ministra Ângela Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e que tudo foi esclarecido. Depois de muitas dificuldades nos primeiros quatro anos - além da Operação Navalha, Teotônio enfrentou uma greve da Polícia Civil e enchentes que arrasaram o Estado - o tucano garante que estará no segundo turno. "Eu sou o único que realmente quer ser governador de Alagoas. Lessa queria ser senador, foi obrigado a disputar o Senado, e Collor é um jogador que se recusou a ficar fora do jogo", afirma o governador.