Título: Ronda do Quarteirão puxa voto no Ceará
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2010, Política, p. A15

Um dos principais cabos eleitorais do governador Cid Gomes (PSB) tem sido um carro Hilux cinza que anda 24 horas por dia pelas ruas do Estado. Na verdade, são centenas de veículos. Mas não se trata de nenhuma ação planejada para a campanha eleitoral do candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto. Os carros fazem parte de um programa de governo lançado por Cid em 2007, o Ronda do Quarteirão. Espécie de delegacia ambulante, cada caminhonete circula o dia inteiro em uma área de, no máximo, 3 quilômetros quadrados, o que equivale mais ou menos a um bairro, em todas as cidades com mais de 50 mil habitantes. Dentro da Hilux, equipada com computador e câmeras, estão três policiais que podem ser acionados diretamente pela vizinhança por meio de um número de telefone distribuído pelo bairro em um panfleto com direito a foto dos policiais, para que a população possa identificá-los.

O programa de segurança pública logo caiu no gosto dos cearenses, que, segundo as pesquisas, podem no domingo reeleger Cid ainda no primeiro turno. Paradoxalmente, porém, a ação da Hilux, um dos maiores puxadores de votos do governador, não está se refletindo nos índices de violência do Estado, fato já admitido publicamente por Cid. Os homicídios seguem em alta, com 22,5 mortes para cada 100 mil habitantes, a 14ª posição do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"Por incrível que pareça, a Hilux teve um impacto positivo na percepção de segurança das pessoas, mesmo com isso não se traduzindo em números. Pode estar havendo um gasto não adequado no policiamento do Estado", diz César Barreira, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência, da Universidade Federal do Ceará.

Desde 2007, o governo estima ter desembolsado cerca de R$ 500 milhões em segurança pública, o que envolve a compra das caminhonetes e também a contratação de 4 mil policiais. Além disso, neste ano, também foi inaugurada uma delegacia especializada em homicídios, fato que pode interferir nas estatísticas futuras de violência.

Os gastos com segurança equivaleram a 7% dos investimentos totais do governo Cid nos quatro anos de mandato, que somam R$ 6,9 bilhões, mais do que a soma dos investimentos das duas últimas gestões. É com essa cifra que o governador-candidato quer derrotar nas urnas aqueles que até pouco tempo foram seus aliados.

O ex-governador Lúcio Alcântara (PR), que está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, apoiava Cid até as eleições de 2006, quando cada um decidiu seguir carreira solo em busca do Palácio Iracema. Outro antigo parceiro é Marcos Cals (PSDB), que foi secretário de Justiça do governo Cid até março e agora aparece apenas na terceira colocação no pleito, mesmo sendo apoiado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB).

Frente aos antigos aliados, Cid quis destacar durante a campanha eleitoral - coordenada pelo irmão e deputado federal Ciro Gomes (PSB) - onde aplicou os recursos nos quatro anos de mandato. Na propaganda de televisão, disse que transformou o Ceará em "um canteiro de obras". O governador contabiliza 3.800 obras, que vão de pistas de skate, metrô e estradas a um aquário que pretende ser o maior da América Latina.

No campo social, Cid diz que sua "menina dos olhos" é a educação. O governador implantou 51 escolas profissionalizantes e em tempo integral em todo o Estado, com a consultoria do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE), fundado pelo ex-presidente da Philips Marcos Magalhães. A primeira turma de alunos se forma neste ano, após um período de estágio obrigatório. "O objetivo é preparar a mão de obra para o conjunto de empreendimentos que está chegando. A educação está no contexto da atração dos grandes investimentos", afirma Clodoveu de Arruda, coordenador do plano de governo de Cid.

Segundo as pesquisas eleitorais, o candidato à reeleição tem grandes chances de se consagrar vencedor já no domingo, mesmo depois de denúncia feita pela revista "Veja", de que ele teria participado de um esquema de desvio de recursos de prefeituras do Ceará. Levantamento do Datafolha/O Povo, realizado entre os dia 23 e 24 de setembro, mostrou Cid com 52% das intenções de voto. Lúcio tinha 20%, e Cals, 10.

Se o cenário para o governo está mais tranquilo, o embate mais acalorado desta eleição no Ceará se dará na disputa pelo Senado. A última pesquisa divulgada pelo Datafolha/O Povo aponta Tasso Jereissati (PSDB) com 44%, empatado tecnicamente com Eunício Oliveira (PMDB), com 41%, e que, por sua vez, também está em situação de empate com José Pimentel (PT), com 36%. A margem de erro é de três pontos percentuais.

Tasso, que foi aliado de Cid e de Ciro por 25 anos, rompeu com os irmãos depois que eles decidiram lançar dois nomes ao Senado, atendendo aos pedidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, forte opositor do senador. Mesmo assim, Tasso começou a disputa liderando as intenções de voto, com 59%. Porém, depois que Lula passou a participar mais ativamente da campanha de Eunício e Pimentel na televisão, o candidato do PSDB começou a perder espaço naquela que ele considera a eleição mais difícil de sua vida.