Título: Eduardo Campos está a um passo da reeleição
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2010, Política, p. A15
Há quatro anos, o PT esteve próximo de assumir pela primeira vez o comando da esquerda pernambucana, há décadas dominada pelo PSB de Miguel Arraes. Nas eleições de 2006, os petistas já tinham a Prefeitura do Recife e seu candidato ao governo do Estado, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT), liderava as pesquisas de intenção de voto. No entanto, ele acabou abatido por denúncias de corrupção - mais tarde julgadas improcedentes -, o que abriu caminho para a vitória do atual governador, Eduardo Campos (PSB). Com a iminente reeleição de Campos no domingo, o PSB reafirmará sua posição de protagonista na chamada Frente Popular de Pernambuco, criada nos anos de 1950. Mais poderoso, o governador continuará dando as cartas no Estado, o que desagrada sensivelmente o PT local. Como agravante, os petistas podem ter que conviver com a sombra de tucanos cada vez mais dispostos a integrar a base de apoio ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Executivo Estadual.
"Acredito que essa eventual presença do PSDB possa ser usada por Eduardo mais como uma forma de mostrar ao PT quem é que manda. Será um fantasma para os petistas", analisa Túlio Velho Barreto, cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco.
Apesar de um provável bom resultado colhido nas urnas, caberá a um controverso PT pernambucano a tarefa de repensar sua estratégia de atuação, sob o risco de se eternizar no indesejado papel de partido satélite do PSB. "Acredito que sairemos fortalecidos, com mais deputados estaduais, manutenção da bancada na Câmara Federal e um senador. Ainda assim, teremos esse drama para nos mantermos como ator importante no Estado", alertou um petista graduado.
Segundo ele, o maior desafio do partido neste sentido será garantir sua permanência à frente da Prefeitura do Recife, onde está desde 2001. Entretanto, a gestão do atual prefeito João da Costa (PT) é bastante criticada pelos próprios petistas, que temem que um PSB turbinado por Eduardo Campos lance candidato próprio em 2012. "Nossas pretensões dependem de permanecermos como esse espaço importante, mas temos a situação complicada de uma gestão que hoje teria muita dificuldade de ser reeleita", explicou o líder petista.
Ainda assim, ele acredita que Eduardo Campos terá cautela e não avançará sobre a prefeitura. A principal justificativa é de que o governador tem pretensões nacionais para 2014 e uma crise com o PT não seria interessante. "Não creio que ele (Campos) partirá para essa disputa. Até porque daqui a quatro anos estará saindo do poder, vai concorrer sem a caneta na mão, o que é bem mais complicado", reiterou o petista.
Na mesma linha, Velho Barreto avalia que Campos irá esperar que o PT resolva suas intermináveis divergências internas para se posicionar em relação ao pleito municipal. Alerta, no entanto, para o risco de o governador acabar optando por lançar um nome do PSB, caso a candidatura petista não reúna a consistência necessária para barrar qualquer chance da oposição.
Após uma provável derrota acachapante no domingo, a oposição em Pernambuco terá que juntar os cacos antes de elaborar qualquer estratégia futura. Além da eleição propriamente dita, os oposicionistas perderão lideranças importantes, como o ex-prefeito do Recife Roberto Magalhães (DEM) e o ex-deputado federal José Mendonça (DEM), que decidiram deixar a política. Outro nome de peso, o senador Marco Maciel (DEM) também deve sair de cena por algum tempo, caso se confirme a derrota nas urnas. Com a esperada dissidência do PSDB, outra baixa será o senador tucano Sérgio Guerra.
"Acredito que a oposição terá que se reinventar, porque o termo "se reorganizar" não dá dimensão do tamanho do problema", avaliou Velho Barreto.