Título: Onda verde surpreende e leva disputa presidencial ao 2º turno
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A2
A eleição presidencial que se desenhava como uma polarização entre o PT e o PSDB foi inundada pela tsunami verde. Com o surpreendente desempenho de Marina Silva (PV) - que aparecia com pouco mais de 10% nas pesquisas de opinião e obteve quase 20% da votação -, a corrida ao Planalto será decidida no segundo turno, em 30 de outubro. O maior beneficiado, o tucano José Serra, que alcançava 32,6% dos votos, enfrentará a candidata governista Dilma Rousseff (PT), que perdeu força na reta final e marcava apenas 46,9%, com 99,83% das seções apuradas. Marina estava com 19,3%.
A expectativa de que Dilma fosse o candidato a presidente com a melhor votação percentual num primeiro turno desde a eleição de 1989 não se confirmou. Pelo contrário. Seu apoio ficou apenas um pouco acima do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que venceu o primeiro turno de 2002 com 46,4%.
Já Marina Silva conseguiu um feito. Sua votação é a maior alcançada por um candidato de terceira via, também desde 1989. Supera a de Anthony Garotinho, que chegou a 17,86%, em 2002. Com a voz mansa e sem o mesmo estardalhaço, Marina amealhou quase três vezes mais votos do que Heloísa Helena (PSOL), em 2006.
A contínua queda nas abstenções, verificada nas últimas eleições, foi quebrada. De 21,5%, em 1998, 17,7%, em 2002, e 16,7%, em 2006, voltou a subir agora, para 18,11%.
Essa era uma possibilidade que preocupava a candidatura governista e pode ter contribuído para o resultado desfavorável a Dilma Rousseff. A necessidade de apresentação de um documento com foto - o que poderia fazer com que os eleitores mais pobres deixassem de ir às urnas - fez o PT pedir ao Supremo Tribunal Federal a derrubada da lei. O pedido foi aceito, mas a divulgação das novas regras pelo TSE ocupou apenas os últimos dias no rádio e na televisão.
Curiosamente, a votação de Dilma e de Serra seguiu a geografia eleitoral de 2006, quando Lula enfrentou Geraldo Alckmin, após o escândalo do mensalão e na esteira do episódio do dossiê dos aloprados. Dilma, cuja candidatura também enfrentou pesado bombardeio com os escândalos na Receita e de sua ex-braço-direito, Erenice Guerra, conseguiu reter o apoio no Norte e no Nordeste. Venceu na maioria dos Estados, mas perdeu no Acre e em Rondônia. Serra avançou nas regiões Sul, onde venceu no Paraná e em Santa Catarina, e no Centro-Oeste, onde ganhou no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul. O melhor desempenho de Marina Silva foi no Distrito Federal, onde ficou em primeiro, com 41%, e no Rio de Janeiro, onde ficou em segundo e amealhou 31% dos votos. A melhor votação percentual de Dilma foi no Maranhão: 68%. A petista venceu em 19 estados.