Título: Wagner está perto da vitória na Bahia
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2010, Política, p. A15

Numa eleição sem a histórica divisão de ex-carlistas e anticarlistas, pois os grupos se misturam nas chapas, o governador da Bahia Jaques Wagner (PT) tem boa chance de reeleição no primeiro turno, segundo pesquisas. Como em 2006, quando venceu após virada surpreendente, seu trunfo é o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para beneficiar Wagner, a candidata Dilma Rousseff (PT) descartou publicamente a candidatura do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) - o que provocou confronto ainda não resolvido com o PMDB nacional.

"Se Wagner vencer, não foi ele quem venceu. Foi Lula", diz Geddel. "Havia um entendimento nacional, pactuado por meu partido. Foi uma guinada", completa. Mesmo assim, ele diz manter apoio a Dilma, para "honrar sua posição".

Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, Wagner aparece com 50% das intenções de voto. O ex-governador Paulo Souto (DEM), com 19%. Geddel vem em terceiro lugar, com 15%. Bassuma (PV) tem 2%. Mantido esse quadro, o governador teria 57% dos votos válidos. Pesquisa Ibope recente chegou a registrar empate de Geddel e Souto na segunda colocação.

Souto e Geddel tentam levar a disputa para o segundo turno. Mas Wagner é beneficiado pelos mesmos ventos que o elegeram em 2006. As pesquisas não captam um ambiente político nacional capaz de fortalecer Souto, aliado do candidato a presidente do PSDB, José Serra. "Sou parte de um projeto político que inaugurou nova forma de governo em 2003, e acredito que esse projeto deve continuar. Aproveitamos bem a parceria", diz o governador.

Wagner fez aliança com setores do grupo que era ligado ao senador Antonio Carlos Magalhães - um dos maiores líderes da Bahia, morto em 2007 -, ampliando seu leque de forças no interior. Essa aliança é representada na chapa pelo candidato a vice, Otto Alencar (PP), que foi próximo de ACM. Liderança política importante no Estado, embora estivesse afastado da política havia seis anos, durante os quais foi conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) - vaga conseguida por ACM -, Alencar levou para a chapa o apoio de mais de cem prefeitos e lideranças.

A vitória de Wagner em 2006 encerrou um ciclo de 16 anos em que a Bahia esteve sob o comando do carlismo. Hoje, representantes do grupo que seguia ACM estão espalhados nas três principais chapas. Paulo Souto foi eleito duas vezes governador (1994-97 e 2003-2007) com apoio de ACM. E Geddel, um dos seus maiores inimigos, tem em sua chapa outro ex-carlista: o senador César Borges (PR), candidato à reeleição.

Geddel e Borges afirmam que Lula e Dilma "romperam" o compromisso de respeito aos dois palanques aliados na Bahia. O presidente e sua candidata foram a comício e pediram votos para Wagner e os dois candidatos a senador em sua chapa - Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB) - e não participaram de evento de campanha da chapa de Geddel e Borges.

A "facada pelas costas" veio no dia 21, quando Dilma declarou em Salvador apoio exclusivo a Wagner. O presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), candidato a vice-presidente na chapa de Dilma, veio à capital baiana fazer uma declaração pública de apoio a Geddel. Atribuiu a afirmação da ex-ministra a uma "opção partidária". O recado foi para o PT nacional: o PMDB tomou para si as dores de Geddel e o confronto foi partidarizado.

Líder das pesquisas desde o início, Borges mostrou irritação. Diz que formou chapa com Geddel num entendimento com o governo de que seriam aliados. "O acordo foi rompido. Talvez esteja forte o desejo de hegemonia."

A disputa está mais acirrada pelas duas vagas de senador. De acordo com o Datafolha, Borges e Lídice estão tecnicamente empatados com 34% das intenções de voto cada um. Pinheiro vem logo atrás, com 30%. O deputado José Carlos Aleluia (DEM) aparece em quarto lugar, com 13%.

Com três anos e oito meses de governo, Wagner tem gestão aprovada por 43% da população, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha entre os dias 20 e 23 de julho. Seus adversários alegam incapacidade de atrair investimentos e ineficiência na saúde e segurança pública. O governo informa que foram investidos R$ 5,1 bilhões na segurança pública e atribui o aumento da violência a um crescimento que vem de uma década.

Quanto à política de atração de investimentos, cita que empresas como Ambev, Ford e Braskem estão ampliando suas unidades no Estado. "Acho curioso. Dizem que não atraímos investimento. Mas nosso governo está criando 251 mil novos empregos contra 242 mil em 12 anos. Essas pessoas estão trabalhando onde? Nos investimentos trazidos para cá."

A Bahia é o quarto maior colégio eleitoral, com 9,5 milhões de eleitores. É o Estado com mais beneficiados pelo Bolsa Família (13,94% das famílias atendidas no país).